Redação Pragmatismo
Economia 31/Jan/2023 às 16:05 COMENTÁRIOS
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“O socialismo não deu certo em lugar nenhum", será?

Publicado em 31 Jan, 2023 às 16h05

"Apesar da supremacia do capitalismo, acredito que o socialismo é uma ideia totalmente triunfante no mundo, pois é graças aos valores socialistas que viver num mundo individualista e gerador de miséria ainda é suportável"

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Imagem: C_Fernandes | Getty

Pedro Benedito Maciel Neto*

Sempre escuto afirmações do tipo: “o socialismo não deu certo em lugar nenhum”, será que é verdade?

Chega a ser cansativo ouvir sempre esse argumento, pois ele busca apenas “lacrar”, sem profundidade. Mas vale a pena respirar fundo, refletir e debater o antagonismo existente entre socialismo x capitalismo, pois, acredito que o sistema que não deu certo é o capitalismo, afinal, ele é gerador de miséria e sofrimento em todo o mundo.

É bom lembrar ao crítico do socialismo a confusão que existe entre os “sistemas econômicos” – socialismo x capitalismo, com suas “teorias econômicas” e com os regimes políticos “democracia x autoritarismo”.

O socialismo não dispõe de uma teoria econômica própria, é possível imaginar que uma teoria econômica socialista teria como pilares a propriedade social dos meios de produção e cooperativas ou produção pública direta; já o capitalismo tem pelo menos duas teorias, o “liberalismo” e o “desenvolvimentismo”, as quais se alternam ao longo da História.

Os sistemas econômicos podem ser entendidos assim: o capitalismo busca lucro; já o socialismo busca a distribuição da riqueza produzida de maneira igualitária; o capitalismo defende o individualismo e a propriedade privada, já o socialismo defende a coletividade, a igualdade e se opõe que aos ‘meios de produção’ privados; o socialismo precisa do Estado para realizar a distribuição da riqueza, já o capitalismo que um Estado que não intervira nas suas atividades.

Um esclarecimento: para mim esse debate só é valido depois da defesa intransigente da democracia, pois sem ela a barbárie se instala, e ela sempre serve aos poderosos.

Vamos em frente.

A economia mundial vive sob a orientação do sistema capitalista e, majoritariamente, pela teoria econômica denominada liberalismo. Portanto, tudo de bom e tudo de ruim que acontece é responsabilidade do capitalismo.

O capitalismo tem uma grande capacidade de gerar riquezas, embora ela seja distribuída de forma desigual.

E, apesar das várias contribuições econômicas, tecnológicas, de conforto que o capitalismo proporciona, ele também produz diversos aspectos negativos a serem considerados.

O capitalismo gera uma inconciliável divergência entre capital e trabalho, pois os trabalhadores buscam, constantemente, melhorias em diversos aspectos como: aumento salarial, diminuição da jornada de trabalho, melhores condições de trabalho entre outras reivindicações trabalhistas, do outro lado estão os capitalistas que exploram a mão-de-obra com objetivo de adquirir uma lucratividade maior, ao menor custo e assim acumular mais riqueza.

É também inegável que a degradação ambiental é responsabilidade do sistema capitalista e está ligada à produção em massa e o consumo na mesma proporção, em busca do lucro. Contudo, para a obtenção de matéria-prima é preciso retirar da natureza diversos recursos e a exploração constante tem deixado um saldo de devastação profunda no meio-ambiente.

A natureza já demonstra saturação e dificuldade de regenerar. Os reflexos: aquecimento global, elevação dos oceanos, mudanças climáticas, escassez de água entre muitos outros.

O capitalismo, tão eficiente na produção de riquezas é avaro na sua distribuição, o que causa a intensificação das desigualdades sociais, ademais, a busca incessante por lucros faz com que haja uma grande exploração do trabalho por parte dos donos dos meios de produção.

No Brasil, o 1% os chamados super-ricos, possuem 48,6% da fortuna patrimonial brasileira; os 10% mais ricos no Brasil possuem quase 80% do patrimônio privado do país. No mundo a situação é a mesma.

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Decorre do capitalismo a relativização da própria humanidade. Se tomarmos em consideração que o objetivo maior do capitalismo é lucro, através do consumo; é justamente na busca por adquirir bens materiais que os valores humanos são perdidos ou deixados de lado, pessoas relativizam amizade, solidariedade, companheirismo, que são ignorados e substituídos pelo efêmero prazer que o consumo proporciona.

Eu, apesar da supremacia do capitalismo, acredito que o socialismo é uma ideia totalmente triunfante no mundo, pois é graças aos valores socialistas que viver num mundo individualista e gerador de miséria ainda é suportável.

Li outro dia um texto, creditado a Antônio Candido, onde consta que o socialismo “é o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. (…). Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças”.

Esses direitos, integrados às relações laborais são fruto do embate entre socialistas e capitalistas, são resultado da aplicação das ideias de igualdade e justiça.

Por essas e outros foi o capitalismo que não deu certo em lugar nenhum.

Essas são as reflexões.

*Pedro Benedito Maciel Neto é advogado e pontepretano; sócio da www.macielneto.adv.br; foi professor universitário; secretário municipal em Campinas e Sumaré; presidente da COHAB e da Fundação Jose Pedro de Oliveira, sendo atualmente Conselheiro da SANASA.

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