Redação Pragmatismo
Notícias 07/Set/2020 às 21:36 COMENTÁRIOS
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Ataque a Marcelo Adnet por canal oficial do governo é mais um ensaio de ditadura

Publicado em 07 Set, 2020 às 21h36

Mario Frias vs Adnet: Caso é mais uma triste evidência de que a Secom tem atuado como órgão de propaganda política e de repressão a críticos do governo. Dessa forma, reproduz modelos que já foram adotados por ditaduras de direita e de esquerda em todo mundo

Mario Frias Adnet
Mario Frias e Adnet

Leonardo Sakamoto, em seu blog

Marcelo Adnet foi alvo da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República e do secretário especial de Cultura, Mario Frias, após divulgar uma paródia sobre um vídeo de uma campanha do governo federal sobre “heróis brasileiros”.

Frias, que protagoniza o vídeo, chamou o humorista de “crápula”, “criatura imunda” e “bobão”. A postagem de uma foto de Adnet pela Secom, afirmando que ele faz “pouco caso dos brasileiros”, em suas redes sociais oficiais, levou a uma enxurrada de ataques bolsonaristas contra ele.

O caso é mais uma triste evidência de que a secretaria tem atuado como órgão de propaganda política, mas também de repressão a críticos do governo. Reproduz dessa forma modelos adotados por ditaduras de direita e de esquerda em todo mundo.

E lembra as piores práticas de nossos próprios períodos autoritários. Não apenas as da última ditadura militar (1964-1985), tido como exemplo pelo presidente da República, mas também às do antigo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945).

O DIP funcionou como um instrumento de promoção pessoal de Vargas , de sua família e das principais autoridades de seu governo. Ao mesmo tempo, atuava na coerção da crítica e da liberdade de expressão, no combate a qualquer ideia que o Estado Novo considerasse perturbadora da unidade nacional e na censura das artes e do jornalismo.

No intuito de defender interesses pessoais do presidente e de seus assistentes, a Secom tem sido acusada de perseguição política. E de ferir a impessoalidade e a probidade da administração pública ao se utilizar de uma conta oficial do governo para atingir cidadãos por emitirem opiniões contrárias às do presidente.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que vai acionar o Ministério Público Federal e pedir para o Congresso Nacional investigarem a ação do órgão. Esperemos que o novo melhor amigo de Bolsonaro, o centrão, permita.

Adnet não foi o primeiro

No dia 3 de fevereiro, por exemplo, a secretaria usou sua conta no Twitter para atacar a cineasta Petra Costa, diretora do documentário “Democracia em Vertigem”. A obra conta a trajetória dos governos petistas, passando pelo impeachment de Dilma Rousseff até à crise política atual. Finalista do Oscar, Petra havia tecido críticas contra o governo Bolsonaro para uma TV pública norte-americana.

“Nos Estados Unidos, a cineasta Petra Costa assumiu o papel de militante anti-Brasil e está difamando a imagem do País no exterior. Mas estamos aqui para mostrar a realidade. Não acredite em ficção, acredite nos fatos”, postou a Secom. Isso gerou ameaças contra ela por grupos de fãs do presidente.

Ataques à democracia

Como uma postagem, em 10 de março deste ano, em que reforçou a “legitimidade” de uma manifestação bolsonarista que ocorreria cinco dias depois. “As manifestações do dia 15 de março não são contra o Congresso nem contra o Judiciário. São a favor do Brasil”, afirmou em uma postagem na qual transcreveu frase de Bolsonaro.

No dia 15 de março, a “manifestação legítima” pediu o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Em frente ao Palácio do Planalto, participantes gritavam “AI-5! AI-5! AI-5! AI-5!”, enquanto Bolsonaro acenava a eles. Decretado pela ditadura militar, em dezembro de 1968, o Ato Institucional número 5 deu poderes para que o presidente fechar o Congresso, estabelecer a censura e descer o cacete geral.

Saúde em risco

Nesta semana, após Bolsonaro defender que “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina” contra o coronavírus, incendiando o naco ultraconservador de seus seguidores, a Secretaria de Comunicação Social reforçou o recado. Usou um canal institucional para dizer que ninguém será obrigado a tomar nada.

Ou seja, utilizou recursos públicos em uma plataforma pública para bombar posicionamento ideológico do presidente. Pior, para cometer um crime contra a saúde pública. Diante da repercussão negativa, a Secom voltou a postar. Disse que “o Brasil é uma democracia, o governo é liberal e seu presidente não é um tirano”.

A secretaria sabe que, quando se fala em obrigatoriedade de vacina, isso não significa picar cidadãos à força, como acontecia há mais de cem anos. Mas restringir acesso a determinados direitos, por exemplo. O próprio Ministério da Cidadania afirma que manter a vacinação das crianças em dia é condicionante para continuar recebendo o Bolsa.

Sabe, mas ajusta as balizas republicanas às necessidades de Bolsonaro. Dessa forma, sua função tem ido muito além de levar informação para garantir qualidade de vida à população. Tornou-se um serviço de propaganda aos interesses de seu líder. E o que é público vira privado.

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