Redação Pragmatismo
Guerra injustificável 26/Fev/2022 às 11:58 COMENTÁRIOS
Guerra injustificável

Conflito na Ucrânia pode ser o início de uma 3ª Guerra Mundial?

Publicado em 26 Fev, 2022 às 11h58

Atual conflito fez com que surgissem questionamentos sobre a possibilidade de uma terceira guerra mundial. Mas o Ocidente estaria disposto a ir a uma guerra por causa da Ucrânia? Desde o advento das armas nucleares nunca houve confronto entre as superpotências porque isso pode representar a destruição global. A Rússia é o país que possui mais ogivas nucleares (6 mil) no mundo – um poder capaz de acabar com o planeta 8 vezes

terceira guerra mundial
Teste Castle Romeo, realizado em 15 de Abril de 1954. Artefato termonuclear detonado pelos EUA nas Ilhas Marshall, com 15mt de potência

O conflito entre Rússia e Ucrânia fez com que pessoas passassem a questionar a possibilidade de uma eventual terceira guerra mundial. Iago Caubi, pesquisador ligado ao Núcleo de Estudos sobre Geopolítica, Integração Regional e Sistema Mundial (GIS-UFRJ), descartou a possibilidade de um conflito armado generalizado entre as maiores potências mundiais e chamou o eventual cenário de “realidade distópica”.

De acordo com Caubi, a hipótese é irreal porque grandes potenciais mundiais do Ocidente como os Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha, que compõem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança militar com 30 países, não devem interferir diretamente com o envio de tropas para a Ucrânia, porque os ucranianos não fazem parte da organização militar.

“Esses países não vão enviar (tropas) porque se as enviarem significaria comprar uma guerra direta com a Rússia. Não trata-se apenas de defender um país aliado como a Ucrânia, é comprar uma guerra com uma nação com grande poderio militar e que repercutiria em outras áreas como nas relações diplomáticas e comerciais”, explica.

No caso do Brasil, ele lembra que o País relutou o máximo que pôde para se envolver na 2ª Guerra Mundial. “À época, o Brasil só entrou no conflito próximo do fim da guerra, e precisou sofrer baixas em ataques da Alemanha para se envolver. Não existe força interna nenhuma na história do Brasil que apoie interferência num conflito europeu”, comenta.

O pesquisador lembra ainda que o Brasil não é da Otan, não é aliado histórico da Ucrânia, pelo contrário, tem mais “aproximação diplomática” com a Rússia. Segundo ele, o que espera-se do governo brasileiro é uma posição mais clara e efetiva. “O que está sendo cobrado, e acho importante ressaltar isso, é um posicionamento efetivo do presidente Bolsonaro e do Itamaraty. O que se espera do Brasil é a abordagem diplomática em ambientes como a ONU, onde ocupamos cadeira rotativa no Conselho de Segurança”, diz.

A Ucrânia vale o risco?

Na avaliação de Tito Lívio Barcellos, geógrafo pela USP (Universidade de São Paulo) e mestre em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Estratégicos da UFF (Universidade Federal Fluminense), o Ocidente não está disposto a entrar na guerra para defender a Ucrânia.

“A Rússia ironizou a decisão da Alemanha de interromper a certificação de um gasoduto que liga os dois países, dizendo sobre o mundo novo em que os europeus pagariam 2.000 euros por mil metros cúbicos de gás natural, pelos quais eram pagos cerca 800 euros em setembro de 2021. É uma forma de intimidar o governo alemão, mas, ao mesmo tempo, dizer: ‘até que ponto vocês estão dispostos a ir por causa da Ucrânia na Otan? A Ucrânia na Otan vale tanto assim para vocês?'”, diz Barcellos.

“Será que realmente a Europa está disposta, o Ocidente está disposto a ir uma guerra por causa da Ucrânia? Como os países são movimentados por interesses, esse cálculo existe na cabeça dos líderes europeus, dos líderes americanos.”

A crise envolvendo Rússia e Ucrânia tem um histórico complexo, mas o fator principal neste momento envolvendo a possível entrada dos ucranianos na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), um grupo criado na época da Guerra Fria e que não foi encerrado com o fim dela. Os russos enxergam esse movimento da Ucrânia como uma possível ameaça.

Segundo uma pesquisa do Instituto Internacional da Paz de Estocolmo (SIPRI) realizada em 2019, os russos possuem mais de 6 mil ogivas nucleares. Em números absolutos, o arsenal coloca a Rússia como o país com o maior total de armamentos nucleares, de acordo com o SIPRI.

Se Rússia e Estados Unidos acionassem as suas armas nucleares, eles teriam poder para destruir o mundo mais de 10 vezes. E, por isso, a escolha inicial americana, junto com os países que fazem parte da Otan, é enfrentar a guerra aplicando sanções econômicas contra o Kremlin.

Os Estados Unidos usaram armas nucleares contra o Japão na Segunda Guerra Mundial nos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki. O número total de mortos nos bombardeios não é conhecido, mas acredita-se que cerca de 140 mil habitantes da população de Hiroshima morreram na explosão e que foram pelo menos 74 mil vítimas em Nagasaki.

A Rússia é detentora da “Bomba Tsar” (de 58 megatons), um artefato 3 mil vezes mais potente que a bomba de Hiroshima. Saiba mais:

Pela primeira vez, Rússia exibe bomba mais potente do mundo

Para Tanguy Baghdadi, professor de relações internacionais, Putin é um político experiente (no poder desde 1989) e com uma postura de muita força. O professor afirma que não existe uma liderança ocidental que seja capaz de lidar com o que está acontecendo na Ucrânia.

“O Putin tem uma habilidade muito maior. Entre as lideranças ocidentais, a gente tem o Biden, com uma postura muito mais conciliadora, até por uma questão de personalidade, ele tem uma fala mais mansa e ele não consegue se impor como um presidente que diplomaticamente, que politicamente, vai de fato confrontar o Putin”.

ACOMPANHE:

Recomendações

COMENTÁRIOS