Redação Pragmatismo
Mundo 07/Out/2020 às 17:34 COMENTÁRIOS
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Bolsonaro, Globo, cocaína e Felipe Melo: o que se sabe sobre o caso Robson Oliveira

Publicado em 07 Out, 2020 às 17h34

Caso Robson Oliveira ganhou repercussão após o presidente Jair Bolsonaro declarar que vai tentar ajudar o brasileiro detido na Rússia há mais de 560 dias

robson oliveira
Motorista Robson Oliveira seria inocente e uso de cocaína teria influenciado Justiça russa a mantê-lo preso (Divulgação)

Robson Oliveira está há mais de 560 dias preso na Rússia, após viajar a Moscou com duas caixas do remédio Mytedom 10mg (cloridrato de metadona). O brasileiro chegava ao país com sua mulher Simone Barros para trabalhar na casa do jogador Fernando, que naquele momento era atleta do clube Spartak Moscou.

O tempo que Robson está na prisão gerou uma comoção recente nas redes sociais e fez com que o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), declarasse que tentará ajudar o brasileiro.

Como tudo começou. Em novembro de 2018, a família do volante Fernando, ex-Grêmio e na época no Spartak Moscou, convidou a cozinheira Simone Barros para trabalhar para eles no país europeu. Ela aceitou e conseguiu que seu marido Robson Oliveira também fosse contratado como motorista. Os dois viajaram em 9 de fevereiro de 2019 para a Rússia. A história foi contada pelo programa “Esporte Espetacular”, da TV Globo, em setembro do ano passado.

Antes de viajar, Sibele, sogra de Fernando, pediu que o casal levasse três malas com encomendas da família do jogador, que foram entregues já no Aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro, por um funcionário identificado como Leandro.

Ao chegar em Moscou, Robson e Simone foram parados pela fiscalização do Aeroporto de Demodedovo. A sogra do atleta somente havia alertado sobre a presença de alianças na bagagem. As malas foram abertas e, em meio a roupas de criança (a mulher de Fernando, Raphaela, estava grávida), os agentes encontraram duas caixas do remédio Mytedom 10mg (cloridrato de metadona), comprimido usado por pacientes que convivem com dores fortes ou realizam tratamento contra o vício em ópio ou heroína. Na Rússia, no entanto, esta substância é tratada como entorpecente.

O casal ficou detido por 17 horas no aeroporto. Os exames de urina, sangue e cabelo feitos em Robson mostraram vestígios de uso de cocaína. O advogado dele, Olímpio Soares, admitiu à TV Globo que seu cliente fez uso da droga em uma festa de despedida no Rio de Janeiro antes da viagem. O teste feito pelas autoridades russas e a perícia psiquiátrica mostraram que ele não era, de fato, dependente desta ou de outras substâncias.

Em 18 de março, Robson dirigiu com Fernando e Raphaela para a delegacia de polícia do Aeroporto de Demodedovo. Para fazer a defesa do motorista, eles deveriam levar William Pereira de Faria, pai de Raphaela e dono dos remédios, além de um atestado médico redigido em inglês que comprovava que o sogro de Fernando era dono dos medicamentos.

William, no entanto, não compareceu nem os documentos foram apresentados. A família alegou que o sogro de Fernando estava com muitas dores e não poderia comparecer. Robson está preso desde então.

Fernando disse que não conhecia Robson

No depoimento que deu em 6 de junho de 2019, Fernando disse não conhecer Robson nem saber como os remédios foram entregues a ele no Brasil. O volante ainda disse que não mantinha contato com o sogro.

Seis dias depois, Raphaela também prestou depoimento e manteve a versão de que o casal não conhecia o motorista. Ela afirmou que mantinha um relacionamento distante com seu pai, apesar de postar constantes fotos com ele nas redes sociais.

