Canadá também espionou o Brasil
Brasil exige explicações do Canadá sobre espionagem, diz Dilma. Documentos vazados por Snowden indicam que agência espionou Ministério de Minas e Energia com apoio dos EUA
A presidente Dilma Roussef disse nesta segunda-feira (07/10) que o Itamaraty vai exigir explicações do Canadá sobre seu envolvimento na espionagem ao Ministério de Minas e Energia, conduzida em parceria com os Estados Unidos. A denúncia foi realizada neste domingo (06/10) por reportagem do programa Fantástico, que mostrou documentos vazados pelo ex-analista da NSA (Agência Nacional de Segurança norte-americana) Edward Snowden.
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“A espionagem atenta contra a soberania das nações e a privacidade das pessoas e das empresas”, escreveu a presidente em sua conta de Twitter nesta manhã. “Isso é inadmissível entre países que pretendem ser parceiros. É urgente que os EUA e seus aliados encerrem suas ações de espionagem de uma vez por todas”, reiterou. Em outra postagem, Dilma garantiu que a diplomacia brasileira vai exigir explicações do governo canadense.
Segundo as informações divulgadas, a Agência Canadense de Segurança em Comunicação (CSESC, na sigla em inglês) espionou a rede de comunicações do Ministério de Minas e Energia do Brasil, incluindo telefonemas, e-mails e consultas na internet. Os oficiais canadenses exibiram as informações em junho de 2012 em uma conferencia para agencias de espionagem de cinco países, EUA, Inglaterra, Canadá, Austrália e Nova Zelândia – o grupo conhecido como Five Eyes (Cinco Olhos, na tradução em português).
Para Dilma, a espionagem teve como finalidade objetivos econômicos e estratégicos desses países e organizações privadas aliadas. “A reportagem aponta para interesses canadenses na área de mineração”, escreveu a presidente no Twitter. “Tudo indica que os dados do NSA são acessados pelos cinco governos e pelas milhares de empresas prestadoras de serviços com amplo acesso a eles”, explicou. O Canadá é sede de algumas das maiores empresas de mineração do mundo e as informações do Ministério de Minas e Energia podem servir, por exemplo, a companhias interessadas em obter vantagens em leilões de energia.
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A presidente brasileira ainda disse que o governo brasileiro vai reforçar seu sistema de proteção de dados. “Determinei ao ministro [de Minas e Energia, Edison] Lobão, rigorosa avaliação e reforço da segurança desses sistemas”, postou ela.
Ainda no domingo (06/10), logo após a veiculação da reportagem, Dilma escreveu, em sua conta no Twitter, que irá enviar a proposta de um marco civil internacional às Nações Unidas, assim que o marco da internet brasileiro for aprovado. Segundo a presidente, as novas medidas são importantes para “ampliar a proteção da privacidade dos brasileiros”.
Dilma também mencionou o livro do jornalista James Bamford, de 2008, que relata os “métodos modernos de espionagem da NSA sobre todos os países”. Segundo ela, uma conclusão do livro é que “a capacidade tecnológica para espionar com total descontrole sobre quem acessa os dados” aumentou. “O livro é de 2008. Mostra que vem ocorrendo há mais tempo o que apareceu agora: espionagem a cidadãos brasileiros (inclusive eu), companhias e ministérios”, escreveu a presidente.
O ministro Edison Lobão também emitiu uma nota nesta segunda-feira (07/10), repudiando a espionagem. “A invasão dos sistemas de comunicação e de armazenamento de dados do Ministério de Minas e Energia é grave, na medida em que sugere a tentativa de obtenção de informações estratégicas relacionadas com as áreas de atribuição da pasta, e merece o nosso repúdio”, disse ele.
Itamaraty convoca embaixador do Canadá no Brasil e manifesta “repúdio” por espionagem
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, convocou nesta segunda-feira (07/10) o embaixador do Canadá, Jamal Khokhar, a quem transmitiu a “indignação” de seu governo pela espionagem a empresas e instituições brasileiras, sobre o qual exigiu amplas “explicações”. Uma denúncia do programa “Fantástico”, da TV Globo, mostrou documentos vazados pelo ex-analista da NSA (Agência Nacional de Segurança norte-americana) Edward Snowden e afirmou que o país espionou o Ministério de Minas e Energia.
Segundo uma nota oficial divulgada pela chancelaria brasileira, durante o encontro Figueiredo “manifestou ao embaixador canadense o repúdio do governo brasileiro frente a essa grave a inaceitável violação da soberania nacional e os direitos de pessoas e empresas”.