Anderson Pires
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Jair Bolsonaro 09/Set/2021 às 20:44 COMENTÁRIOS
Jair Bolsonaro

A falta de unidade alimenta o bolsonarismo

Anderson Pires Anderson Pires
Publicado em 09 Set, 2021 às 20h44

De bolsominions arrependidos a militantes de direita e esquerda das mais diversas orientações, no balaio anti-bolsonaro cabem todos. As diferenças político-ideológicas serão tratadas nas eleições em 2022. Agora, não interessa quem tem razão sobre o que conduziu o Brasil a situação que vivemos

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(Imagem: Reprodução)

Anderson Pires*

Não existe show de fascismo sem público. A história está recheada de exemplos. Prova que a insanidade é um processo de troca. Quem alimenta o louco popular é a identidade, líder e seguidores se espelham. Assim, materializam juntos a vontade de expressar atos violentos, desumanos e antidemocráticos.

Essas figuras agem como psicopatas. Seguem uma moral própria e, dessa forma, entendem questões que regem as relações na sociedade conforme os valores que defendem e propagam. Muitos acreditam piamente serem homens e mulheres de bem. Entendem por liberdade de expressão toda e qualquer manifestação que lhes sejam convenientes, mesmo que atentem de forma flagrante contra a humanidade, a legislação e a Constituição.

O direito de expressão, o direito de ir e vir e outros que alguns gritam como previstos na legislação brasileira não podem ser entendidos com base moral. Expressar a vontade de matar alguém, defender a destituição por meio da força ou desrespeitar decisões da Justiça são alguns dos exemplos amplamente utilizados pela massa de insanos que alimentam o fascismo de Bolsonaro.

Mas por que essas questões se tornam maiores para essas pessoas que qualquer problema objetivo, como, a alta generalizada dos preços, a miséria que assola, as centenas de milhares de mortes na pandemia, a corrupção praticada pela família Bolsonaro e uma sorte de mazelas que acarretam piora na qualidade de vida da população?

Notem que nas manifestações promovidas por Bolsonaro e seus apoiadores não existem pautas a serem defendidas referentes a realizações, projetos ou investimentos que proporcionem melhorias e indicadores positivos para o país. A situação é tão evidente que, diante de comparações com outros governos, o bolsonarista apela para argumentos pueris, geralmente ligados a corrupção, como se o atual governo não tivesse corruptos. Esquecem dos processos e acusações a ministros, parlamentares, políticos, empresários e a própria família Bolsonaro.

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A dissonância se expressa e deixa claro que a corrupção não é uma questão ética para os seguidores de Bolsonaro. Apelam para a fuga da realidade, até porque grande parte dos bolsonaristas têm em comum a permissividade para crimes e delitos, a exemplo do estelionato, disseminação de informações falsas, sonegação, fraudes, corrupção e violências contra mulheres, negros e homossexuais. Ainda tem os que foram condenados e presos. Imagine um grupo em que seus ícones são Roberto Jeferson, o “Veio”da Havan, Sérgio Reis e outros maus exemplos de conduta ética e da própria moral conservadora que dizem defender.

No que importa se a gasolina já chega a sete reais em algumas cidades? Faz alguma diferença se o óleo de soja tem uma alta de mais de 80% em doze meses, ou se a carne já subiu quase 40%? E a inflação descontrolada, o PIB e a produção industrial em queda? A renda média despencou, a extrema pobreza e a fome voltaram, isso faz alguma diferença? Para quem apoia Bolsonaro, mesmo que todos esses problemas afetem negativamente suas vidas, o que interessa é o espelho que a principal autoridade do país representa.

Como se fossem portadores de alguma síndrome comportamental, constroem um mundo paralelo que lhes isenta de tudo aquilo que possa de alguma forma interferir na construção do mito, ou seja, na projeção do que são. Mesmo que não sejam majoritários na sociedade, a capacidade de produzir o mal é superlativa. Afinal, não estamos falando de dois ou três, temos alguns milhões de seguidores do fascismo de Bolsonaro potencialmente capazes de atitudes extremas para fazer valer as verdades que criam.

O que fazer diante desse cenário? Tem um ditado que diz: o remédio pra um doido é outro. Óbvio que ninguém vai defender respostas nos mesmos moldes das práticas dos bolsonaristas. Nesse caso, o doido chama pelo nome de mobilização social e ação imediata das instituições para coibir os absurdos e desmandos do presidente e seus seguidores.

Nesse momento, não cabe qualquer arrumadinho que deixe margem para que novas manifestações fascistas aconteçam. Também deve ficar claro que se o debate eleitoral prevalecer, não haverá coesão suficiente para que a oposição ao fascismo mostre seu verdadeiro tamanho. A unidade tática para conter a insanidade de Bolsonaro e seus apoiadores prevalece a qualquer outro objetivo estratégico. Existe uma questão urgente que deverá ser incorporada por todos que se opõem ao autoritarismo, a quebra do Estado de Direito e ataques a democracia.

É imprescindível uma resposta que deixe claro a existência de um ponto que une todos independente da posição política: o Brasil não pode ser vítima de mais um golpe a democracia. Os avanços obtidos não podem ser destruídos por parcela minoritária da população que se alimenta da própria loucura e canaliza o mal na figura do Presidente da República. É preciso responsabilidade. Deve-se deixar de lado debates que podem desviar do objetivo de conter o fascismo.

De bolsominions arrependidos a militantes de direita e esquerda das mais diversas orientações, no balaio anti-bolsonaro cabem todos. As diferenças político-ideológicas serão tratadas nas eleições em 2022. Agora, não interessa quem tem razão sobre o que conduziu o Brasil a situação que vivemos. Quem não entender isso, pode lamentar no futuro não ter mais espaços para debater as divergências.

*Anderson Pires é formado em comunicação social – jornalismo pela UFPB, publicitário, cozinheiro e autor do Termômetro da Política.

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