Lesão renal aparece em 71% das internações por coronavírus; condição é associada ao 'kit Covid'
Estudo mostra que 71,2% dos pacientes internados com Covid-19 no Brasil apresentavam lesão renal aguda. Condição está ligada ao tratamento com "kit Covid". Medicamentos são defendidos fortemente pelo presidente Jair Bolsonaro
![pacientes covid brasil](https://www.pragmatismopolitico.com.br/wp-content/uploads/2021/04/pacientes-covid-brasil.jpg)
Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que 71,2% dos pacientes internados com o coronavírus apresentavam lesão renal aguda (LRA). De acordo com a pesquisa, fatores como histórico de hipertensão e tratamento com medicamentos presentes no “kit Covid” estavam fortemente associados a essa condição nos rins. As informações são do UOL.
Segundo Miguel Angelo Goes, professor da disciplina de Nefrologia na Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), e um dos autores do estudo, foi feito uma análise retrospectiva dos pacientes internados que evoluíram com a lesão. “Olhamos para trás para entender que alterações no organismo poderiam levar a esse desfecho [LRA]”, disse.
Foram analisados 278 pacientes que foram internados no Hospital São Paulo por Covid-19 entre março e junho de 2020. Embora o principal motivo de internação tenham sido problemas respiratórios, o estudo observou que 198 pacientes evoluíram com LRA durante a internação e, desse número, metade deles precisavam de diálise — ou seja, já estavam em uma fase avançada de deterioração dos rins.
Dois grupos foram formados para a análise. Ao dividir os indivíduos entre aqueles que evoluíram para lesão renal aguda e os que não desenvolveram a condição. O resultado, segundo o professor, é que não houve diferenças em relação a idade, gênero, sobrepeso e quadro de diabetes entre os dois grupos.
Por outro lado, 70% dos indivíduos do grupo renal tinham hipertensão. Além disso, o uso de hidroxicloroquina com azitromicina foi associado a 50% dos casos de lesão renal aguda — entre os que não evoluíram para LRA, a frequência na utilização dessa combinação foi de 30%.
Hidroxicloroquina poderia inibir proteção do organismo
De acordo com o UOL, que ouviu o pesquisador, embora seja um estudo de associação, é possível levantar algumas hipóteses.
Uma delas é a de que a hidroxicloroquina poderia inibir a autofagia, um mecanismo de proteção do organismo, como já demonstraram pesquisas anteriores.
“Quando uma célula tubular renal está doente, ela digere a parte danificada, e a parcela que está saudável tem chance de evoluir, se proliferar e manter a sua função”, afirmou o professor Angelo Goes.
Alteração da função dos rins
A LRA acontece quando há uma alteração repentina na função dos rins, que deixam de filtrar as substâncias presentes no sangue. Ela é comum em indivíduos com infecção generalizada, conhecida como sepse — no caso da Covid-19, uma sepse viral.
Nessas situações, há uma alta produção de proteínas inflamatórias e uma dilatação dos vasos sanguíneos. Isso dificulta o transporte de sangue com oxigênio para os rins, o que pode matar as células renais e prejudicar o a atividade do órgão.
De acordo com o UOL, mais de metade dos pacientes também necessitou de ventilação mecânica e de drogas vasopressoras.
Para o pesquisador, o estudo não apenas auxiliou na compreensão da realidade nacional dentro do contexto de pandemia, como também abriu portas para entender e estudar medicamentos que atenuem a LRA, uma vez que essa alteração está relacionada a uma maior mortalidade em casos de Covid-19.
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“Se encontrarmos o fármaco e o resultado for significativo, poderemos expandir e tentar reduzir lesões também na região pulmonar”, afirma.