Redação Pragmatismo
Justiça 19/Jul/2022 às 20:05 COMENTÁRIOS
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Justiça bloqueia mais de R$ 80 mil das contas da 'mulher da casa abandonada'

Publicado em 19 Jul, 2022 às 20h05

Justiça bloqueia mais de R$ 80 mil das contas bancárias de Margarida Bonetti, a mulher que escravizou e torturou a empregada doméstica por mais de duas décadas e integrou lista de procurados do FBI

mulher da casa abandonada

Margarida Maria Vicente de Azevedo Bonetti, conhecida como ‘a mulher da casa abandonada’, teve R$ 83,8 mil das suas contas bancárias bloqueados pela Justiça de São Paulo.

A mulher, que costuma esconder o rosto com uma pomada branca, escapou da lista de procurados do FBI sob acusação de ter escravizado uma empregada durante duas décadas.

Pertencente a uma família tradicional de São Paulo, Margarida Bonetti é, de acordo com a Justiça, proprietária de um apartamento de 103 metros quadrados no edifício Condomínio Três Barões (Higienópolis), que lhe foi doado por um parente em 1988.

Um processo foi aberto pelo condomínio em razão de uma multa que Margarida recebeu em 2015, quando uma parente dela, que mora no imóvel, teria sido flagrada rabiscando o hall do andar do apartamento.

Os R$ 83,8 mil bloqueados foram encontrados em duas contas bancárias mantidas pela “mulher da casa abandonada”. Os valores cobrados pelo condomínio serão penhorados e a diferença devolvida para Margarida, que não apresentou advogado no processo.

Margarida é neta de Francisco de Paula Vicente de Azevedo, o Barão de Bocaina, título que recebeu por decreto do Imperador D. Pedro II. Ele foi banqueiro, comerciante e diretor da Estrada de Ferro São Paulo-Rio de Janeiro e do Banco Comercial do Estado de São Paulo.

A casa abandonada pertenceu ao pai de Margarida, Geraldo Vicente de Azevedo, que foi chefe da Santa Casa de Misericórdia, e morava no local com sua esposa, Maria de Lourdes Danso Vicente de Azevedo. O homem, que era médico, faleceu em 1998. A mãe, em 2011.

Entenda o caso

A história de Margarida Bonetti viralizou nas redes sociais nos últimos dias após ser contada em um podcast do jornalista Chico Felitti, da Folha de S.Paulo. A mulher é uma foragida do FBI, departamento de polícia dos Estados Unidos.

Ela e o marido, Renê Bonetti, são acusados de manter a empregada doméstica no porão da casa em que viviam nos EUA, sem salário nem auxílio médico, sofrendo agressões e impedida de deixar o local por duas décadas — entre a década de 1970 e a virada dos anos 2000. A vítima conseguiu fugir enquanto o casal fazia uma viagem para o Brasil.

Enquanto o marido foi condenado a seis anos e meio de prisão nos Estados Unidos e teve que pagar indenização uma indenização de U$ 210 mil, Margarida fugiu definitivamente para o Brasil e acabou não sendo julgada.

A aparência de Margarida Bonetti é um dos maiores mistérios da internet. Moradora da mansão em decadência há 20 anos (quando retornou ao Brasil), poucos vizinhos relatam já ter visto o rosto da mulher sem a camada de pomada branca que ela usa diariamente.

Não se sabe o porquê de Margarida Bonetti passar a pomada ou creme na face. Ela mesma já falou para alguns funcionários dos prédios vizinhos que tem um problema de pele e, por isso, usa o creme. Porém, não há confirmação do fato, já que algumas pessoas já a viram sem o creme e diz que ela não tem nenhuma lesão aparente na pele.

A doméstica escravizada

No final da década de 1970, Margarida e Renê se casaram no Brasil e decidiram se mudar para os EUA, levando com eles a empregada doméstica, uma mulher brasileira analfabeta, que antes trabalhava na casa dos pais da mulher e foi dada como “presente” ao casal.

A mulher foi mantida pelo casal sem receber pagamento pelo seu serviço, sem direito a folgas e férias e sendo vítima constante de agressões e humilhações.

Em um dos episódios de violência, Margarida chegou a jogar uma panela de sopa quente no rosto da vítima, que era obrigada a trabalhar das 6h às 22h. Nas ocasiões em que ela foi lesionada, teve atendimento médico negado apesar de fraturas e ossos quebrados.

A situação só chegou ao fim quando a vítima conseguiu fugir durante uma viagem de férias do casal. Ela recebeu ajuda de uma vizinha, que deu abrigo e denunciou a situação à polícia. Enquanto as autoridades policiais investigavam o caso, ela ficou escondida durante dois anos em uma igreja da cidade.

Atualmente não há registro de onde esteja a vítima, mas, de acordo com a vizinha, ela está bem e vive legalmente em território americano recebendo uma pensão do governo. Foi graças ao caso da empregada que o congresso americano alterou as regras em relação aos crimes de escravidão cometidos contra pessoas estrangeiras.

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