Redação Pragmatismo
Mulheres violadas 16/Out/2020 às 15:25 COMENTÁRIOS
Mulheres violadas

A história da mãe assassinada por investigar o feminicídio da filha

Publicado em 16 Out, 2020 às 15h25

A primeira morte de Marisela foi quando sua filha de 16 anos foi assassinada. A segunda, quando a Justiça absolveu o autor do crime. A terceira, quando levou um tiro na cabeça enquanto investigava por conta própria o assassinato da filha

Marisela Escobedo
Marisela Escobedo

via BBC

A primeira morte de Marisela Escobedo foi quando sua filha de 16 anos foi assassinada. A segunda, quando a Justiça mexicana absolveu o assassino. A terceira, quando em dezembro de 2010, levou um tiro na cabeça que acabou com sua vida.

Em 2008, a mexicana deixou de ser apenas uma mãe que lamentava a morte de sua filha, Rubí Marisol Frayre, para se tornar uma ativista de direitos humanos que buscava justiça diante da omissão das autoridades para esclarecer o caso.

A história de Marisela é contada agora, quase dez anos após seu assassinato, no documentário As três mortes de Marisela Escobedo, dirigido por Carlos Pérez Osorio, que acaba de ser lançado em uma plataforma de streaming.

Rubí foi assassinada em agosto de 2008 em Ciudad Juárez, no estado de Chihuahua, no norte do México. O assassino, Sergio Rafael Barraza, era seu companheiro. Ele jogou os restos mortais da jovem em um depósito de porcos, onde foram encontrados meses depois do crime.

Diante da passividade das autoridades, Marisela se tornou investigadora e deu início a uma saga para localizar Barraza e levá-lo à Justiça.

Ela o encontrou no estado de Zacatecas e consegui que fosse preso em 2009. Barraza se declarou culpado. No entanto, ele foi libertado meses depois, porque a promotoria de Chihuahua não conseguiu provar que ele havia cometido o crime.

Um tribunal superior depois alterou a decisão que havia permitido a libertação de Barraza, mas ele já havia escapado. Marisela tornou-se então ativista da luta contra a impunidade no México.

Protestos

Escobedo passou a exigir publicamente a recaptura do assassino de sua filha. Participou de marchas e fez pedidos às autoridades. Em uma ocasião, ela caminhou pelas ruas de Ciudad Juárez com uma foto do assassino de sua filha colada ao corpo.

Depois de tentar quase tudo, em 8 de dezembro de 2010, começou uma vigília em frente ao Palácio do Governo de Chihuahua. Foi lá que, em 16 de dezembro de 2010, um desconhecido a abordou.

Depois de trocar algumas palavras, a mulher começou a correr. O homem a alcançou e a matou com um tiro na cabeça, antes de fugir em um carro. Marisela nunca viu o assassino de sua filha voltar para atrás das grades.

Barraza morreu em 16 de novembro de 2012 em um confronto com militares no estado de Zacatecas, justamente o local que Marisela havia indicado como paradeiro do assassino de sua filha.

Desde 2010, a Promotoria de Chihuahua atuava em conjunto com a Interpol e outras organizações, como o Exército e a Polícia Federal Mexicana, para capturá-lo. Barraza também havia sido identificado como autor intelectual do assassinato de Marisela.

José Enrique Jiménez Zavala, acusado pelo assassinato de Marisela, morreu na prisão, supostamente estrangulado por seu companheiro de cela.

Dez mulheres assassinadas por dia

Para os criadores de “As Três Mortes de Marisela Escobedo”, o documentário é um exemplo dos fracassos da Justiça no México, país onde dez mulheres são assassinadas por dia e onde a impunidade nesses casos é de 97%.

“Sem dúvida, este documentário mostra como o sistema de Justiça no México está completamente podre e, infelizmente, continua assim”, disse a produtora Laura Woldenberg, em entrevista à agência EFE.

Rubí, filha de Marisela, está na lista das “mortas de Juárez”, que inclui mais de 700 mulheres assassinadas entre as décadas de 1990 e 2000. Hoje, esses casos são reconhecidos como feminicídios, assassinatos por violência sexista ou de gênero.

A história de Marisela é um retrato do que ainda acontece no México, onde as falhas do sistema judicial levam vítimas destes crimes a buscar justiça por conta própria.

“Dez anos depois, a situação mudou: já temos o termo ‘feminicídio’, já entendemos que este é um problema nacional, que é uma questão de violência de gênero, mas ainda temos dez assassinatos violentos de mulheres por dia”, disse Woldenberg.

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