Redação Pragmatismo
Direita 20/Mar/2019 às 17:29 COMENTÁRIOS
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Eduardo Bolsonaro já trabalhou ilegalmente nos Estados Unidos?

Publicado em 20 Mar, 2019 às 17h29

Há alguns anos Eduardo Bolsonaro postou vídeo afirmando que em 2005 trabalhou nos Estados Unidos. No entanto, um detalhe sobre a suposta experiência profissional do filho do presidente provoca questionamentos e seria bom ser esclarecido

Eduardo Bolsonaro já trabalhou ilegalmente nos Estados Unidos imigração
Eduardo Bolsonaro, senador federal pelo PSL/SP

Mauro Donato, DCM

Eduardo Bolsonaro deve explicações. Sua idolatria pelos Estados Unidos nunca foi escamoteada e a viagem em companhia do pai apenas desnudou por completo o grau de subserviência a que ambos estão dispostos e reafirmou sua concordância com as políticas desumanas de Donald Trumpno tocante” a imigrantes.

Brasileiro ilegalmente fora do país é problema do Brasil, é vergonha nossa”, disse ele durante entrevista sobre a falta de reciprocidade na exigência de vistos.

Pois bem, há alguns anos Eduardo postou um vídeo afirmando que em 2005, durante as férias da universidade, trabalhou na terra do Tio Sam em uma lanchonete da rede Popeyes.

Numa desastrosa tentativa de demonstrar humildade, disse ter atuado como caixa e atendente e ter sido somente lá que aprendeu que “indigno é não ter trabalho”. Por aqui ele deve pensar que é coisa de vagabundo já que emprego tem de sobra. Para o filho zero-três, os EUA são o que são pois “não têm esse problema de samba, carnaval, caipirinha”.

Até aí, nada demais, os Bolsonaro não possuem fama de profundos estudiosos de sociologia e dar declarações abestalhadas parece ser a principal expertise. Como disse recentemente Leonardo Boff, “o novo governo é o triunfo da ignorância e da estupidez”.

O que provoca questionamentos na experiência profissional em terras estrangeiras de Eduardo é um detalhe que seria bom ser esclarecido para que este não seja mais exemplo de que os Bolsonaro pregam uma coisa e fazem outra.

Em 2005 ele tinha 21 anos e cursava a faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Como admite no vídeo, foi aos EUA durante o breve período de férias na universidade. Como figura pública, hoje deputado federal, Eduardo Bolsonaro deveria explicar com qual visto entrou nos Estados Unidos para trabalhar, pois isso não é nada simples.

↬ O visto de turista autoriza turismo por seis meses e ponto final. Nada além disso.

↬ Para trabalhar de forma definitiva é preciso ter cidadania americana ou Green Card. Tem?

↬ Um tipo de visto excepcionalíssimo que autoriza trabalhar é o EB-1 que pode ser solicitado por pessoas com “habilidade extraordinária nos campos da ciência, das artes ou dos negócios”. Para solicitá-lo em função de uma competência excepcional é preciso apresentar provas da sua excelência como diplomas, cartas de recomendação, prêmios e publicações acadêmicas. Ninguém constrói um currículo desses para trabalhar no caixa de uma lanchonete, certo?

Suponhamos então que Eduardo tenha ido fazer um curso rápido para aperfeiçoar o idioma inglês e tenha aproveitado para fazer um bico como forma de auxiliar no sustento. Também não são muitas as possibilidades nem facilidades. Os tipos de visto para estudante são:

↬ O visto M-1 que não dá direito de trabalho ao estudante;

↬ O visto J-1 que é concedido aos estudantes na modalidade intercâmbio (normalmente de ensino médio). Com esse visto, os estudantes têm autorização de trabalhar somente dentro do campus e em funções que sejam parte de uma bolsa de estudo (como assistentes acadêmicos, por exemplo). Não é permitido trabalhar em empresas;

↬ O visto F-1 é para universitários. Ele autoriza trabalhar dentro do campus da universidade por 20 horas semanais durante o período letivo e 40 durante as férias. O aluno pode aceitar uma vaga em alguma empresa comercial que tenha contrato com a universidade. Não é o caso da Popeyes.

Se não possuía nenhum vínculo com instituições de ensino, os tipos de visto para trabalhar temporariamente também são poucos e repletos de exigências inibidoras.

↬ O visto H exige que empregador americano faça o trâmite burocrático e submeta à aprovação Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS);

↬ O visto H-1B é concedido a estrangeiro que tenha formação universitária concluída ou uma certificação profissional de habilidades diferenciadas. Não era o caso de Eduardo.

↬ O visto H-2B permite realizar um trabalho de natureza temporária ou sazonal para áreas em que há escassez de mão-de-obra entre os cidadãos americanos e residentes legais. O que não falta é gente para trabalhar em redes de lanchonetes, certo? Pode-se eliminar essa opção também;

↬ O visto H-3 é destinado a estagiários para receber treinamento de seu empregador. É raro.

Enfim, fica a cargo do deputado esclarecer ou não como trabalhou nos EUA. O que ele precisa rever urgentemente são seus conceitos.

Para tanto, seria bom conhecer um estudo realizado em 2017 pelo Center for American Entrepreneurship (um think-tank sediado em Washington) cujo levantamento demonstra que se os americanos desconsiderassem os negócios fundados por imigrantes ou por sua segunda geração, os Estados Unidos perderiam quase metade de suas 500 maiores empresas. Nada menos que 43% das companhias listadas na edição 2017 do ranking da revista Fortune foram fundadas por imigrantes ou seus descendentes.

Bolsonaro não é um sobrenome tupi-guarani, certo?

Então o descendente de imigrantes Eduardo deveria olhar para a fortuna de seu pai e de seus irmãos (além da sua que cresceu 432% em quatro anos) e agradecer a inexistência de muros.

Assista ao vídeo:

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