Redação Pragmatismo
Saúde 04/Jun/2020 às 22:53 COMENTÁRIOS
Saúde

Brasil ultrapassa Itália em número de mortes em dia de novo atraso do governo

Publicado em 04 Jun, 2020 às 22h53

Governo Bolsonaro atrasa mais uma vez divulgação do balanço da pandemia do coronavírus para evitar cobertura dos telejornais. Pelo terceiro dia consecutivo, Brasil bate recorde diário de mortos e ultrapassa a Itália em número total de óbitos

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(Foto: AP Photo/Felipe Dana)

O Ministério da Saúde divulgou no final da noite de hoje que o Brasil teve 1.473 mortes decorrentes do coronavírus em apenas 24 horas. O País agora acumula 34.021 óbitos. Já são três dias consecutivos de recorde diário de mortos — ontem foram contabilizados 1.349.

Os números atualizados hoje fazem do Brasil o terceiro país que mais perdeu vidas para a covid-19 nesta pandemia. O País ultrapassou a Itália, que registra 33.689 mortes, e agora está atrás apenas de Reino Unido (39.904) e Estados Unidos (110.144), segundo os dados oficiais de cada país.

A Itália registrou seu primeiro caso de covid-19 em 31 de janeiro, portanto cerca de um mês antes do que o Brasil. A doença alcançou o pico de contaminação entre os italianos na segunda quinzena de março e desde então retraiu consideravelmente. Segundo dados do governo local, o número de novos casos registrados na Itália hoje foi de 177, o menor desde fevereiro.

Se a Itália está do lado de lá do pico da pandemia, o Brasil ainda vive a escalada da doença. O Ministério da Saúde contabilizou 30.925 diagnósticos hoje, portanto 174 vezes mais do que os italianos. A diferença é clara quanto aos números de casos ativos da covid-19 em cada país: são 38.429 na Itália e 325.984 no Brasil.

A diferença já fica clara nos dados oficiais, mas na vida real é ainda maior devido à taxa de testagem dos dois países. A Itália fez mais do que o dobro de exames do que o Brasil, mesmo não tendo nem sequer um terço da população brasileira. A taxa italiana é de 66,7 exames a cada 1.000 habitantes; a do Brasil é de apenas 8,7, segundo o Ministério da Saúde.

Cloroquina e Lockdown

Diferentemente do Brasil, a Itália começou a aderir ao lockdown apenas três semanas após registrar o primeiro caso. As restrições foram impostas a pequenas cidades da Lombardia em 22 de fevereiro, estendidas à região inteira 14 dias depois, e em 9 de março o país inteiro já estava em lockdown.

Foram dez semanas assim até o isolamento começar a ser flexibilizado, na metade de maio. Quando começou a reabrir, a Itália já registrava menos de 500 novos casos de covid-19 por dia, o que motivou o primeiro-ministro Giuseppe Conte a caracterizar a decisão como “risco calculado”. Desde então, os casos seguem diminuindo.

Os italianos também proibiram a cloroquina, que no Brasil é tratada como panaceia pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e parte de seus apoiadores.

Balanço atrasado

Os atrasos na divulgação do balanço do panorama da pandemia no Brasil preocupa médicos e cientistas.

“Não consigo avaliar a real intenção por trás disso, mas se a comunicação não se dá de forma ágil e transparente, isso com certeza atravanca ainda mais o debate sobre o assunto e a formação de políticas públicas. Se o Ministério pudesse atualizar os dados mais rapidamente e de forma mais transparente, traria uma dinâmica muito melhor. Isso [o atraso] pode nos dar uma falsa sensação do estado atual das coisas”, explicou Natanael Adiwardana, infectologista do Hospital Emílio Ribas.

Para Paulo Lotufo, epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o atraso na divulgação visa conter a repercussão negativa que grandes aumentos nos números têm na cobertura da imprensa.

“Estão tirando para não sair no jornal. É de certa forma uma censura. Eles tentam segurar ao máximo; a saída para isso é basear [o noticiário] direto nos dados das secretarias”, denunciou.

“O Ministério da Saúde está sem ministro, com dois ministros que saíram em menos de um mês. Essa situação é complicada. O nosso risco agora é de um apagão técnico. E que eu acho que é isso que está acontecendo”, afirmou Bernadete Perez, vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Agência Estado

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