Em vídeos na época da reportagem, Fernando deu outra versão ao “Esporte Espetacular” e afirmou que os remédios apreendidos pela polícia eram para seu sogro. “Falei desde o primeiro momento, quando eles foram parados no aeroporto, a gente imediatamente mandou o prontuário, receita, passaporte do meu sogro, tudo que fosse necessário pra provar que o remédio era do meu sogro, porque realmente o remédio era do meu sogro”.

Após Robson completar mais de 560 dias preso na Rússia, uma campanha por sua liberdade teve início nas redes sociais com a hashtag #JustiçaparaRobson. O atacante Richarlison, do Everton e da seleção brasileira, foi um dos que publicaram um pedido de ajuda ao motorista.

“Um brasileiro em apuros na Rússia. Robson Oliveira está preso em Kashira, na Rússia, há mais de um ano por um crime que não cometeu”, escreveu.

Fernando rompe silêncio

A reação nas redes sociais fez com que Fernando voltasse a se manifestar depois de muito tempo em silêncio. Ele se defendeu, falou que seu lado da história foi distorcido e atacou, sem citar nomes, a Rede Globo, que fez reportagens sobre o caso.

“Preferi não falar por algum tempo publicamente, porque em todas as vezes que me coloquei à disposição, sem exceção, tive as informações que forneci manipuladas, omitidas e distorcidas por interesses que não eram o de mostrar ao público o que houve de forma imparcial”, declarou.

Em sua fala, Fernando disse que estava arcando com os custos da defesa de Robson na Rússia. “Além disso, mandamos dinheiro para o Robson na prisão para que ele compre itens necessários no seu dia a dia”. O jogador também divulgou fotos do que diz serem comprovantes de dinheiro enviado a Robson e pagamento de advogado de defesa do ex-motorista.

Em nota enviada ao blog do Mauro Cezar Pereira, o advogado brasileiro de Robson, Olimpio Soares, criticou as declarações do volante e afirmou que o jogador pensa no dinheiro, não na liberdade do motorista. Além de Olimpio, Robson é defendido na Rússia por Pavel Gerasimov.

Bolsonaro antede Felipe Melo

O governo brasileiro entrou no caso ontem (6). Em suas redes sociais, Fernando disse ter conversado com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para ajudar Robson. “Me coloquei à disposição para seguir colaborando no que for necessário e estou confiante de que todas essas ações que estamos realizando em conjunto ajudarão o Robson a provar sua inocência”, escreveu o volante.

Também em suas redes sociais, Bolsonaro disse que tentará diplomaticamente o retorno do motorista ao Brasil. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também atua no caso.

“Hoje serei orientado pelo Ministro Ernesto Araújo para um possível contato com Presidente Vladimir Putin. Entramos no caso e o Brasil buscará, diplomaticamente, o retorno de Robson ao Brasil”, disse Bolsonaro, que afirmou ter tomado conhecimento do caso por meio do volante Felipe Melo, do Palmeiras.

Reviravolta

O caso de Robson teve uma reviravolta depois que a juíza que comandava o caso se aposentou. Com isso, o processo foi reiniciado. Em entrevista ao blog do Mauro Cezar Pereira, em abril deste ano, Pavel Gerasimov, o outro advogado de Robson, afirmou que a estratégia da defesa era de conseguir uma pena menor para o brasileiro e a extradição para o Brasil.

“Ele não tem chance [de ser absolvido], porque existe um crime. Se a ação for reconhecida como crime cumulativo, a melhor opção para ele será uma pena de sete anos. Se o Tribunal declarar um crime cumulativo, neste caso, a pior opção a ser esperada é o prazo de 15 anos”, explicou.

“A estratégia de defesa é provar a ausência de intenção de vender os medicamentos no território da Federação Russa, a fim de evitar um julgamento de acordo com este artigo e também cooperar com a investigação. Se o Brasil estiver pronto para recuperá-lo e solicitar sua extradição após a sentença, ele será transferido para o Brasil em um ano”, completou.

informações do UOL Esporte

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