Barbárie

Mulher trans é abandonada na sala de cirurgia durante incêndio em clínica

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VÍDEO: O que seria um simples implante de próteses mamárias acabou em tragédia. Sedada, Lorena Muniz foi abandonada por equipe médica durante incêndio em clínica

Lorena Muniz (Imagem: reprodução)

Mariana Gonzalez, Universa

Lorena Muniz, uma mulher trans de Recife, teve a morte cerebral confirmada neste domingo (21), dias depois de ser deixada sedada por médicos em uma sala de cirurgia durante o princípio de incêndio na clínica em que colocaria próteses mamárias.

Segundo seu marido, Washington Barbosa, informou nas redes sociais, Lorena veio a São Paulo com uma amiga para realizar o procedimento, que era seu maior sonho. Aqui, ela chegou a receber anestesia e estava deitada na maca quando um curto circuito atingiu a clínica Saúde Aqui, na Liberdade, região centro de São Paulo.

A sedação e o curto-circuito teriam ocorrido na última quarta-feira (17), e Washington só soube do ocorrido dois dias depois, ao ver circulando nas redes sociais o vídeo de profissionais de saúde correndo para fora da clínica enquanto Lorena é deixada na sala de cirurgia.

A cena foi publicada pela vereadora Érika Hilton (PSOL-SP) e pela deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL-SP), gabinetes estão prestando apoio ao marido da vítima.

O gabinete de Malunguinho informou em nota que, segundo o marido de Lorena e testemunhas que estavam com ela no dia da cirurgia, a jovem só foi socorrida com a chegada dos bombeiros, que a levaram ao hospital.

Sou casado quase seis anos com uma mulher trans, que tinha o sonho de colocar silicone. Ela foi a São Paulo realizar a cirurgia com um médico bem famoso entre mulheres trans. Houve um curto-circuito na clínica na última quarta-feira ( 17), quando ela foi fazer a cirurgia. O ar condicionado pegou fogo, todos saíram correndo, ela ficou lá, sedada, inalando fumaça. Chegou a ficar sete minutos inconsciente, e isso gerou prejuízo na circulação do oxigênio no cérebro dela, e agora ela não está reagindo “, afirmou Washinton, em seu Instagram, na última sexta-feira (19).

Lorena morreu no pronto-socorro do Hospital das Clínicas, onde estava internada em estado grave há cinco dias, desde o ocorrido.

“Vida de Lorena valeu R $ 4 mil”

A Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) se manifestou na tarde de domingo, lamentando a morte de Lorena e lembrando que o implante de próteses mamárias é um sonho de mulheres de mulheres trans como ela.

Infelizmente, Lorena é mais uma vítima da opressão de gênero, da pressão estética e do estado de saúde específica da população trans. Este não é um caso isolado“, diz a Antra, em nota.

Segundo a associação, a clínica Saúde Aqui é muito procurada por mulheres trans de todo o Brasil, justamente por conta das longas filas de espera para a realização deste procedimento pelo SUS, e pelo preço relativamente acessível.

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No Instagram, o marido de Lorena, Washington, disse que ela desembolsou R $ 4 mil para realizar o sonho de colocar próteses mamárias. “R$ 4 mil reais. A vida de Lorena valeu R $ 4 mil reais, minha gente“, disse, chorando, ao anunciar a morte da esposa.

Há uma fila de espera de anos no SUS, que enfrenta dificuldades pela falta de investimentos e pelos congelamentos dos gastos em saúde, onde não há profissionais, hospitais e ambulatórios suficientes no país e que durante uma pandemia sofreu uma paralisação em cerca de 70% nas cirurgias para a saúde específica das pessoas trans. Todo esse cenário de descaso, aliados a transfobia institucional, faz com que grande parte da população trans acabe se submetendo a modificações corporais pouco planejadas, realizem procedimentos clandestinos ou sem o acompanhamento médico “.

Apoio de parlamentares e instituições

Depois que a morte de Lorena foi confirmada pelo Hospital das Clínicas, a vereadora Érika Hilton, a deputada estadual Erica Malunguinho e a Antra se manifestaram, publicando notas de pesar. Leia:

Erica Malunguinho afirmou que o procedimento pelo qual Lorena passava não era apenas estético, e que foi profundamente tocada pela morte da recifense. Ela disse: “Muitas meninas trans e travestis são vítimas de clínicas que realizam processos cirúrgicos que não garantem a segurança e qualidade dos procedimentos. É uma realidade no Brasil“.

Erica Malunguinho afirmou que o procedimento pelo qual Lorena passava não era apenas estético, e que foi profundamente tocada pela morte da recifense. Ela disse: “Muitas meninas trans e travestis são vítimas de clínicas que realizam processos cirúrgicos que não garantem a segurança e qualidade dos procedimentos. É uma realidade no Brasil“.

Érika Hilton se comprometeu a “lutar para que nenhuma vida mais se perca dessa forma“.

A Antra, por sua vez, prestou solidariedade a Washington, marido de Lorena, e disse que a vida de Lorena foi “ceifada pelo descaso“.

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