Redação Pragmatismo
Saúde 23/Mar/2020 às 17:30 COMENTÁRIOS
Saúde

Com 26 mil infectados, por que "apenas" 94 morreram de coronavírus na Alemanha?

Publicado em 23 Mar, 2020 às 17h30

Com mais de 26 mil infectados, a Alemanha só tem 94 vítimas fatais de coronavírus. Segredo está no modelo adotado pela Coreia do Sul: exames precoces e testar o máximo de pessoas possível. Mas não só isso

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Angela Merkel, chanceler alemã

O governo alemão está considerando um bloqueio nacional para combater o novo coronavírus. As autoridades já pediram para que as fábricas de carro nacionais produzam equipamentos médicos, como máscaras, para ajudar o sistema de saúde a ser abastecido durante a pandemia.

O número de casos aumentou drasticamente nas últimas 24 horas, pulando para mais de 26 mil, de acordo com o Instituto Robert Koch. O número de mortes chegou a 94.

Na Alemanha, o governo proibiu reuniões públicas de mais de duas pessoas nas próximas duas semanas, a partir deste domingo (22). “O grande objetivo é ganhar tempo na luta contra o vírus”, disse a chanceler Angela Merkel em entrevista à imprensa.

Segundo autoridades de saúde do país, a pandemia entrou em uma fase exponencial que, se não for contida, poderia infectar até 10 milhões de pessoas dentro de três meses.

Pelo sistema federal, a chanceler, Angela Merkel, não pode impor um toque de recolher de âmbito nacional, já que isso cabe a governos estaduais e locais.

Antecipando-se à reunião de crise que ocorreu neste domingo, a Baviera, que é o maior estado da Alemanha e cobre cerca de um quinto do país, já havia dito que imporá restrições gerais às saídas de casa por duas semanas.

“Não estamos interditando a Baviera. Não estamos isolando a Baviera. Mas estamos suspendendo totalmente a vida pública da Baviera”, disse o ministro-chefe, Markus Soeder, em um pronunciamento na televisão.

A cidade de Freiburg, no sudoeste, anunciou que imporá um toque de recolher a partir do final de semana, e a Renânia do Norte-Vestfália, o Estado mais populoso do país, pode seguir o exemplo.

A Alemanha já fechou escolas, lojas e restaurantes e apelou ao bom senso das pessoas para que se responsabilizem pela desaceleração da proliferação da doença, mas multidões ainda se reuniam em parques, parques de diversões e cafés em cidades grandes e pequenas no final de semana passado.

Modelo Coreia do Sul

A Alemanha tem adotado o receituário que deu certo na Coreia do Sul. Segundo especialistas, a resposta para a baixa taxa de mortalidade passa por três pontos: a fase da pandemia em cada país, o volume de exames realizados para detectar pessoas infectadas e o perfil etário dessas pessoas.

“Não podemos dizer com precisão por que a taxa de mortalidade na Alemanha é mais baixa do mundo. Mas é certo que temos recomendado, desde o momento em que tivemos ciência dessa emergência de saúde, ampliar o número de exames feitos na população e reduzir a possibilidade de contágio”.

A medida significa uma estratégia exatamente oposta à que foi adotada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro no Brasil, segundo a qual apenas pacientes com sintomas muito graves seriam testados.

Para Jeremy Rossman, professor de virologia da Universidade de Kent, no Reino Unido, uma das chaves para explicar a baixa mortalidade na Alemanha pode ser o diagnóstico precoce, que evita a disseminação da doença. “O caso alemão mostra que isso não é só uma boa estratégia como é um componente essencial na luta contra a pandemia.”

Rossman cita o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, que defende que não é possível combater o vírus sem saber onde ele está. “E é exatamente isso que os exames fazem.”

Reação rápida

A Alemanha criou um comitê especial de combate ao coronavírus antes mesmo do surgimento do primeiro caso no país. O primeiro caso foi registrado na Alemanha em 27 de janeiro, mas o país já tinha criado um comitê permanente de vigilância em 6 de janeiro. Foi naquele momento que os testes de detecção da doença se tornaram parte fundamental da estratégia alemã.

“O amplo escopo dos exames nos permitiu identificar a epidemia desde muito cedo e isso nos ajudou a trabalhar com ela”, explicou Lothar H. Wieler, diretor do Instituto Robert Koch, em entrevista na semana passada. Segundo o Instituto Koch, a Alemanha tem capacidade de realizar 160 mil exames por semana.

Na Itália, onde a pandemia tem sido mais devastadora (59.138 infectados e 5.475 mortos, taxa de 9,25%), foram realizados ao todo 150 mil testes até o dia 20/3.

Críticas

Os números sobre coronavírus na Alemanha não geraram apenas elogios ou hipóteses. Há críticas além de suas fronteiras, especialmente entre políticos da Itália.

Dois parlamentares europeus do grupo de direita ‘Irmãos de Itália’ enviaram uma carta ao Parlamento Europeu perguntando se os alemães estavam “imunes” ao coronavírus e exigindo que fosse estabelecido um protocolo para a contagem na notificação de mortes por covid-19.

“Suspeita-se que as pessoas na Alemanha estejam ficando doentes e morrendo de covid-19, mas que as autoridades alemãs não sabem ou não dizem isso”, dizia a carta.

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