Redação Pragmatismo
Racismo não 20/Nov/2019 às 12:04 COMENTÁRIOS
Racismo não

Deputado vandaliza exposição da Consciência Negra e diz que não fez "nada demais"

Publicado em 20 Nov, 2019 às 12h04

Deputado do PSL quebrou uma das placas da exposição que falava sobre o genocídio da população negra no Congresso. "Eu não agredi ninguém", justificou o parlamentar. Mas ele agrediu, sim. Agrediu metade da população brasileira, negra. Agrediu também os não negros avessos ao racismo

Coronel Tadeu (PSL-SP) destruiu placa de exposição sobre genocídio negro

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a atitude do Coronel Tadeu (PSL-SP) de quebrar uma das placas da exposição que falava sobre o genocídio da população negra no Congresso.

Para Maia, a atitude do deputado do PSL não se encaixa com o papel da Câmara de representar a sociedade brasileira e não combina com uma sociedade democrática que pode resolver desentendimentos como esse através do diálogo. “Não é um dia que marca de forma positiva a nossa Casa”, lamentou Maia.

“O que aconteceu foi muito grave. Em uma democracia, em um país livre, não é porque nós divergimos da posição da outra pessoa que nós devemos agredi-la verbalmente, fisicamente ou retirar de forma violenta uma peça de uma exposição que foi autorizada pela presidência da Câmara”, lamentou Maia durante a sessão desta terça-feira (19), que acabou sendo tomada por manifestações contrárias e favoráveis à atitude do Coronel Tadeu.

Enquanto deputados da oposição criticavam a destruição da placa e reclamavam de racismo, representantes do PSL e da bancada da bala tentavam justificar o ato dizendo que a placa atacava os policiais. Maia tomou, então, a palavra para dizer que tudo poderia ter sido resolvido de forma pacífica através do diálogo.

“Nós vivemos em um país democrático e com diálogo tudo se resolve, principalmente no plenário da Câmara. Espero que um ato como esse, certamente num momento impensado, não se repita porque isso não é bom para uma casa que quer representar toda a sociedade”, reclamou o presidente da Câmara.

Ainda de acordo com Maia, a direção da Câmara vai analisar a atitude do Coronel Tadeu. O caso também foi levado à polícia legislativa pela oposição, que ainda promete apresentar uma representação contra o deputado do PSL no Conselho de Ética da Câmara.

“Não é um dia que marca de forma positiva a nossa Casa. Esse é um dia em que deveríamos estar defendendo a inclusão dos negros na política e a igualdade de oportunidades e não agredindo um cartas que pode ser injusto com parte da política. Deveríamos ter resolvido isso com diálogo e não com agressão”, lamentou.

Após esse “sermão”, o Coronel Tadeu chegou a tentar minimizar a sua atitude e disse que não fez “nada demais”. “Eu não agredi ninguém”, afirmou o parlamentar à jornalista Bela Megale. Antes disso, porém, ele já havia dito que estava feliz por ter quebrado a placa que no seu entendimento desrespeitava a classe policial.

Racismo, sim

Jornalista especializada na cobertura de direitos humanos, políticas públicas sociais e democracia, Maria Carolina Trevisan considera que o ato do deputado foi grave.

“O coronel afirma que não agrediu ninguém. Mas ele agrediu metade da população brasileira, negra. Agrediu também os não negros avessos ao racismo. Agrediu até os policiais que ele alegou defender ao arrancar a placa da parede e que não concordam com a política do abate. Agrediu muita gente”, diz Trevisan.

A charge de Carlos Latuff não é mera provocação. É um retrato da realidade cotidiana: 75,4% das pessoas mortas em intervenções policiais entre 2017 e 2018 eram negras. O racismo mata. Ele sempre esteve no Brasil, nos acompanhando, desde a escravidão. O racismo vem se moldando aos tempos. Encontrou, no momento atual, campo fértil. Parece que perdeu a vergonha, o medo da punição, e se expressa escancarado em números de cadáveres”, acrescentou a jornalista.

“Racismo precisa ser repudiado e punido, mais ainda quando é cometido por um parlamentar, suposto representante do povo. Quando não se repele atitudes como a do deputado, a tendência é que o racismo siga se reproduzindo e ganhando força. Ele se acomoda, se naturaliza, se alimenta dessas atitudes”, disse Maria Carolina Trevisan, que trabalhou em regiões de extrema pobreza por quase 10 anos e estuda desigualdades raciais há oito anos.

com informações do Congresso em Foco

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