Redação Pragmatismo
Eleições 2018 26/Set/2018 às 21:54 COMENTÁRIOS
Eleições 2018

Algoritmos e previsões nas pesquisas eleitorais de intenção de votos

Publicado em 26 Set, 2018 às 21h54

Algoritmos e previsões na esfera eleitoral de intenção de votos: objetivo desta análise é refletir acerca da apropriação, leitura e compreensão da complexidade de resultados de pesquisas

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Pedro Barreto* e Jacqueline Quaresemin*

Para além da “decisão futura” do eleitor (futura por que o entrevistado tem que decidir na condicional “se as eleições fossem hoje …?”), o objetivo deste artigo é refletir acerca da apropriação, leitura e compreensão da complexidade de resultados de pesquisas de opinião dentro do campo da propaganda e disputa eleitoral.

O início oficial da campanha em 16 de agosto evidencia como a granularidade do tempo em períodos eleitorais corre junto com a conscientização e conhecimento (awareness) da audiência eleitoral. Para além do “óbvio” -com o passar do tempo a intenção de voto se cristaliza, é interessante observar o crescimento na realização e divulgação de pesquisas eleitorais. Foram levantados 315 registros de pesquisas contratadas, oficializadas pelo portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no período de 01/07 a 25/09.

Conforme o Gráfico 1, foram 65 pesquisas de abrangência nacional para eleições gerais, registradas de 15 a 31/08. Dez a mais que a primeira quinzena e 47% mais registros que durante todo o mês de julho. Com a oficialização de campanhas e desdobramentos da primeira quinzena eleitoral, o período seguinte, de 01 a 15/09, demonstra crescimento de 49%, totalizando 97 pesquisas realizadas, segundo registro oficial.

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Fonte: TSE.JUS.BR – Elaborado pelos autores

Num recorte semanal, é visível como o volume inicial conversa com uma tentativa geral de termômetro antes do start de campanhas. Após o dia 15/08 há uma queda de 44% a 33% sobre o volume de pesquisas realizadas. Segundo ponto a ser observado é como dois eventos com muitos significados na primeira quinzena de setembro afetaram diretamente à tendência e o volume de estudos registrados.

Do atentado ao candidato do PSL, no dia 06/09, e a sequência de formalização/substituição da candidatura do PT, 11/09, houve um incremento de 112% no volume de pesquisas de intenção de votos realizadas. No período da última semana, de 16 a 23/09, foram 43 registros; mantendo o crescimento mensal, mas abaixo da linha de tendência semanal, considerando o pico da segunda semana do mesmo mês/ setembro.

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Fonte: TSE.JUS.BR – Elaborado pelos autores

No cenário complexo da atual conjuntura política, iniciado no day after da divulgação dos resultados das eleições 2014, às pesquisas de opinião têm sua relevância ainda mais destacada – e criticadas, no campo da propaganda e comunicação como ferramenta legitimadora de discurso. Como alerta, institutos contratados seguem padrões mínimos de execução exigidos pelo TSE. Entretanto, isso não os coloca em patamares equivalentes ao se pensar uma evolução histórica de pesquisas de opinião e intenção, cruzadas entre diferentes institutos de pesquisa.

Faz-se necessário definir variáveis fundamentais para comparar diferentes resultados de maneira equivalente. Para tanto, números de dias para a realização do pleito, tamanho das amostras de pesquisas e histórico do Instituto de pesquisa contratado para sua execução são considerados critérios estatisticamente relevantes, e pilares na composição de uma série histórica para análise das pesquisas de opinião pública sobre intenção de votos.

Desta premissa e com o intuito de apoiar o fluxo de informação e o processo de construção do conhecimento (digital) eleitoral – para eleitores e organizações, a ferramenta Agregador Jota é bastante eficiente na função de compilar e organizar o resultado de todas as pesquisas registradas e oficializadas pelo TSE.

Figura 1: Série comparativa de pesquisas estimuladas

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Fonte: AGREGADOR JOTA

A Figura 1 corrobora para o fato que até o início das campanhas oficiais, na segunda quinzena de agosto, os candidatos partem de um piso de intenção que permanece estável ao longo do primeiro semestre do ano eleitoral. Deste ponto, nota- se a primeira escalada por candidatos simultaneamente à queda contínua e significativa dos respondentes “sem candidato”. Pontos de destaque nesta visualização: o momento de queda significativa nas intenções de voto à candidata Marina Silva, com o início oficial da campanha, ao mesmo momento em que os candidatos Bolsonaro e Haddad desempenham seus maiores índices de crescimento.

