Esquerda

Amiga que jantou com PHA antes de sua morte diz que ele estava inconformado

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Historiadora jantou com Paulo Henrique Amorim momentos antes do infarto fulminante que matou o jornalista. A amiga conta que ele estava inconformado

O jornalista Paulo Henrique Amorim

A historiadora Rosa Maria Araújo foi uma das últimas pessoas que viram Paulo Henrique Amorim com vida. Ela jantou com o jornalista e a esposa dele, Geórgia Pinheiro, momentos antes do infarto fulminante que ocasionou a morte de PHA.

Amiga dos tempos de faculdade, ela conta que o jornalista não ficou satisfeito ao ser afastado pela Record da apresentação do Domingo Espetacular — programa que ele ancorava há mais de 13 anos. Inconformado, desde o dia 30 de junho ele não colocava os pés na emissora.

“Paulo estava indignado com o afastamento da Record. Ele nao se queixou de nenhuma dor nem de qualquer incômodo físico durante o jantar, mas contou tudo sobre a decisão da emissora. Ele nao tinha sido demitido, mas não aceitou o afastamento”, revelou a historiadora.

“Foi um jantar muito agradável e logo depois de o deixarmos em casa, por volta das 23h15, a Geórgia [esposa] ligou me pedindo ajuda. Paulo estava desacordado no banheiro. Sofreu o infarto escovando os dentes”, contou.

A declaração de Rosa Maria foi dada durante o velório do jornalista, que ocorreu na sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no Rio de Janeiro, na tarde desta quinta-feira (11).

Comenta-se nos bastidores que Paulo Henrique Amorim foi afastado de seu programa na TV Record após pressão do governo federal. O jornalista era crítico do atual presidente, mas o bispo Edir Macedo, dono da emissora, é apoiador de Jair Bolsonaro.

Irmã

A professora universitária Marília Amorim, irmã caçula do jornalista, estava bastante emocionada no velório, mas também falou com jornalista. Marília contou que o irmão já havia perdido outros espaços na imprensa por conta de “pressão política”, mas que dessa vez o baque foi maior.

“Falamos pouco porque eu estava na França. Ele teve vários casos de perder o lugar dele por pressão política. Ele escreveu pra mim e falou ‘não se preocupe não, você sabe que eu tive isso várias vezes e que eu aguento o tranco’”, revelou Marília.

“Me lembro que na Band ele tinha dois programas e havia acabado de receber dois prêmios; um era o jornal das 20h e outro era um programa de debates, de entrevistas. Poucos dias depois do prêmio, ele perdeu o programa por pressão do [ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso. Ele já conhecia isso, mas claro que sempre é um baque forte. Parece que dessa vez foi demais e ele não aguentou”, acrescentou a irmã do jornalista.

Marília ainda falou do amor e da admiração que sentia por PHA. “A gente se adorava. Ele era meu irmão mais velho. Éramos três, minha irmã também já faleceu. Ele era meu herói, uma pessoa muito corajosa, extremamente generoso. Corajoso no embate dele de não abrir mão das ideias dele, do que ele achava que tinha que ser dito, revelado, mostrado. Uma pessoa muito íntegra nas convicções e no trabalho. Adorava trabalhar.”

Na última quarta-feira, três jornalistas que se manifestaram sobre a morte de Paulo Henrique Amorim concluíram que seu falecimento não foi obra do acaso (relembre aqui).

Outros depoimentos

“Ele estava sempre sorridente nos bastidores. Quem está de bom humor, de bem com a vida sempre acaba encontrando uma boa reportagem. Acho que isso foi um diferencial dele, ele era um sujeito de bem com a vida e isso fazia dele o sucesso que ele foi por onde ele passou. Paulo Henrique era maior do que a Record, era um personagem do jornalismo brasileiro e ele deixa esse vazio em todos os veículos de comunicação por onde ele passou por isso que hoje a gente vê aqui manifestações várias pessoas que trabalharam com ele em vários veículos. Com certeza o que vai ficar disso tudo é o legado e alegria dele” — Luiz Claudio Costa, presidente da TV Record.

“Era um cara brilhante. Eu o conheço do Jornal do Brasil, Veja, Exame, TV Globo e no final na Record e com blog na internet. Ele jogou em todas a posições e sempre com brilhantismo. Era um cara extremamente bem-humorado, com umas tiradas que vão fica para história da imprensa brasileira. Ele deixará um legado que dificilmente será substituído” — Paulo Jeronimo, presidente da ABI.

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