Saúde

Governador do Acre desiste de seguir Bolsonaro após ouvir frase apavorante de Mandetta

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Pressionado, governador do Acre iria seguir recomendação do presidente Jair Bolsonaro e "abrir tudo", mas desistiu após telefonema com o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta: “Chame os donos das funerárias e mande eles se prepararem”

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (Imagem: Guilherme Mazui)

O Brasil vive hoje um dilema inglório no combate ao coronavírus. De um lado, governadores, prefeitos, cientistas, profissionais da saúde e autoridades sanitárias. Do outro, Jair Bolsonaro, seus filhos, Olavo de Carvalho e o chamado “rebanho”, cada vez mais reduzido a figuras extremas e autoritárias.

A princípio, todos os governadores do Brasil seguiram as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das principais pesquisas internacionais e adotaram medidas de isolamento para conter a propagação do coronavírus.

No entanto, o que se vê agora em algumas localidades é o afrouxamento dessas medidas por conta da pressão do presidente Jair Bolsonaro para priorizar a economia em detrimento à saúde.

Em Santa Catarina, o governador Comandante Moisés (PSL), aliado de Jair Bolsonaro, foi o primeiro a anunciar a retomada das atividades econômicas e serviços no estado, colocando fim ao isolamento social. A medida incluía a reabertura de academias, shoppings, bares e hotéis. Houve carreatas no estado que o pressionaram para essa direção.

Em um comunicado de última hora, o governador desistiu de encerrar a quarentena no estado e sinalizou que prorrogará as medidas de isolamento social, “para que o sistema de saúde esteja preparado para combater os efeitos do coronavírus em Santa Catarina”.

Em vídeo divulgado em seu perfil no Twitter, o governador afirma que “nada vale mais que uma vida humana”. Também diz que “a economia sofrerá”, mas “isso vai acontecer no mundo inteiro”.

No Acre, o governador Gladson Cameli (PP) passou as últimas noites refletindo sobre o que fazer. Em reunião com sua equipe, disse que a decisão prioritária é a de salvar vidas, mas se viu entrelaçado pela campanha de politização do coronavírus adotada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Um áudio divulgado pela TV Aldeia, sediada em Rio Branco (AC), revela que a decisão final do governador só aconteceu após uma conversa telefônica inquietante com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM).

“O que é que se vê? Uma politização. As pessoas querendo que o povo vá pra rua, inclusive o nosso presidente. Na sexta-feira, eu peguei o telefone e pedi uma audiência com ele. Eu ia sair de Rio Branco, chegar e dizer: ‘Então, presidente, eu vou seguir a sua orientação. Se é para abrir, então vamos abrir, mas está aqui: eu não tenho condições de arcar com as consequências’. Aí eu liguei para o ministro da Saúde. Ele disse: “não faça isso”. Eu ia, pois estou seguindo uma lógica. E eu quero compartilhar com vocês: se fizeram uma opção pela parte econômica, eu fiz opção por salvar vidas. Se eu estou certo ou estou errado, o tempo vai dizer. O que eu não quero é a consciência de que eu não fiz o meu papel, o meu dever”

O governador disse que Mandetta o orientou a chamar os donos das funerárias para dizer que se preparem. “Se o ministro me disse isso, eu vou fazer o quê? Eu vou dizer que o negócio é simples? Eu vou ser irresponsável? Não vou. Ele não é doido.”

A reunião aconteceu a portas fechadas, mas alguém gravou e vazou o áudio:

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