Redação Pragmatismo
Ciência 04/Set/2020 às 15:41 COMENTÁRIOS
Ciência

Casal que encontrou meteorito gigante no sertão diz que vive "pesadelo"

Publicado em 04 Set, 2020 às 15h41

"Virou um pesadelo. Passamos dias sem comer e dormir". Casal recebeu ofertas de até R$ 120 mil de estrangeiros que estão na cidade atraídos pelo caso. Meteoritos são da época da formação do sistema solar, dizem cientistas

meteorito casal

As pessoas que encontraram fragmentos da chuva de meteorito que caiu no município de Santa Filomena, no sertão pernambucano, no dia 19 de agosto, estão vivendo dias bastante agitados.

Quem achou os fragmentos está ganhando dinheiro com o comércio das pedras, que são negociadas com pesquisadores e “caçadores” de meteoritos.

No entanto, além de dinheiro, os achados os achados trouxeram medo e tensão. Pelo menos é o que relata o morador que encontrou o maior meteorito no município: uma peça de 38,2 kg.

“Isso virou um pesadelo. A gente passou uns dias sem comer e dormir. O objeto tem valor e todos têm interesse aqui, não são só os daqui. Se não tivesse valor, ninguém viria atrás, até do exterior”, relatou a esposa do homem em entrevista à Rede Globo.

No momento da chuva dos fragmentos em Santa Filomena, o morador disse que ouviu o estrondo, mas só ficou sabendo do que se tratava depois. Dias após o fenômeno, ele decidiu procurar em sua propriedade se as pedras haviam caído por lá ou na região, na zona rural do município.

“Na quinta-feira (27/8), um morador me deu informação de onde houve um grande abalo, um estrondo, uma pancada, como se tivesse enfiado algo no chão. Ele me informou uma localização. Comecei as buscas no amanhecer. Quando foi por volta das 8h30 da manhã, consegui localizar a pedra”, conta.

Segundo ele, o fragmento estava enfiado no solo. “Eu retirei e levei até uma estrada aproximadamente 2 km de distância dali, na mão, dentro da Caatinga, até chegar na minha moto. Aí trouxe para a cidade”, relata.

Ainda sem acreditar no tamanho do achado, o homem procurou os pesquisadores para informar sobre a pedra de quase 40 kg que tinha caído em sua propriedade. Mas a repercussão do comércio das pedras foi tamanha que acabou com o sossego da família.

“A gente acha uma pedra dessa, e o pessoal já pensa que a gente virou milionário. Não é bem assim. A gente está muito tenso”, disse o homem que encontrou o meteorito.

O diretor-secretário da Sociedade Brasileira de Geologia e professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fábio Machado, analisou imagens da pedra encontrada pelo morador de Santa Filomena. “Precisamos de testes para cravar que é do tipo condrito, mas é um meteorito. É uma importante amostra”.

Início do sistema solar

Meteorito do tipo condrito é um mineral importante para a ciência porque tem mesma composição química do início do sistema solar, formado há mais de 4,6 bilhões de anos.

“Os condritos são os melhores fragmentos de meteoritos para se estudar a formação do sistema solar porque representam fielmente a composição química no início da formação dos planetas rochosos. Isso quer dizer que as pedras que caíram em Santa Filomena são mais antigas que a própria Terra”, explica Machado.

O professor ainda explica que, antes de entrarem na atmosfera terrestre, os fragmentos que choveram em Santa Filomena eram, provavelmente, uma peça só. Mas o tamanho exato é difícil de prever. “Quando o meteoro entra na atmosfera terrestre, ele queima, então se divide em vários fragmentos”, explica Machado.

“A maioria dos meteoritos que caem são deste tipo. Mas eles são muito importantes, porque eles mostram a formação do sistema solar. Eles são relíquias que não se modificaram desde a época da formação do sistema solar, há 4,56 bilhões de anos atrás”, afirmou a pesquisadora, curadora do Setor de Meteoritos do Museu Nacional de Meteoritos da UFRJ, Maria Elizabeth Zucolotto.

Quanto vale

Algumas pedras foram comercializadas pelos moradores à caçadores de meteoritos estrangeiros por até R$40 o grama, o que faria do meteorito de quase 40 kg ter um valor milionário. Um amigo que tem representado a família na comercialização da pedra contou que os mesmos caçadores ofereceram, contudo, ‘apenas’ R$120 mil.

“A gente teve proposta, mas foi gente querendo se aproveitar e isso não nos interessa. Não temos pressa em negociar a pedra de forma alguma. A gente não deu preço a essa pedra. Não tivemos negociação com ninguém”, enfatizou a esposa do homem que encontrou a pedra.

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