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Meio Ambiente 04/Out/2022 às 22:48 COMENTÁRIOS
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VÍDEO: Cientistas chegam pela primeira vez à maior árvore da Amazônia e choram

Publicado em 04 Out, 2022 às 22h48

MAJESTOSA: Árvore tem 400 anos e altura de prédio de 30 andares. Espécie encontrada é um angelim vermelho e está localizada na divisa entre os estados do Amapá e Pará

VÍDEO Cientistas chegam primeira vez maior árvore Amazônia choram
Projeto busca catalogar e proteger árvores com mais de 80 metros de altura no Sul do Amapá (Imagem: Projeto Árvores Gigantes da Amazônia)

Após percorrerem cerca de 40 quilômetros de floresta, em um esforço que incluiu vencer corredeiras e caminhar por dias, pesquisadores brasileiros conseguiram ficar diante da maior árvore da Amazônia já mapeada. O encontro com a gigante da espécie angelim-vermelho, de 88,5 metros de altura e 9,9 metros de circunferência, na floresta estadual do Parú, no Pará, aconteceu três anos após a árvore ser localizada por satélite, em um verdadeiro santuário da espécie.

O estudo do angelim-vermelho, que tem o nome científico de Dinizia excelsa Ducke, foi feito na quinta edição do projeto que mapeia as árvores gigantes da Amazônia, realizada no Sul do Amapá, de 11 a 21 de setembro. A árvore havia sido identificada em 2019. Mas ainda não tinha sido possível chegar ao local onde está. A expedição que a encontrou foi formada por 20 pessoas, entre pesquisadores e amapaenses da região de Laranjal do Jari.

Veja fotos da expedição que localizou a maior árvore da Amazônia, o angelim-vermelho, no Amapá

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Equipe formada por pesquisadores e pessoas da comunidade local, conhecedores da floresta (Imagem: Projeto Árvores Gigantes da Amazônia)

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A medição da circunferência da árvore é de quase 10 metros (Imagem: Projeto Árvores Gigantes da Amazônia)

“Quando localizamos a gigante (em 2019), faltaram apenas três quilômetros para chegarmos até ela. Optamos por abortar a missão por falta de tempo, combustível e alimentação. Para sabermos o seu tamanho, a medição foi feita por um laser em um avião, que escaneia a árvore da raiz à ponta do galho mais alto”, diz o coordenador da pesquisa, Eric Gorgens, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.

400 anos de vida

Os pesquisadores estimam que a gigante tenha aproximadamente 400 anos de vida. Com cálculos matemáticos baseados na dendrocronologia — uma das técnicas de datação que se baseia nos anéis de crescimento das árvores — os cientistas pretendem comprovar o palpite. A altura do angelim pode ser comparada a um prédio de 30 andares.

A busca às gigantes começou depois de o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) fazer mais de 800 sobrevoos na Amazônia, que resultaram na descoberta de sete árvores maiores de 60 metros. Em 2016, pesquisadores de universidades do Brasil, da Finlândia e do Reino Unido também já haviam analisado por satélite 594 coleções de árvores espalhadas por toda a Amazônia brasileira.

Em outubro de 2020, outra expedição levou estudiosos a quatro novas gigantes, na reserva do Rio Iratapuru, após uma pausa de sete meses no mapeamento devido à pandemia da Covid-19. A aventura possibilitou encontrar a mais alta castanheira já registrada na Amazônia, com 66,66 metros. No fim de setembro do ano passado, a equipe chegou à segunda maior árvore da espécie angelim-vermelho. Ela tem 85,44 metros de altura e idade estimada em cerca de meio milênio.

Local privilegiado

As pesquisas ao longo das cinco expedições mostram que a região do Rio Jari é uma área diferenciada na Floresta Amazônica, motivo de ter sido o único local em que as árvores gigantes foram identificadas. O local favorece o crescimento da espécie devido à baixa incidência de ventos e insolação direta, somada à quantidade regular de chuvas e solos profundos e bem estruturados.

Além disso, de acordo com Gorgens, por estar em uma unidade de conservação, o angelim-vermelho de quase 90 metros não corre tanto risco de sofrer com a ação ilegal de madeireiros. Mas o pesquisador aponta que são necessárias leis que garantam sua proteção integral, com o crescente desmatamento na Amazônia.

“A espécie não está em risco humano, mas ainda estamos estudando para entender o quanto raras as gigantes da Amazônia são. Aliado a isso, percebemos a importância, por exemplo, da captação do estoque de carbono que essas florestas guardam, especialmente nesse momento de mudanças climáticas”, aponta o pesquisador.

Em 2021, o Ministério Público do Amapá passou a fazer parte das instituições parceiras do projeto Árvores Gigantes da Amazônia, com a adesão do promotor de Justiça do Meio Ambiente, Marcelo Moreira, e da procuradora-geral de Justiça, Ivana Cei. Uma reunião marcou a parceria em que foram assumidos os compromissos de incentivo e articulação para criação de um projeto de lei para proteção específica destas espécies gigantes e apoio logístico para realização do projeto de pesquisa.

Estabilidade climática

Até o momento, sabe-se que o angelim-vermelho cresce entre os vales, o que impede a ação do vento e favorece o crescimento em busca da luz do sol para a fotossíntese. Além disso, é provável que a espécie tenha maior capacidade de absorção de gás carbônico. A hipótese é apoiada pelo fato de que 60% de sua biomassa é composta de gás carbônico.

Os estudos, no entanto, ainda são muito precoces para detalhar se as mudanças climáticas têm interferido no desenvolvimento da espécie ou se o avanço do desmatamento pode afetá-la no futuro. O Monitor da Floresta, que utiliza como base os alertas diários de áreas desmatadas do Inpe, mostra que somente este ano 456 mil árvores foram cortadas da Amazônia, número que representa cerca de 1.752.296 unidades de vegetação por dia. Todo esse desmatamento, segundo Gorgens, pode respingar na sobrevivência das gigantes.

“Ainda não dá pra detectar uma tendência de prejuízo. Mas o aquecimento global, por exemplo, faz com que se reduza a quantidade de nuvens, que protegem os angelins. Com isso, ela pode sofrer maior incidência solar e ter seu desenvolvimento prejudicado. Todos os extremos climáticos podem gerar risco. Por serem gigantes, essas árvores têm um incrível potencial de equilibrar o clima e sequestrar carbono”, explica.

A cada expedição na Amazônia, a pesquisa deve potencializar o uso sustentável dos recursos naturais em atividades econômicas desenvolvidas na região, aprimorando práticas como o extrativismo, o turismo ecológico, o cooperativismo e a produção artesanal de quem mora na região, principalmente ribeirinhos.

Assista ao vídeo

Pâmela Dias, O globo

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