Redação Pragmatismo
Racismo não 18/Fev/2019 às 20:10 COMENTÁRIOS
Racismo não

Texto da atriz Maria Flor sobre privilégio branco viraliza nas redes

Publicado em 18 Fev, 2019 às 20h10

Texto da atriz Maria Flor sobre os três anos de namoro com o ator Jonathan Haagensen estimula reflexão e é uma das melhores coisas que você vai ler na internet nesta semana

Maria Flor Jonathan Haagensen
Maria Flor e Jonathan Haagensen na época em que namoraram (Reprodução)

No último final de semana, a atriz Maria Flor publicou em seu Instagram um texto que trata de amor, afeto e privilégio branco.

A atriz traz uma reflexão sobre quando ela passou a entender o racismo enquanto namorava o também ator Jonathan Haagensen, famoso pelo longa “Cidade de Deus”.

“O Jonathan morava e ainda mora no vidigal. Ele é negro, eu sou branca. A gente se conheceu em um filme e se apaixonou. Isso não tinha nada a ver com a nossa cor. E lá atrás, eu com 19 e ele com 20 anos, a gente não pensou sobre isso”, escreveu a atriz no início do seu relato.

Maria Flor contou como foi notando o racismo enfrentado por Jonathan e o estranhamento que a relação dos dois causava. A publicações viralizou nas redes sociais, e é uma das melhores coisas você irá ler nesta semana.

Confira a íntegra abaixo:

Durante três anos eu namorei o ator @jonathanhaagensen. O Jonathan morava e ainda mora no vidigal. Ele é negro, eu sou branca.

A gente se conheceu em um filme e se apaixonou.

Isso não tinha nada a ver com a nossa cor.

E lá atrás, eu com 19 e ele com 20 anos, a gente não pensou sobre isso.

Mas estava lá, o tempo todo estava lá. E a gente foi percebendo que não era normal a gente junto em um restaurante, que não era comum a gente fazendo compras no mercado, que não era tranquilo ele dirigir o carro porque seríamos parados na blitz se ele estivesse dirigindo e não eu.

Eu lembro de um dia que fomos parados na entrada do Vidigal por policiais.

Jonathan disse que era morador, mas os policiais mandaram ele descer do carro e começaram a revistá-lo.
Aquilo era humilhante.

Eu na minha jovem arrogância desci do carro e gritei com o policial. E perguntei indignada o que ele estava fazendo.

O Jonathan pediu para eu parar, mas eu gritei e perdi a mão. E o policial nos levou para a delegacia por desacato.

Eu nunca vou esquecer o rosto do Jonathan indo para a delegacia. Tudo que ele tinha passado a vida evitando eu tinha feito acontecer por um capricho meu, por não olhar para tudo a minha volta e perceber que a coisa era muito mais grave. Que abaixar a cabeça tinha sido a realidade dele e eu achei que poderia salvá-lo disso.

Eu, branca, garota da zona sul do Rio de Janeiro, achei que podia fazer justiça. Mas não, eu não podia, e eu só fiz ele passar por uma humilhação que eu jamais entenderia. Jamais.

E mesmo tendo visto e vivido a experiência de ser olhada nos lugares por estar de mãos dadas com um negro, eu jamais entenderei.

E sim, temos que olhar para o lado e perceber que a não existência de um negro na escola do nosso filho não é normal, que não ter um negro no cinema ao nosso lado não é normal, não ter um negro num restaurante não é normal, não ter um negro no ambiente de trabalho não é normal.

E não pensamos nisso. Não percebemos nosso próprio descaso diário. E não percebemos o racismo estrutural que existe em nós.

Hoje eu acho que nosso namoro terminou pela nossa incapacidade de perceber essa gigante distância social que existe na cor da nossa pele.

A atriz Maria Flor, em foto recente (Imagem: Fabio Cordeiro/Revista QUEM

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