Redação Pragmatismo
Homofobia 09/Mai/2019 às 20:00 COMENTÁRIOS
Homofobia

Ginasta assume a homossexualidade: "Vivi a solidão de ser uma pessoa gay"

Publicado em 09 Mai, 2019 às 20h00

“Eu vivi a solidão de não ter ninguém com quem eu pudesse compartilhar os dilemas de ser uma pessoa gay numa sociedade preconceituosa”, desabafa Diego Hypolito ao falar pela primeira vez sobre sua sexualidade

Diego Hypólito gay homossexual
Diego Hypólito (Imagem: Divulgação/CBG)

Em depoimento ao site UOL, o ginasta Diego Hypólito falou abertamente pela primeira vez sobre sua sexualidade. O atleta contou que descobriu ser gay aos 19 anos e que escondeu a informação até mesmo de familiares, por questões religiosas e por medo de isso afetar sua carreira.

“Eu vivi a solidão de não ter ninguém com quem eu pudesse compartilhar os dilemas de ser uma pessoa gay numa sociedade preconceituosa. Por mais que todo mundo tenha a impressão de que tem muito gay na ginástica, não tem. Todo mundo me zoava, zombava do meu jeito. Eu tinha o sonho de conseguir uma medalha olímpica e faria de tudo para chegar lá, até esconder quem eu era. Eu tinha certeza que se um dia eu saísse do armário publicamente, perderia patrocínios e minha carreira seria prejudicada”, afirmou o ginasta de 32 anos.

“Eu tinha muitos preconceitos comigo mesmo. Medo relacionado aos patrocínios, à Seleção Brasileira, de eu deixar de ser um exemplos pelos meus resultados. O que motivou foi mostrar que a questão de sexualidade não faz a pessoa ser melhor ou pior. Somos pessoas e o que eu sei é que eu nasci assim. Isso não muda minhas crenças, em ter meus princípios morais, de educação. Existe um ódio muito grande implantado nas pessoas em todos os tipos de etnias, religiões, sexualidades. Eu ser eu mesmo diariamente é algo que vai me fazer ser mais liberto”, continuou Diego.

Hypolito contou que frequentou baladas gay disfarçado durante muitos anos e que sofreu com problemas de auto-estima e síndrome do pânico.

“Fui criado na igreja, tenho uma tatuagem de Jesus crucificado no braço, até hoje frequento cultos da Bola de Neve todas as quintas-feiras. Eu tinha vergonha porque na minha cabeça ser gay era ser um demônio, um ser amaldiçoado que vive em pecado. Quando eu tinha uns dez anos, um treinador foi dizer para a minha mãe que ela devia mudar minha educação para que eu não virasse gay. Ela veio falar comigo, preocupada. Eu era muito inocente, nem sabia o que era isso. Mas isso me marcou”, disse.

O atleta contou que chegou a se afastar dos pais e faltar a um Natal depois de contar aos parentes em 2014, mas que aos poucos foi se reaproximando. Diego destacou o apoio incondicional da irmã Daniele, e a importância da terapia para decidir expor sua orientação. “Não escolhi ser gay, porque ser gay não é uma escolha. É simplesmente o que eu sou, e isso não vai mudar os valores que eu tenho e que construí junto da minha família.”

“Quero que as pessoas saibam que eu sou gay e que eu não tenho vergonha disso. E não é porque eu sou que outras pessoas vão querer ser. Isso não tem nada a ver. Já vivi muitos anos pensando no julgamento que os outros fariam sobre mim. Hoje só aceito ser julgado por Deus”, completou o atleta, que disputou etapas do Mundial em 2019 e tem o objetivo de disputar os Jogos de Tóquio-2020.

Apoio

Diego Hypolito recebeu muitas mensagens de apoio após assumir publicamente que é homossexual. “Meu telefone não parou. Vi que existe possibilidade de mudar a cabeça das pessoas, porque a gente pode ser exemplo independente de sexualidade”, disse.

“As mensagens estão muito positivas. Não imaginava isso. Não tenho visto crítica. A única negativa é quando alguém diz que já sabia. Eu também tenho a sensação de que já sabiam, mas o importante é deixar de ser uma mentira. Há alguns anos um repórter me perguntou se eu era gay e eu disse que não. Isso me fez muito mal. A partir do momento que contei para minha mãe eu prometi que nunca mais mentiria para mim mesmo. Quando me perguntaram eu tive coragem de falar porque é algo que já sou muito bem aceito comigo mesmo”, afirmou.

Apoiaram Diego os medalhistas olímpicos Douglas Souza, Poliana Okimoto e Arthur Nory, que dividiu o pódio da Rio 2016 com o companheiro de seleção brasileira de ginástica. Também abraçaram o Diego com mensagens de apoio Joanna Maranhão (natação), Brandonn Almeida (natação) e Pepê Gonçalves (canoagem). Da ginástica, também expressaram carinho Camila Comin, Jared Azzarini, Fred Oliveira e Angélica Kvieczynski. Muitos amigos do ginasta fizeram a demonstração de afeto em particular.

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