Redação Pragmatismo
Educação 04/Out/2019 às 14:07 COMENTÁRIOS
Educação

Perseguido por radicais de direita, professor da UnB publica desabafo

Publicado em 04 Out, 2019 às 14h07

Alvo de intimidação, professor da UnB recebeu uma interpelação judicial que pede explicações sobre seu posicionamento político, incluindo opiniões a respeito do governo Bolsonaro

professor da unb luis felipe miguel
O professor Luis Felipe Miguel (Foto: Associação Brasileira de Editoras Universitárias)

O professor Luis Felipe Miguel, docente da Universidade Federal de Brasília (UnB), publicou uma denúncia nas redes sociais sobre a perseguição que vem sofrendo por professores radiciais que se autodenominam “Docentes pela Liberdade”. Leia abaixo:

O grupo de professores ultradireitistas que se abriga sob a alcunha mentirosa de “Docentes pela Liberdade” está alardeando que tem “um exército de advogados” e vai processar todos aqueles que os criticarem. É uma clara tentativa de intimidação, com o objetivo de cercear o debate. Mostra bem qual é o projeto que os anima.

Posso testemunhar que eles estão passando da bravata à prática. Recebi a visita de um oficial de justiça – um rapaz muito gentil, muito bem-educado – que me apresentou uma intimação. Na verdade, não é uma queixa-crime, só uma interpelação, um pedido de “esclarecimentos”, que posso ou não atender.

O documento chega a ser patético. O alvo é uma postagem minha, velha já de meses, em que falo de “um elitista agressivo, que se tornou folclórico no campus”. O professor quer saber se é dele mesmo que eu estava falando.

Aproveita e pede explicações sobre meus posicionamentos políticos. Por exemplo, quer que eu justifique por que digo que o governo Bolsonaro tem “uma catinga fascista”. Não podia ser mais evidente o caráter autoritário da investida, seu desejo de calar as críticas, seu ataque à liberdade de expressão política.

Por mais inane que seja a investida judicial, ela causa incômodo à sua vítima. Tenho que parar meu trabalho, tenho que definir minha resposta. Perco tempo. Eventualmente, terei que contratar um advogado.

Não é uma questão que atinja só a mim, pessoalmente, e aos outros colegas que são ou serão alvos do grupo. É um assédio à nossa liberdade de expressão como categoria, como profissionais da educação. Creio que nossas associações representativas – a ADUnB, aqui na UnB; o ANDES, nacionalmente – devem responder institucionalmente e devem montar uma rede de proteção aos professores.

Não sei quem financia os docentes pelo autoritarismo, quem paga o “exército” que eles dizem ter a seu dispor. Eles dizem que os reforços estão sendo enviados por Deus em pessoa, mas eu me permito duvidar dessa afirmação. As organizações da extrema direita latino-americana costumam receber dinheiro mais terreno, de fundações estadunidenses.

Mas o objetivo é evidente: atrapalhar os professores com processos que, mesmo sem sentido, perturbam sua rotina pessoal e profissional – e assim estimulá-los ao silêncio. É uma forma de litigação de má-fé.

Quanto a mim, tentaram me calar em sala de aula e agora tentam me calar no debate público extramuros. Mas não tenho a menor intenção de me deixar intimidar. Enquanto não chega o Estado policial com o qual eles sonham, não vou deixar de exercer minha capacidade de crítica em todos os espaços a que tiver acesso.

(Para os reacinhas que bisbilhotam sistematicamente essa minha página, um recado: não precisam mobilizar um oficial de justiça para indagar qual é “o Estado policial com que sonham”. Minha resposta já está aqui: vocês sabem muito bem!)

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