Meio Ambiente

O Brasil acovardado não merece a bravura de Bruno e Dom

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O Brasil inerte talvez seja hoje uma das nações mais covardes do mundo todo. O desaparecimento de Dom e Bruno só acontece por causa das nossas confortáveis covardias

Bruno e Dom

Moisés Mendes*, em seu blog

(Este texto foi publicado na noite de domingo. Mantenho tudo o que escrevi, agora que os sites noticiam que os corpos de Bruno e Dom teriam sido encontrados, mesmo sem confirmação oficial do governo.)

Têm dito que o Brasil é um país inerte. E para um país inerte fica difícil alcançar a grandeza dos homens desaparecidos na Amazônia.

É difícil que o país tenha uma reação à altura da bravura do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, se os dois nunca mais forem localizados.

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Não esperem uma reação que vá além da indignação, quando a indignação sozinha não significa nada.

Um país inerte, alienado, anestesiado, acovardado, odiento não tem como compreender a grandeza de dois homens que se arriscam a fazer pelos povos da floresta o que poucos fazem por eles.

É difícil compreender, no Brasil inerte e bandido, sob o controle de Bolsonaro, que dois homens possam estar tentando fazer alguma coisa na contramão das ações criminosas de civis e militares no poder.

Esse Brasil inerte acompanha manifestações públicas em toda parte, para que Dom e Bruno sejam encontrados com vida. Só assiste. As imagens dos atos mostram cartazes em inglês, porque são de manifestações distantes. Aqui, só os indígenas protestam nasa suas terras, mas até a indignação branca é minguada.

E a Amazônia é aqui. Bruno é um abnegado servidor público brasileiro. Dom é um estrangeiro imerso no drama dos povos que Bolsonaro quer matar, para que os garimpeiros e as mineradoras tomem conta das suas terras.

O drama desses dois deveria ser na essência um drama nosso, um drama do Brasil, mas é a tragédia de um país inerte.

As reações ao desaparecimento dos dois homens amigos dos povos da floresta são quase protocolares.

O Brasil inerte, incapaz de reagir à fome e ao aumento da miséria, é incapaz de compreender o que o desaparecimento desses dois homens dedicados a uma causa representa no contexto do avanço do fascismo.

O Brasil inerte é um país acomodado à própria covardia, incapaz de enfrentar as crueldades da extrema direita como outros povos enfrentam.

O Brasil inerte não soube reagir ao golpe contra Dilma e não soube o que fazer com o encarceramento político de Lula para que Bolsonaro vencesse a eleição.

O Brasil inerte talvez seja hoje uma das nações mais covardes do mundo todo. O desaparecimento de Dom e Bruno só acontece por causa das nossas confortáveis covardias.

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim)

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