ELEIÇÕES 2022

Campanha de Bolsonaro acha que Ratinho foi “condescendente” com Lula

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Campanha alega que Ratinho pegou leve na entrevista e considera que o apresentador do SBT deveria ter rebatido (e não dado risada) quando Lula chamou Bolsonaro de "ignorantão"

Lula no Ratinho

A entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no programa do Ratinho, do SBT, repercutiu com muita força nas redes sociais e chegou ao topo dos assuntos mais comentados do Twitter.

Em conversa com o Pragmatismo, um assessor de Lula avaliou a sabatina como ‘muito positiva’. “Ele [Lula] descontraiu e brincou quando teve chance, mas foi firme nos temas cruciais ao povo brasileiro”.

Por outro lado, o comitê de Jair Bolsonaro (PL) não gostou da postura do apresentador do SBT. Os bolsonaristas afirmaram que Ratinho foi “condescendente” com Lula e que algumas falas do petista deveriam ter sido rebatidas — como o momento em que Lula chama Bolsonaro de ‘ignorantão’ e Ratinho não apenas dá gargalhadas, mas classifica o petista de ‘encantador’. Os fãs do capitão também não gostaram quando o apresentador chamou Lula de ‘presidente’.

Nas redes sociais, alguns apoiadores de Jair Bolsonaro chegaram a se referir a Ratinho como ‘traidor’. No entanto, embora hoje seja apoiador de Bolsonaro, o apresentador tem uma relação de longa data com Lula e inclusive já recebeu o ex-presidente em sua casa.

Ratinho, que além de apresentador é empresário da comunicação e pai de político, está naturalmente antecipando uma vitória de Lula — apontada por todas as pesquisas — e quer estreitar os laços com o futuro presidente, pois isso é bom para os seus negócios.

Repercussão:

Clima tenso na campanha de Bolsonaro

O avanço de Lula nas últimas pesquisas está praticamente desmoronando as campanhas dos adversários. Pelo Datafolha, Lula já alcançou 50% dos votos válidos, podendo liquidar a eleição ainda no primeiro turno, especialmente se for favorecido pelo voto útil de eleitores desistentes de Ciro Gomes. A pesquisa Ipec também apontou que Lula está se aproximando da vitória em primeiro turno.

Um dos principais protagonistas da campanha de Bolsonaro, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, simplesmente pegou o boné. Presidente nacional do PP, o ministro anunciou que está se afastando temporariamente do governo para tratar da campanha eleitoral de seu partido no Piauí.

O ministro Ciro Nogueira não admitiu publicamente, mas largou a eleição presidencial em meio a uma guerra com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Ciro Nogueira acusa Guedes, nos bastidores do governo, de ser o verdadeiro responsável pelas dificuldades de Bolsonaro. Tanto por ter demorado a aceitar a renovação e o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, como pelos contingenciamentos de verbas do Orçamento que arrefeceram o ânimo dos cabos eleitorais bolsonaristas nos estados.

Guedes, por sua vez, responsabiliza Ciro pela proximidade do naufrágio. Segundo ele tem dito no governo, o chefe da Casa Civil atuou o tempo inteiro para detonar a política econômica, já que estava menos preocupado com a reeleição de Bolsonaro do que em liberar verbas para a eleição de parlamentares do centrão.

Nesta quarta-feira, o ministro da Economia abandonou uma entrevista que iria ao ar na RedeTV! quando o apresentador, Luís Ernesto Lacombe, lhe perguntou se ele era contra ou a favor do piso salarial para enfermeiros, cujo veto foi derrubado no Congresso.

Guedes enxergou ali uma armação da área política do governo. Perguntou quem mais havia sido entrevistado por Lacombe. Ao ouvir que fora Ciro Nogueira, vociferou: “Esse cara não apoia o Bolsonaro, vocês estão sendo muito tendenciosos”.

Bolsonaro, por sua vez, resolveu deixar a briga correr solta. Está tendo que administrar uma disputa interna entre seus filhos. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que está alinhado com o marketing da campanha, cobra moderação do presidente, enquanto o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos) insiste que o pai aumente os ataques aos adversários e à Justiça como forma de alimentar a militância bolsonarista para o período pós-eleitoral.

Na prática, ambos jogaram a toalha. Flávio teme pela evolução das ações judiciais caso o pai perca a eleição. Carlos acha que somente a manutenção de um forte apoio da militância poderá segurar os adversários quando o pai deixar o governo.