Redação Pragmatismo
Europa 05/Fev/2022 às 10:59 COMENTÁRIOS
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Padre que acreditava que vacinas tinham células de fetos abortados morre de Covid

Publicado em 05 Fev, 2022 às 10h59

Padre antivacina propagava mentiras sobre os imunizantes, alegando que eram feitos com células de fetos abortados. Don Paolo não tomou nenhuma dose e morreu vítima de Covid-19

Don Paolo
Don Paolo

Um padre antivacina morreu de covid-19 na Itália. Don Paolo Romeo, de 51 anos, alegava que os imunizantes tinham células de fetos abortados. O clérigo ficou meses internado após contrair o vírus e não sobreviveu após complicações. As informações são do Daily Mail.

Antes de morrer, ele voltou a repetir a mentira em relação à vacina contra a covid. Paolo Romeo atuava como padre na igreja Santo Stefano, em Genova, no norte da Itália. A congregação publicou nas redes sociais uma despedida para o padre.

No dia 1º de fevereiro, a igreja lamentou a morte de Don Paolo e omitiu a causa do óbito. “Hoje, nosso amado Don Paolo subiu para o céu rodeado de afeto de seus parentes e de bênçãos de seus fiéis. Que o senhor o receba e retribua tudo de bom que ele fez na terra e que perdoe quaisquer percalços, se houve algum.”

A Itália emitiu uma ordem no dia 1º de fevereiro que obriga todas as pessoas com mais de 50 anos a se vacinarem. Quem não estiver imunizado corre o risco de pagar multas e até mesmo de perder o emprego. Por outro lado, pessoas que pegaram a doença poderão deixar de se imunizar, porque já teriam anticorpos.

Vacina e fetos abortados

O boato de que vacinas são feitas com fetos abortados é antigo, mas ainda tem fôlego para circular pela internet. Assim como outras teorias da conspiração, a exemplo da que afirma que as doses podem alterar o nosso DNA, essa deturpa completamente os fatos para se propagar.

A história começou na década de 1960, quando cientistas passaram a extrair algumas células de fetos submetidos a abortos legais para replicá-las dentro do laboratório. E sim, essas linhagens que descendem das células fetais foram e são usadas até hoje na produção de vacinas. Imunizantes contra hepatite A, rubéola, herpes-zóster, raiva e sarampo, por exemplo, são produzidas a partir delas.

Mas muita atenção: não estamos falando dos fetos em si, tampouco das células originais deles. “São linhagens descendentes, que se multiplicam e são mantidas vivas desde então em laboratório”, reforça a microbiologista Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC). Aliás, as gestações dos poucos fetos usados não foram encerradas para esse fim – os cientistas basicamente aproveitaram uma situação já estabelecida.

Também é importante esclarecer que tais células não entram na composição final das doses. Elas servem apenas para cultivar os vírus contra os quais a vacina vai agir – explicaremos isso mais adiante.

Ou seja, é mentira afirmar que vacinas contêm material humano. “Elas passam por um processo extenso de purificação para garantir que não haja contaminação de qualquer que seja o veículo utilizado para replicar o vírus ou parte dele”, explica Natália.

Células humanas

Para desenvolver e fabricar um imunizante, os cientistas dependem do vírus que causa a doença em questão. E vírus são parasitas intracelulares. Traduzindo: necessitam de uma célula para sobreviver.

“Ao contrário de bactérias ou fungos, que crescem sozinhos, toda vez que vamos multiplicar um vírus, precisamos de células que possam ser infectadas por eles no laboratório”, explica o microbiologista Flávio Guimarães, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Às vezes, dá para usar células derivadas de animais (como as de macaco), de bactérias ou de embriões de galinhas. Só que, em outras ocasiões, somente as linhagens humanas resolvem.

E por que não usar células doadas por um adulto? “Porque elas têm uma espécie de prazo de validade: suas descendentes se multiplicam algumas vezes e, depois, perdem essa capacidade”, conta Guimarães. “Já as fetais se replicam indefinidamente no laboratório”, complementa o mineiro.

Ao menos duas linhagens celulares humanas são utilizadas na produção de doses contra a Covid-19. A HEK-293, originária de um aborto eletivo realizado em 1973 na Holanda, país onde o procedimento é legalizado, serve de meio de replicação do adenovírus empregado na vacina de Oxford/AstraZeneca. Ora, é esse agente que leva trechos do coronavírus para o nosso sistema imune produzir suas defesas.

As doses da Pfizer e da Moderna, que não são fabricadas a partir de células, foram testadas na mesma linhagem antes de avançarem aos estudos com voluntários.

Já o adenovírus da vacina da Janssen (subsidiária da Johnson & Johnson) é multiplicado em culturas de PER.C6, linhagem desenvolvida a partir de células de um feto de 18 semanas, cuja gravidez foi legalmente encerrada em 1985.

A Coronavac, por sua vez, nunca utilizou esse tipo de material. Ela é feita com o Sars-CoV-2 inativado e replicado em em outra família de células, as Vero. Essas são derivadas do rim de um macaco dos anos 1960.

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