Redação Pragmatismo
Curiosidades 09/Dez/2021 às 15:37 COMENTÁRIOS
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Mistério sobre surto de coceira em Pernambuco chega ao fim

Publicado em 09 Dez, 2021 às 15h37

Surto de lesões que provocam coceira tem mariposas como causa, afirma nota técnica da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Pesquisadores já haviam chamado de 'absurdas' as informações espalhadas nas redes de que o problema se tratava de 'escabiose'

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Surto de coceira em Pernambuco foi provocado por mariposas

Uma nota técnica emitida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) nesta quarta-feira (8) colocou fim no mistério sobre o ‘surto de coceira’ em Pernambuco. Segundo os pesquisadores, uma espécie de mariposa é a responsável pelo problema de saúde.

A nota técnica é assinada pelos médicos Cláudia Ferraz e Vidal Haddad Junior. No documento, eles afirmam que “o mistério está resolvido”, já que foi comprovada a existência de cerdas liberadas pelas mariposas do gênero Hylesia nos exames feitos.

Em imagens feitas com um microscópio, os dermatologistas encontraram as cerdas da mariposa na pele de pacientes. Esse material, segundo a nota técnica, pode permanecer na pele por dias e até semanas, causando a dermatite.

Uma das hipóteses investigadas foi a de escabiose, conhecida como sarna. Os pesquisadores consideraram que essa linha de investigação era “absurda” devido ao tipo de transmissão, à distribuição e aspecto das lesões e ao fato de que nenhum ácaro foi achado em muitas amostras de exame.

“Chegamos à conclusão, ao diagnóstico de dermatite causada por mariposas. Esse diagnóstico foi bem estabelecido pela própria característica das lesões, que se localizavam na área dos braços, área exposta, e também pela época do ano, em que ocorre uma proliferação natural das mariposas”, disse a dermatologista Cláudia Ferraz.

Ferraz, que também é vice-presidente da SBD em Pernambuco e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), apontou que as comunidades em que começaram a surgir os sintomas, na Zona Norte do Recife, reiteram o diagnóstico.

“‘[São] comunidades que margeiam áreas de mata, como da mata atlântica, que é o caso dos locais que iniciaram esses surtos, ali na região da Guabiraba e de Dois Irmãos”, explicou.

Ainda segundo a médica, as cerdas são liberadas pelas mariposas durante o voo e, assim, entram em contato com a pele, provocando uma reação alérgica com bastante irritação e muita coceira. Ela disse, ainda, que não é necessário o contato direto com o inseto para ser afetado. Basta o voo, que pode liberar as cerdas, levadas pelo ar.

“Esse voo costuma ocorrer à noite. Não é à toa que os pacientes relatam que essa coceira é mais intensa no período noturno e, além de caírem sobre a superfície da pele, podem ficar sobre móveis, sobre roupas, se ficarem em contato com essas mariposas”, declarou Cláudia Ferraz.

Outro fator que ajudou os pesquisadores a fecharem o diagnóstico é o fato de não haver sintomas associados à coceira, como ocorre em quadros virais e de infecção. Não há dor de cabeça e mal estar, mas apenas a coceira, que pode durar entre sete e 20 dias, a depender da intensidade das erupções.

Tratamento

“O tratamento vai de acordo com intensidade dos sintomas. Lesões mais localizadas a gente geralmente conduz com a aplicação de medicações em creme, com corticoides, que têm poder anti-inflamatório, muitas vezes associados a anti-histamínicos, para reduzir essa coceira, e em casos muito acentuados, corticoides orais”, disse a dermatologista.

Também é recomendado que os pacientes apliquem compressas frias nas lesões, mas que, principalmente, procurem unidades de saúde para receberem tratamento adequado. Não é recomendada a automedicação.

“Se houver a percepção de mariposas na área, a gente recomenda a colocação de panos úmidos sobre as superfícies para remover possíveis cerdas depositadas naqueles locais. Outra orientação que a gente chama a atenção, também, é que evitem matar as mariposas. Elas são fundamentais no ciclo biológico e para o próprio equilíbrio da natureza. A gente é quem está margeando o local da mata, então, vamos aprender a lidar com esses ciclos naturais do animal”, afirmou.

Mariposa Hylesia

No Brasil, há mais de 50.000 espécies de borboletas e mariposas, incluindo as do gênero Hilesya, que têm papel fundamental na polinização das flores. Em seu desenvolvimento, esses insetos passam pelas fases de ovo, larva ou lagarta, pupa ou crisálida e adulto.

As fêmeas da mariposa Hylesia, que são as únicas que causam os acidentes com humanos, têm cor acinzentada e o corpo coberto por pequenos pelos, como cerdas, que têm o formato de flecha. Elas têm hábitos noturnos e costumam descansar em locais baixos durante o dia.

A envergadura das asas desse animal têm, no máximo, 4,5 centímetros. Elas se reproduzem especialmente em períodos em que o clima é mais quente, o que, na América do Sul, ocorre especialmente entre os meses de novembro e janeiro.

A espécie é considerada uma praga da fruticultura. Apesar de não ser vetor de doenças, a presença de mariposas geralmente causa aumento de casos de dermatite, devido ao contato humano com as cerdas desprendidas do corpo do inseto. Justamente pelo pequeno potencial danoso, há poucos estudos sobre a interação dessa espécie, explica o pesquisador.

A mariposa Hylesia pode ser encontrada em diversos locais do mundo e é bastante comum em todo o continente americano. De acordo com o professor Vidal Haddad Junior, surtos de dermatites causados por esses insetos, apesar de não serem tão comuns, estão longe de serem raros.

“Ela é comum na América toda. Às vezes dá surto na Venezuela. Em 2006, descrevi um caso em que havia uma infestação dessa mariposa dentro de um navio que chegou à Bahia. Os trabalhadores estavam todos arrebentados, porque, no meio do mar, elas não tinham para onde voar”, afirmou o professor.

O caso ao qual Vidal Haddad Junior chegou a ser notificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e foi descrito em um artigo científico. Havia 22 tripulantes no navio, que tinha bandeira filipina. Todos eles foram afetados por dermatites.

Mariposa Hylesia
Mariposa Hylesia
Mariposa Hylesia

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