Redação Pragmatismo
Racismo não 12/Nov/2019 às 18:33 COMENTÁRIOS
Racismo não

"Olha a sua cor". Segurança agredido por ser negro presta queixa e chora

Publicado em 12 Nov, 2019 às 18h33

"Foi triste, foi pesado demais. 'Olha sua cor, não põe a mão em mim'. Então, pela minha cor, eu sou inferior a outro ser humano?", questionou o homem, emocionado. O segurança ainda recebeu uma cusparada do agressor racista

(Momento em que torcedores brancos humilham segurança negro)

Fábio Coutinho, de 42 anos, foi vítima de injúria racial no último final de semana no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte (MG), durante a partida entre Cruzeiro e Atlético Mineiro.

Um vídeo publicado nas redes sociais mostrou o momento em que Fábio é agredido por alguns torcedores. “Não põe a mão em mim. Olha a sua cor”, diz um homem.

Nascido no Rio de Janeiro, o segurança mora em Belo Horizonte há sete anos e adotou o Atlético-MG como time. Ele trabalha como segurança há três anos e presta serviço no Mineirão desde o início deste ano. Atuar em dia de jogo do Galo era uma alegria para ele.

“Foi triste, foi pesado demais. ‘Olha sua cor, não põe a mão em mim’. Então, pela minha cor, eu sou inferior a outro ser humano?”, questionou, emocionado.

O homem que aparece no vídeo ainda cuspiu nele. Para Fábio Coutinho, situações complicadas fazem parte do cotidiano do trabalho, mas, até hoje, nada havia sido tão grave.

“Passei a noite em claro, minha esposa não foi trabalhar hoje. Ela está comigo aqui. Só tenho ela aqui, sou do Rio de Janeiro. Meus filhos moram no Rio, são adolescentes. Quando a ficha caiu, fiquei muito chateado. Meus filhos fizeram contato e disseram que viram na rede social: ‘Ele cuspiu na sua cara’. Aí eu disse não foi bem assim, disfarcei”, desabafou Fábio Coutinho.

O segurança explicou como se manteve em calma diante da tamanha agressão. Fábio ainda contou que os colegas ficaram muito chateados com a situação.

“Na hora meus colegas ficaram baqueados: ‘Pô, cara! O cara cuspiu na sua cara’. Todo mundo falou: ´Você não merecia isso, você é um cara tranquilão’. Eu disse para meus colegas: ‘Vamos esquecer isso e continuar nosso serviço’. gente tá ali para servir”.

“Eu sou profissional da área, nós não podemos retribuir uma agressão, mesmo que seja uma agressão baixa como esta, nós somos capacitados, somos instruídos”, contou.

Agressores identificados

A Polícia Civil informou que já identificou os agressores, mas não divulgou os nomes. Eles podem responder por crime de injúria racial. A pena é de 1 a 3 anos e multa.

Os agressores são irmãos e prestaram depoimento nesta terça-feira (12) no Departamento de Operações Especiais (Deoesp), na Região da Pampulha, em BH. De acordo com a advogada Aline Lopes Martins de Paula, eles escreverão uma carta com pedido de desculpas.

“O pedido de desculpa pode ser considerado pelo juiz lá na frente, mas não tem peso de retratação no crime de injúria racial”, disse a delegada Fabíola Oliveira.

VÍDEO: