Patroa é flagrada agredindo diarista grávida em bairro nobre de PE; vítima denuncia racismo
Agressões aconteceram na frente da filha da diarista, uma criança de apenas 2 anos que chora ao ver a mãe apanhando. A diarista, que está grávida, trabalhava de 5h da manhã até às 21h30, comia apenas uma vez ao dia e era obrigada a cuidar dos dois filhos da patroa – o que não estava no combinado. A patroa ainda chamou a trabalhadora de "negra macaca" e disse que "gente da sua cor não presta para nada"
![diarista patroa agredida pernambuco](https://www.pragmatismopolitico.com.br/wp-content/uploads/2023/11/diarista-agredida-pernambuco-patroa.jpg)
Uma patroa foi flagrada em vídeo agredindo uma diarista num apartamento em Piedade, bairro nobre de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife (PE). As agressões aconteceram na quinta-feira (23), na frente da filha da diarista, uma criança de apenas 2 anos.
A trabalhadora, que está grávida, relata que as agressões aconteceram após a patroa se recusar a pagar o valor combinado pelo serviço. De acordo com o Boletim de Ocorrência, o nome da patroa é Cibele Aspasias.
Kássia da Silva, de 26 anos, contou que, por estar grávida de três meses, decidiu deixar o trabalho após quatro dias de expediente, por não aguentar fisicamente. Kássia é mãe de quatro crianças e possui formação como auxiliar de dentista, mas trabalha como diarista para sustentar a casa.
A vítima conta que combinou o serviço de diarista por um aplicativo. A dona do apartamento, Cibele Aspasias, teria que pagar R$ 150 por dia. Segundo Kássia, Cibele teria pedido que ela dormisse no local, com a promessa de que pagaria R$ 1,5 mil por mês. Além disso, ela tinha uma hora de almoço e não podia se alimentar fora desse período.
“Eu só comia a partir das 11h. Eu não aguentava, e também tinha levado a minha fila de colo, porque não tinha com quem deixar. Uma vez, perguntei se tinha algo para comer, e ela disse: ‘tem dois pães ali na geladeira, mas estão mofados. Se quiser, compro outro pão'”, contou.
A diarista contou que trabalhava das 5h às 21h30, e que, ao contrário do combinado, não ficou responsável apenas pela limpeza do local, mas também por cuidar dos dois filhos de Cibele.
A doméstica também diz que, no dia em que saiu, limpou o apartamento, mas, ao avisar a patroa que não conseguiria mais continuar com o serviço, foi xingada e ameaçada.
“Ela começou a desarrumar a casa, jogar as coisas no chão e dizer que estava sem dinheiro. […] Eu fiquei arrasada, me senti um nada. Fui porque eu estava precisando”, disse Kássia.
Ainda de acordo com a diarista, Cibele a ofendeu com ataques racistas, dizendo que ela era uma “negra macaca” e que “gente da cor dela não sabia fazer nada e que não presta para nada”.
“Liguei [para a polícia] e coloquei no viva-voz, e ela disse ‘você vai se arrepender’. Ela surtou, deu um tapa em mim e tomou meu telefone, dizendo que ia quebrar”, contou Kássia.
Em determinado momento, Cibele dá um tapa em Kássia, que estava sentada no sofá com a filha no colo. “O pai dela abriu a porta, me colocou no elevador e me deu R$ 15 reais. A PM tinha chegado, mas ela se recusou a ir à delegacia”, disse. Além desse valor, a patroa também deu R$ 10 à diarista, totalizando R$ 25 recebidos pelos quatro dias de trabalho.
De acordo com a Polícia Civil, um inquérito policial foi instaurado para investigar as agressões físicas, trabalho análogo à escravidão e injúria racial.