Redação Pragmatismo
Mulheres violadas 03/Mar/2020 às 12:50 COMENTÁRIOS
Mulheres violadas

Professora publicou desabafo nas redes horas antes de ser morta pelo ex

Publicado em 03 Mar, 2020 às 12h50

Horas antes de ser morta pelo ex-namorado, professora de 28 anos desabafou sobre casos de feminicídio no Brasil. Assassino é guarda municipal e tinha curso para atuar em casos de violência contra a mulher. Mesmo foragido, homem tem feito publicações nas redes

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Maxelline compartilhou publicação sobre feminicídio 24 horas antes de ser morta pelo ex

O guarda municipal Valtenir Pereira da Silva, de 35 anos, está foragido após matar a ex-namorada Maxelline da Silva dos Santos, de 28 anos. O crime ocorreu em Campo Grande (MS) na noite do último sábado (29/02).

Maxelline, que era professora, foi executada com um tiro na cabeça. No momento do crime, ela participava de um churrasco na casa de amigos.

Uma outra amiga de Maxelline foi ferida nas costas. Camila Telis Bispo, de 31 anos, está internada na Santa Casa de Campo Grande e respira sem a ajuda de aparelhos.

Steferson Batista de Souza, de 32 anos, tentou intervir para ajudar as mulheres, mas também foi alvejado pelo guarda. Ele levou um tiro no tórax e morreu. Steferson era casado com Camila.

Maxelline e Valtenir namoraram por 7 meses, mas o guarda não aceitava o fim do relacionamento. No último dia 17 de fevereiro, a vítima registrou um boletim de ocorrência contra o ex-namorado, solicitando medida protetiva de urgência.

De acordo com a delegada Fernanda Felix, da Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher), Valtenir foi notificado no dia 24 de fevereiro para não se aproximar da mulher. No entanto, guarda não respeitou a ordem da Justiça e, cinco dias depois, matou a ex-namorada.

A delegada informou ainda que, em 2014, Valtenir já havia sido denunciado por agredir uma outra ex-namorada, a quem ameaçou com uma faca. Nessa época ele já fazia parte da guarda-municipal de Campo Grande.

Última mensagem

A última publicação de Maxelline nas redes sociais é uma espécie de premonição trágica. Em seu perfil no Facebook, ela compartilhou um texto que retrata a angústia sobre o número de mulheres vítimas de feminicídios no Brasil.

“Se o coronavírus matasse 1 pessoa a cada 2 horas, totalizando 4.476 mortes em 1 ano, estaríamos completamente em pânico! No Brasil, uma mulher é morta a cada 2 horas e ninguém quer enxergar isso como uma epidemia,” dizia a publicação.

Também pelas redes sociais, uma amiga da professora comentou que ela temia pela vida. “Que não seja apenas um número”, escreveu a jovem.

Curso anti-violência doméstica

Valtenir Pereira da Silva concluiu em dezembro de 2019 um curso de capacitação de atendimento às situações de violência contra a mulher.

O curso aconteceu para ampliar o número de guardas com essa capacitação diferenciada, para identificação dos casos de violência doméstica, além de fazer o devido encaminhamento para a Casa da Mulher.

Valtenir é procurado por feminicídio, homicídio e por tentativa de homicídio. Nas redes sociais, o homem exibia apoio a Jair Bolsonaro. Durante a eleição de 2018, ele chegou a usar um avatar em homenagem ao então candidato.

Publicações do guarda

Mesmo foragido há 72 horas, o guarda municipal tem feito publicações nas redes. Pessoas que mantêm o número de celular de Valtenir fizeram cópias das mensagens publicadas em status — em que as postagens duram 24h. “Adeus a todos que estiveram comigo. Porque a essa vida, já não pertenço mais”, diz umas das mensagens.

Em outra mensagem, ele diz: “Deixo aqui meu recado de Adeus a todos…Meus filhos, meus irmãos, meu pai, meus companheiros de serviço. O coração e a mente do ser humano mesmo fortalecidos não deixam de ser fraco; essa fraqueza que nos leva a cometer atos impensados; o desespero nos leva ao inferno, e o que vc faz não tem volta; se meu destino é o inferno, eu não sei, mas é o que mereço”.

Família

“Como um cara desses pode ser guarda municipal?”, questionou um primo de Steferson durante o velório. Ele lembra que o guarda já respondia processo administrativo por agressão. “Como ainda podia ter posse de arma?”, reclama.

“Não adiantou de nada a medida protetiva. A Polícia não vê ameaça como crime. A partir do momento que um homem ameaça uma mulher, já devia ser preso”, protesta o irmão mais velho de Maxelline — único em condições de falar com a imprensa durante o velório. “Ele agora pode até ser preso, mas minha irmã vai para o caixão”, acrescenta.

Maxelline era motivo de alegria para a família. No início do ano, ela finalmente foi aprovada em concurso público municipal para trabalhar como professora.

No sábado, o feminicídio acabou com o sonho e a paz da família toda. “Estou tentando não chorar, mas por dentro estou despedaçado. Ele destruiu minha família. Ela era maravilhosa como irmã e como amiga”, finaliza o irmão.

Maxelline e Valtenir

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