Mais do que se apropriar de médias móveis para realizar este comparativo de aplicações de pesquisas de intenção de votos, a equipe do professor Guilherme J. Duarte se apropria de iniciativas já conhecidas na ciência política ao aplicar um modelo bayesiano de agregação de dados publicados, utilizando estatisticamente informações anteriores para aprendizado e redução de incertezas. Como a própria iniciativa sugere,

Agregar pesquisas por médias simples é perigoso por diversos motivos. Primeiro, dá-se peso igual a diferentes institutos. Mais importante, dá-se peso igual a pesquisas mais distantes e mais próximas da eleição. Os resultados históricos de eleições passadas mostram que pesquisas realizadas mais próximas das eleições se aproximam mais dos resultados finais – o que é algo intuitivo, já que as pessoas passam a consolidar mais o seu voto. Tão importante quanto isso é o fato de que médias simples simplesmente ignorarem a diferença de tamanho de amostras.” (DUARTE, 2018)

A Figura 2, na sequência, traz um paralelo quanto a decisão e conhecimento do eleitorado ao demonstrar que mesmo após 16/08, a queda do segmento “sem candidatos” não é tão significativa, a ponto de que ainda em 01/09, o índice espontâneo fosse superior a 60% das respostas. Para melhor visualização gráfica foram selecionados apenas os dois candidatos líderes desde o início da medição (e considerados dentro da possibilidade aberta de resposta espontânea). Neste cenário, o ex-presidente Lula (agora não mais candidato) supera o candidato Jair Bolsonaro por todo o período consolidado.

Figura 2: Série comparativa de pesquisas espontâneas

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Fonte: AGREGADOR JOTA

A ferramenta não disponibiliza o mesmo tipo de análise para índices de rejeição ou segmentação por gênero, idade ou grau de instrução. Mas, a visualização por modelo bayesiano permite análises e aprendizados diferentes daqueles que o espectro de “dados médios” oferece (análises feitas por diversos grupos de interesse), pelo menos no que tange a série histórica (Eixo x, horizontal) como fatores externos mais propensos a alterações significativas no contexto da disputa. Importante ressaltar como a cronologia inversa do período eleitoral, ou seja, o tempo que falta para o dia da eleição, já é uma variável a se considerar nas mudanças cada vez mais responsivas dentro de menores tempos de medição.

O Agregador J, além de agrupar os resultados em uma linha com pontos, também possibilita explorações estatísticas que auxiliam na didática e análise independente sobre resultados de pesquisas de intenção de votos durante período eleitoral, sendo esse o principal recurso de informação, tanto para eleitor quanto para instituições.

Os pontos do gráfico representam exatamente o resultado publicado daquela determinada pesquisa (no site, há interatividade para conferir ponto a ponto, com data, resultado e instituto responsável pela medição). As linhas do gráfico retratam à tendência geral das pesquisas conforme o modelo estatístico aplicado, enquanto a faixa mais clara que permeia esta linha retrata o cenário de margem de erro das pesquisas, tanto para mais, como para menos.

A Figura 3 permite explorar tais aspectos dentro de um contexto de leitura dos resultados de intenção de voto. Foram selecionados os três candidatos líderes por toda a medição, além de se ocultar aqueles que se consideram “sem candidato”, mesmo que na pergunta estimulada.

Figura 3: Série comparativa de pesquisas estimuladas entre os três primeiros candidatos

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Fonte: AGREGADOR JOTA

Em primeira instância, como o candidato Jair Bolsonaro performa com o maior outlier da corrida, é o candidato que tem o maior número de medições (pontos) fora da sua curva. Ou seja, fora da linha de tendência e da própria margem de erro. Só este fator já alerta para os riscos, em termos de opinião pública, quando se considera apenas uma pesquisa, de determinado instituto, creditada como legítima pela sua atualidade. Isto é, nas disputas entre resultados, Institutos, meios de comunicação, Partidos, candidatos, entre outros grupos de interesse.

