Blogueira vê vida virar de cabeça para baixo após filho do presidente Jair Bolsonaro compartilhar seu vídeo nas redes. Além das ameaças de morte seguidas por crises de pânico, a jovem perdeu o emprego
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) anunciou na última terça-feira (16/3) que abriu um processo contra a blogueira Tininha Mattos. O filho do presidente da República pede R$ 40 mil em reparações, mas essa não é a pior parte.
Para seus milhões de seguidores, Eduardo compartilhou o vídeo em que a influenciadora aparece, em tom de ironia, lamentando o fato de ter chegado atrasada ao trabalho e não ter conseguido realizar um atentado contra Jair Bolsonaro (sem partido). Naquele dia, o presidente estava visitando a cidade de Tininha.
Nas imagens que provocaram a ira dos bolsonaristas, Tininha afirma que Eduardo é a figura que ela “mais odeia” da família presidencial. “Vocês estão vendo isso aqui? Isso são lágrimas. Eu cheguei atrasada no trabalho, e descobri que o Bolsonaro estava aqui com todos os filhos, e eu perdi a oportunidade de fazer o escândalo do século”, disse a influenciadora no vídeo.
Ao compartilhar as imagens, Eduardo escreveu: “Não tenho menos honra por ser filho do presidente e tudo dito nestes vídeos ultrapassam em muito o limite de uma crítica ou brincadeira, principalmente após a facada”.
Tininha afirma que sua vida virou um inferno após Eduardo incentivar a militância a atacá-la. O vídeo viralizou nas redes de sustentação ao bolsonarismo e a influenciadora conta que os agressores não se limitaram a enviar mensagens para ela.
“Foram atrás do meu trabalho exigindo demissão, foram no Instagram da minha irmã me ofender por direct. Um indivíduo chegou até mesmo a ir no Instagram de uma amiga de infância comentar em uma foto nossa falando que eu estava com os dias contados e que iria morrer”, relata.
Além do encerramento do contrato de trabalho, os ataques também lhe renderam crises de pânico recorrentes e um medo constante. Medo este que a impede de prestar queixa formal pelos ataques. “Eu não sei se mexer nisso tudo pode me colocar ainda mais em risco”, explica.
A influenciadora reforça que seu vídeo era uma brincadeira e foi mal interpretado: “Era apenas uma brincadeira em tom nitidamente jocoso. E em seguida eu me retratei deixando muito claro que não tive nenhuma outra intenção que não fosse a de brincar ou fazer uma piada. Achar que eu represento real risco ao presidente e seus filhos chega a ser risível”.
Tininha lembrou do caso do youtuber Felipe Neto, que foi intimado a depor no âmbito da Lei de Segurança Nacional por ter chamado o presidente Jair Bolsonaro de genocida. “Veja bem, eu não sou o Felipe neto, eu não tenho a notoriedade do Felipe e a proteção que a mesma traz”. A denúncia contra Neto foi feita por um de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro.
A influenciadora conta que sempre foi criticada por usar suas redes para defender o feminismo e pautas de esquerda, mas os ataques nunca foram tão violentos como agora. Desta vez, Tininha chegou a ser hackeada e teve suas senhas divulgadas.
Bolsonaro e a Lei de Segurança Nacional
O uso da Justiça para intimidar opositores do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos é cada vez mais comum. No dia 4 de março, um jovem foi preso com base na mesma lei após publicar em seu Twitter uma mensagem comentando a visita do presidente Bolsonaro a Uberlândia.
Nesta semana, cinco jovens foram presos em Brasília por estenderem uma faixa de protesto contra o presidente na Praça dos Três Poderes. Eles foram acusados de infringirem a Lei de Segurança Nacional. Um deles, Rodrigo Pilha, foi enviado para o presídio da Papuda.
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