Redação Pragmatismo
ELEIÇÕES 2022 26/Out/2022 às 18:10 COMENTÁRIOS
ELEIÇÕES 2022

Farsa das rádios é a segunda bala de prata da campanha de Bolsonaro. Qual será a terceira?

Publicado em 26 Out, 2022 às 18h10

O "complô das rádios" do Nordeste é mais um delírio da campanha de Bolsonaro para não aceitar a derrota nas urnas. Aquilo a que chamaram de prova é irrisório. Empresa que trabalha para a Havan foi a responsável por um relatório repleto de erros e informações sem sentido

Fabio Wajngarten Fábio Faria
Fábio Faria e Fabio Wajngarten, os autores da farsa das rádios

Reinaldo Azevedo, em seu blog

Até o tracking da campanha de Bolsonaro o coloca atrás de Lula. O complô das rádios é um delírio. Aquilo a que chamam de prova é lixo. Empresa que monitora propaganda da Havan se mete a ser fiscal de horário eleitoral. Notem que a ideia é acusar complô do TSE com o PT. Mas o tribunal não fiscaliza execução de propaganda ainda que houvesse problemas. A seis dias da eleição, a dupla de Fábios (Faria e Wajngarten) — não se gostavam, mas, tudo indica, encontraram algo em comum — vem com a tese golpista.

Se forem malsucedidos na tentativa de golpear a eleição com mais uma farsa, pode-se tirar algo de útil do episódio: as lorpas fascistoides saíram todas do covil e estão por aí a pregar o adiamento do pleito. E isso vale também para veículos e páginas que simulam fazer jornalismo. Bolsonaro está criando um pretexto a mais para não reconhecer o veredito das urnas se derrotado.

O troço é de tal sorte ridículo que, como informa a Folha, a dona da rádio JM Oline, aquela que consta da denúncia do tal servidor exonerado do TSE, é bolsonarista assumida. Tem foto ao lado de Michelle. Nas redes sociais, repete todos os mantras bolsonaristas. Será que Lídia Prattes Ciabotti praticava bolsonarismo de dia e conspirava com os lulistas à noite?

A acusação é um despropósito. A tal auditoria — ou que nome tenha — é uma farsa que finge rigor técnico. As tais provas sobre as rádios não provam nada. Os esbirros do bolsonarismo resolveram engrolar linguagem “supostamente especializada” para emprestar complexidade a um delírio. Levantamento é de empresa de Santa Catarina que trabalha para a Havan (Audiency), sem experiência na área.

Entregaram como evidência um monitoramento de oito rádios — rádios Bispa FM e Hits FM, de Recife (PE); Clube FM, de Santo Antônio de Jesus (BA); Povo FM, de Feira de Santana (BA); Viva Voz, de Várzea da Roça (BA); Povo FM, de Poções (BA); Integração FM, de Surubim (PE); e Extremo Sul FM, de Itamaraju (BA) — e chegaram à conclusão alucinada de 100 horas a mais de inserções no Nordeste para Lula.

CEM HORAS? As inserções nos 23 dias de segundo turno somam 9 horas e 35 minutos, divididas entre os dois candidatos. Mais: monitorou-se o “dial” ou transmissão por internet, que não veicula propaganda eleitoral obrigatória? Acompanhar oito rádios e generalizar resultado para milhares (se verdadeiro?) — como se, nesse caso, fosse possível fazer cálculo amostral — é o fim da picada.

Que fale o TSE. Fábio Faria diz não querer atacar a legitimidade das eleições. É mesmo? Outros o fazem em seu lugar, como se percebe. A começar do presidente da República.

É sintomático que a acusação maior recaia sobre o Nordeste, onde Lula esmaga Bolsonaro. Busca-se relação de causa-efeito entre suposto problema em inserção e voto. Insisto: tem sua utilidade porque dá para saber quem se presta ao serviço sujo na “hora h”.

BAHIA E PERNAMBUCO

Monitoramento por “algoritmo”, como repetem alguns golpistas em suas páginas, é feitiçaria com roupagem de coisa moderna. Notem que as oito rádios que serviriam de exemplos do desvio são da Bahia (5) e de Pernambuco (3). Diz Faria que eles resolveram fazer o levantamento porque alertados por ouvintes. É claro que, nesses estados, fala-se mais o nome de Lula do que de Bolsonaro. Sabem por quê?

Porque, além das inserções da disputa presidencial, há as da disputa estadual. Lula tem aliados nos dois Estados, e Bolsonaro não. Jerônimo Rodrigues (PT), da Bahia, faz questão de deixar claro que é aliado do presidenciável petista. ACM Neto (UB) foge de Bolsonaro. Em Pernambuco, Marília Arraes (Solidariedade) cola no ex-presidente, mas Raquel Lyra (PSDB) ignora o atual presidente. O algoritmo da empresa que trabalha para a Havan não é assim tão inteligente…

Bolsonaro investiu muita grana de propaganda em rádios Brasil afora. Por que fariam esse complô? Quem tinha dificuldades para dar entrevista fora dos grandes centros era Lula. Já imaginaram? Como é que se coordenaria um esquema com milhares de rádios?

E o funcionário demitido do TSE? É só complemento da farsa. Esse tipo de personagem é comum em casos assim. Há um filme sobre o nazismo exemplar a respeito: “Au Revoir les Enfants”, de Louis Malle. Assistam. Uma das personagens, funcionário de uma escola católica que resiste aos nazistas na França ocupada, trafica cigarro e comida entre os alunos. Descoberto, é demitido pelos padres. Então ele faz o quê? Denuncia os religiosos aos facínoras.

Essa armação é só uma das faces do golpismo. A primeira bala de prata era Roberto Jefferson. Mas ele exagerou na representação, e acabou dando tiro no pé de Bolsonaro. Aí vem a segunda. É bem possível que tenham uma terceira.

Ocorre que todos os golpes legislativos dados no curso da eleição não garantiram a vitória de Bolsonaro. Então é preciso testar outras hipóteses.

Insisto: fiquem atentos àqueles, também com a roupagem de imprensa, que estão na campanha golpista.

Mais detalhes sobre a farsa:

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