Considerando que o mês de setembro é substancial no que tange à transferência e decisão de votos entre os candidatos que disputam o segundo lugar nas pesquisas, a análise segue com Ciro Gomes e Fernando Haddad.

O candidato do PT performou abaixo de sua margem de erro nas pesquisas antes de 11/09 (formalização de apoio do ex-presidente Lula). Entretanto, pós tal data não só cresceu significativamente como também obteve pontos fora da curva, acima de sua margem de erro, lhe garantindo a segunda posição geral desde a última semana, do dia 16/09. Já o candidato do PDT, que vinha apresentando uma tendência de um pico por mês, com crescimento estável entre picos, apresentou crescimento expressivo de 26/08 até a última semana, quando teve sua primeira queda e pontuou abaixo dos 15% de intenção, ocupando a terceira posição neste cenário.

Mais do que oferecer leituras do cenário político, iniciativas como o “Agregador” J apoiam na educação digital e a transmissão de conhecimento de maneira ampla e irrestrita. Descentralizar os resultados e o discurso apresentado é fundamental na desconstrução de consensos impostos a termos complexos, permitindo análises mais apuradas daquilo que se entende realmente como opinião pública (grifo nosso).

Neste processo é válido recordar que existem mais de uma iniciativa no estímulo ao pensamento crítico sobre pesquisas eleitorais. A ferramenta PollingData, desenvolvida pela Sleek Data, disponibiliza desde eleições passadas, cenários e projeções bayesianas para o contexto brasileiro de presidenciáveis. Além de oferecer panoramas de probabilidades de determinado candidato ser (ou não) eleito, a ferramenta disponibiliza simulações de probabilidade de existências de segundo turno no pleito além das próprias simulações de segundo turno entre dois candidatos líderes.

O destaque diferencial com esta ferramenta, apontado pelo Observatório das Eleições (https://www.observatoriodaseleicoes.org), está na possibilidade de acesso e comparação sobre os viés de cada instituto. Como a iniciativa sinaliza:

→ Bolsonaro tem um viés positivo pela pesquisa FSB e negativo em Vox Populi;

→ Alckmin possui um viés positivo no DataFolha e IPESPE e negativo em Vox Populi;

→ Haddad possui um viés positivo em Vox Populi e DataPoder360 e negativo em FSB e IBOPE;

→ Marina possui um viés positivo em DataFolha e Paraná Pesquisas e negativo em DataPoder360. (Observatório das Eleições, 2018)

Em termos de interatividade, a ferramenta permite análises aprofundadas através da personalização de “recortes” e “aplicações de zoom” em períodos específicos de interesse do pesquisador, como se vê na figura abaixo:

Figura 4 – Série comparativa de pesquisas estimuladas por recorte temporal

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Fonte: POLLINGDATA.COM.BR

O recorte temporal acima facilita a compreensão da dinâmica envolvendo 2 fatos: atentado ao candidato do PSL e substituição da candidatura do PT. Nos primeiros dias, após atentado, o candidato Jair Bolsonaro/PSL apresentou ligeira queda, mais visível em 11/09, mas, cresceu logo em seguida em antítese à candidatura de Fernando Haddad, naquele momento com apoio oficial do ex-presidente Lula. Ainda que em uma linha menos acentuada que a de Fernando Haddad, o candidato Jair Bolsonaro se mantém como líder na disputa. Neste cenário é possível ver como a margem de erros para votos “não válidos” já permeia e constitui as margens dos dois principais candidatos nessa última semana de setembro.

Jair Bolsonaro, Fernando Haddad e “Não Válidos” estão na faixa dos 20% a 30% de intenção de votos. O candidato Ciro Gomes está na faixa dos 10% a 15%.

Mesmo não definindo claramente o peso que a mídia impressa/eletrônica e mídias sociais desempenham na formação de opinião do eleitorado, às pesquisas de opinião publicadas são insumos valiosos para construção do discurso de campanhas e legitimação de cenários presentes na comunicação dos múltiplos canais, com alcance exponencial quando trata-se de mídia cruzada (grandes meios presentes em todas as plataformas).

