A política das superstições: símbolos, fé e poder popular

Quando o amuleto entra na urna
No Brasil, é comum ouvir que “religião e política não se misturam”, mas a história — e o cotidiano — mostram o contrário. Desde o uso de símbolos religiosos em campanhas eleitorais até a invocação de santos, bênçãos ou “proteções divinas” nos palanques, a política brasileira está profundamente entrelaçada com o imaginário mágico e supersticioso popular. E isso não se limita à religião institucionalizada: amuletos, simpatias, signos, bichos da sorte e até cores usadas em determinados dias fazem parte das escolhas políticas — por parte tanto de eleitores quanto de candidatos.
O fenômeno é mais visível em tempos de crise, quando a incerteza impulsiona a busca por proteção, sinal ou milagre. A superstição política não é um desvio irracional: ela é, em muitos casos, uma estratégia de sobrevivência simbólica diante da instabilidade social. A fé, mesmo que não religiosa, pode ser uma forma de manter esperança e pertencimento num sistema que frequentemente marginaliza e silencia.
Políticos e seus rituais privados (e públicos)
Muitos políticos brasileiros já relataram práticas particulares de superstição: desde entrar com o pé direito em comitês eleitorais até consultas com cartomantes antes de debates. As campanhas eleitorais, em especial, são carregadas de gestos simbólicos — a escolha do número, a cor da gravata, o dia do lançamento da candidatura ou a trilha sonora usada na entrada do candidato.
Embora tais práticas pareçam banais, elas desempenham um papel político fundamental: criam narrativa, constroem identificação emocional e, muitas vezes, produzem coesão simbólica entre o líder e sua base. Isso explica, por exemplo, o uso crescente de figuras alegóricas e animais simbólicos em materiais de campanha, apelando diretamente ao inconsciente coletivo e às tradições populares.
A superstição como forma de resistência
Entre a população, especialmente nas periferias e zonas rurais, a superstição cumpre também um papel político de resistência. Em contextos onde o Estado é ausente ou ineficaz, rituais, simpatias e práticas simbólicas oferecem sentido, pertencimento e, por vezes, direção política. O uso de velas, rezas e promessas antes das eleições, por exemplo, pode parecer pessoal — mas carrega uma dimensão coletiva, pois expressa uma forma de participação política baseada na esperança e no vínculo com o transcendente.
O sincretismo entre política e magia é ainda mais evidente quando observamos manifestações culturais populares. Festas, procissões, batuques, sambas e cordéis muitas vezes criticam, defendem ou narram a política a partir de arquétipos mágicos. O político corrupto é retratado como “encantado”, “enfeitiçado pelo poder” ou “vendido ao demônio”. O candidato honesto, por sua vez, é “iluminado”, “protegido” ou “abençoado pelos orixás”.
A nova estética simbólica digital
Com a popularização da comunicação política digital, os símbolos mágicos e supersticiosos ganharam nova roupagem. Emojis, gifs, filtros e avatares com elementos como coelhos, moedas douradas, olhos que tudo veem ou mãos em posição de oração são usados por partidos, influenciadores e eleitores para expressar crenças e intenções políticas de forma lúdica, mas potente.
Esse movimento não acontece só no Brasil. O uso de figuras da sorte como o coelho ou o trevo de quatro folhas em campanhas publicitárias e mobilizações digitais se intensificou nos últimos anos, incorporando códigos afetivos que escapam ao discurso racional. Um exemplo curioso é o jogo Fortune Rabbit, disponível na plataforma https://www.vbet.bet.br/pb/casino/game-view/420018912/fortune-rabbit, que utiliza a figura do coelho como símbolo de sorte e prosperidade, com uma ambientação visual inspirada em festivais orientais. Embora em outro contexto, ele ilustra como o uso de elementos supersticiosos segue eficaz para envolver emocionalmente o público e evocar desejos coletivos — o que também vale para campanhas políticas.
Entre o ceticismo e o encantamento
Há quem veja com desconfiança esse entrelaçamento entre superstição e política, apontando riscos de manipulação simbólica ou reforço de crenças não racionais. Mas é preciso reconhecer que a política não se dá apenas no campo do argumento lógico — ela também é feita de símbolos, afetos e mitologias.
Entender como a superstição opera no imaginário político brasileiro é essencial para compreender os caminhos pelos quais o povo interpreta o poder, exige direitos e escolhe seus representantes. Afinal, numa sociedade tão desigual, onde os meios formais muitas vezes não garantem justiça, apelar ao invisível pode ser não um ato de alienação, mas de invenção de potência. E, às vezes, é a única forma de manter a fé em tempos tão duros.