Redação Pragmatismo
Literatura 10/Dez/2020 às 17:20 COMENTÁRIOS
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Na Globo, Ana Maria Braga usa textos falsos para homenagear Clarice Lispector

Publicado em 10 Dez, 2020 às 17h20

Na Globo, Ana Maria Braga faz homenagem a Clarice Lispector com textos falsos da autora, cujo centenário comemora-se nesta quinta-feira

Ana Maria Braga e Clarice Lispector
Ana Maria Braga e Clarice Lispector

Em seu programa na TV Globo nesta quinta-feira (10), Ana Maria Braga homenageou o centenário de Clarice Lispector com textos falsos da autora. A gafe chamou a atenção de internautas e, sobretudo, dos fãs da escritora.

Ana Maria Braga lembrou que a romancista completaria cem anos hoje antes de declamar o primeiro trecho. “Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentiras. Não sei voar com os pés no chão”, disse a apresentadora, que emendou outra frase em seguida. “Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa qualquer entendimento”, arrematou.

Os dois trechos são falsamente atribuídos a Clarice Lispector e também circulam nas redes sociais sob autoria de Carlos Drummond de Andrade e da atriz Bruna Lombardi.

A primeira sentença é apontada na internet como um trecho de ‘Perto do Coração Selvagem’ (1943), que marcou a estreia de Clarice Lispector na literatura. No entanto, não é possível encontrá-la em uma consulta ao livro publicado pela editora Rocco.

O segundo texto é um velho conhecido dos brasileiros desde que o e-mail era utilizado para difundir conteúdos que hoje estão espalhados pelas redes. Em 2012, a revista Piauí chegou a fazer piada com a longa tradição da frase ser ligada a Clarice, ainda que fuja completamente à sua estética.

Clarice Lispector

Comparada a Virgínia Woolf e James Joyce, considerada hermética, permeada por experimentação linguística, entrelinhas e “silêncios”, com enredo praticamente inexistente e quebra das regras de pontuação — romance iniciando com vírgula e terminando com dois pontos, por exemplo — a obra de Clarice Lispector (1920-1977) não é de fácil leitura.

Ainda assim, a escritora é uma das mais citadas na internet — mesmo que, paradoxalmente, muitos dos textos e frases atribuídos a ela não sejam seus.

Em seu livro “Para amar Clarice – Como descobrir a apreciar os aspectos inovadores de sua obra”, a escritora e professora de literatura Emilia Amaral escreveu que Clarice Lispector “viveu e escreveu sob os signos da fascinação e paradoxo: adorada por muitos, eleita como objeto de várias tendências críticas, ao mesmo tempo avessa a diferenciações de gênero, entre outras categorias classificatórias. Bastante citada, adulterada, popularizada por um viés pseudofilosofante, a escritora é simultaneamente considerada hermética”.

Nascida Chaya (ou Haya, para alguns) Pinkhasovna Lispector, em Chechelnyk, na Ucrânia, ela chegou ao Brasil ainda bebê, em 1922, com sua família que fugia para o Brasil devido à perseguição aos judeus depois da Revolução Russa de 1917.

Os Lispector chegaram a Maceió, de onde mudaram para Recife, em 1924, e daí para o Rio de Janeiro, em 1935, cidade em que se estabelecem definitivamente.

No Brasil, os membros da família aportuguesaram seus nomes. O pai Pinkhas ou Pinkhouss passou a ser Pedro, e a mãe Marian ou Mania transformou-se em Marieta. Das filhas, Leah virou Elisa; Tcharna, Tânia; e Chaya, Clarice.

Casada com um diplomata brasileiro, a escritora morou fora do país de 1944 a 1959 (Itália, Suíça, Inglaterra e Estados Unidos), quando se separou e retornou ao Brasil, onde viveu até sua morte, em 9 de dezembro de 1977, um dia antes do seu aniversário de 57 anos.

Em relação à obra de Clarice, Noeli Lisbôa, mestre em Teorias do Texto e do Discurso, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz que nos romances praticamente não há enredo.

“De tal modo que a escritora afirma em Água Viva: ‘gênero não me pega mais’, porque ela rompe realmente com a estrutura dos gêneros literários”, explica. “O que me interessa realmente na Clarice é o questionamento que ela faz da linguagem, de seus limites, de sua incapacidade de expressar a vivência humana. Há duas frases dela que são expressivas disso: ‘Viver não é relatável’ e ‘A realidade não tem sinônimos’. A obra dela me parece extremamente importante, porque é inovadora exatamente neste questionamento que faz da linguagem.”

com informações de BBC

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