Redação Pragmatismo
Política 01/Jul/2019 às 21:32 COMENTÁRIOS
Política

Sergio Moro sai do armário e assume o papel de Messias

Publicado em 01 Jul, 2019 às 21h32

“Eu vejo, eu ouço”. O Sergio Moro que saiu do armário neste domingo é uma figura que se esbalda na megalomania. Um profeta guiando seu gado do alto da montanha onde recebeu as tábuas da lei do arcanjo Dallagnol

Sergio Moro manifestações
(crédito na imagem)

Kiko Nogueira, DCM

Sergio Moro resolveu colocar a capa de Morcego Vermelho e abraçar o papel de messias que as massas ignaras lhe outorgaram no dia 30 de junho.

“Eu vejo, eu ouço”, escreveu no Twitter em tom bíblico — não uma, mas duas vezes, abençoando a balbúrdia daquela gente que queria, por baixo, fechar o Congresso e o STF.

Segundo a Folha, a expressão caiu mal entre dirigentes de partidos, governadores e membros de cortes superiores.

“Aceitei o convite para o MJSP para consolidar os avanços anticorrupção e combater o crime organizado e os crimes violentos”, disse o ex-juiz.

“Essa é a missão. Muito a fazer.”

Se estivesse cumprindo a missão, o Queiroz, para ficar apenas num caso, não estaria desaparecido há seis meses.

O Moro que saiu do armário no domingo é um sujeito que se esbalda na megalomania.

Um profeta onisciente, onipotente e onipresente, guiando seu gado do alto da montanha onde recebeu as tábuas da lei do arcanjo Dallagnol.

A retórica lembra as viagens lisérgicas de John Lennon e Jimi Hendrix. Moro é o Olho de Hórus.

As palavras cairiam bem na letra de “Gita”, de Raul Seixas e Paulo Coelho (“Eu sou a luz das estrelas/Eu sou a cor do luar/Eu sou as coisas da vida/Eu sou o medo de amar”).

Quanto mais inflado o ego, pior a queda.

Um poema de Shelley chamado “Ozymandias” (apelido do faraó Ramsés II) ilustra bem aonde vão parar a arrogância, a ambição e o poder ilimitado.

Aqui, na tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos.

Ao vir de antiga terra, disse-me um viajante:
Duas pernas de pedra, enormes e sem corpo,
Acham-se no deserto. E jaz, pouco distante,
Afundando na areia, um rosto já quebrado,
De lábio desdenhoso, olhar frio e arrogante:

Mostra esse aspecto que o escultor bem conhecia
Quantas paixões lá sobrevivem, nos fragmentos,
À mão que as imitava e ao peito que as nutria
No pedestal estas palavras notareis:
“Meu nome é Ozimândias, e sou Rei dos Reis:

Desesperai, ó Grandes, vendo as minhas obras!”
Nada subsiste ali. Em torno à derrocada
Da ruína colossal, a areia ilimitada
Se estende ao longe, rasa, nua, abandonada.

Este será o legado de Sergio Moro: a ruína colossal — abandonada inclusive por aqueles que o cultuam bovinamente.

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