Da construção do discurso à decisão de voto, as atuais distribuições de tempos de campanha em TV por candidatos e partidos, regulamentação quanto a doações e esquemas de campanhas de marketing político, o cenário offline, por hora, sai do protagonismo ou pelo menos se fragmenta/redistribui. No que tange ao contexto digital, onde anúncios e publicidade, dados e privacidade ainda enfrentam uma nebulosa após escândalos da Cambridge Analytica e publicações recentes em nível global sobre a Regulamentação e Política Geral da Proteção de Dados, conhecida por GDPR, às pesquisas de intenção de votos como base de insumos para a criação de conteúdos de propaganda e comunicação deveriam ser ao menos consideradas (fica para o próximo estudo e pesquisa) dentro do contexto de Persuasão Interpessoal de Massa (PIM), apresentado por BJ Fogg (2002, 2008).

Busca-se tal paralelo entre a PIM (Persuasão Interpessoal de Massa) e pesquisas de opinião pública, o planejamento estratégico de comunicação e a sua promoção em sites de redes sociais, pensando-se em estudos de computadores e seus softwares como tecnologias persuasivas a partir de uma tríade funcional, da qual podem realizar diferentes papéis: ferramenta, mídia ou ator social (FOGG, 2002).

Em sua primeira função, de ferramenta, os computadores podem aumentar a persuasão através de recursos de redução e simplificação, direcionamento, customização, sugestão e intervenção no momento certo, auto-monitoramento, vigilância e condicionamento. Como mídia, a capacidade dos computadores em simular processos e acontecimentos permite que seus usuários simulem situações de causa-e-efeito, explorem ambientes virtuais e manejem objetos físicos análogos aos reais. Por fim, os computadores como atores sociais utilizam pistas sociais físicas, psicológicas, linguísticas além de utilizar dinâmicas sociais e até mesmo tomam papéis sociais no processo de persuasão.” (FOGG, 2002)

Tarcizio Silva, mestre em comunicação de redes digitais, aponta os riscos das PIMs dentro de um contexto de aplicação da publicidade política e a segmentação de mercado dentro das novas plataformas digitais. “Acreditamos que os conceitos de mídias pós-massivas, captologiai e auto-apresentação são úteis para operacionalizar o entendimento do uso publicitário de aplicativos de análise de informações sociais” (SILVA, 2009). Apesar de polêmico e ainda não comprovado seu impacto real dentro da segmentação de marketing, e aqui aplicada a persuasão político-eleitoral, o acesso a dados via API de ferramentas é cada vez maior (ainda que com restrições recentes). Somados a fragilidade que tais ferramentas demonstram sobre seu uso e comercialização de dados a terceiros, o reflexo e o domínio de impactos causados através da inteligência artificial é alarmante.

Para que a tecnologia seja de fato persuasiva, tem de levar em consideração que os usuários de tal tecnologia tem de ter determinada motivação para realizar alguma tarefa (ou mudança de comportamento ou atitude), ter a habilidade necessária e, finalmente, é necessário que exista um gatilho que incorpore um sinal, facilitador ou “centelha” para a realização da ação.” (SILVA, 2009)

Considerando o alto volume de informações trocados via redes sociais digitais e aplicativos de conversas, desde a construção de manchetes, imagens de miniaturas, textos destaques, entre outros, quantos atributos de propagandas são possíveis de se medir dentro de um compartilhamento de resultados de pesquisas de intenção de votos? É só o início de uma reflexão.

*Pedro Barreto é especialista em Opinião Pública e Inteligência de Mercado pela FESPSP. Pesquisador de comunicação estratégica na Vert Inteligência Digital

*Jacqueline Quaresemin é especialista em Opinião Pública. Professora na Pós- Graduação de Opinião Pública e Inteligência de Mercado – FESPSP. Diretora da OPINARE Pesquisa e Consultoria.

Referências:

Fogg B.J. (2008) Mass Interpersonal Persuasion: An Early View of a New Phenomenon.

Silva, Tarcísio (2009) Captologia: computadores, persuasão, comportamento e publicidade digital. Disponível em: http://tarciziosilva.com.br/blog/captologia- computadores-persuasao-comportamento-e-publicidade-digital/

http://www.tse.jus.br/eleicoes/pesquisa-eleitorais/consulta-as-pesquisas-registradas

https://data.jota.info/agregador/

http://captology.stanford.edu/resources/paper-mass-interpersonal-persuasion.html

https://www.observatoriodaseleicoes.org/feed-de-posts/como-sao-feitos-os- questionarios-eleitorais

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