Redação Pragmatismo
Polícia Militar 27/Ago/2018 às 16:34 COMENTÁRIOS
Polícia Militar

Policial mulher é agredida por tenente e denuncia caso

Publicado em 27 Ago, 2018 às 16h34

Uma cabo da reserva da Polícia Militar ficou com hematomas no braço e na perna após ser agredida por tenente. Homem ainda gritou que ‘Praça não é nada!’

Policial mulher agredida tenente belém Pará

Arthur Stabile, Ponte

Uma cabo da reserva da Polícia Militar do Pará denunciou um oficial da PM local por agressão durante uma briga familiar em Belém, capital paraense. Ela tentou intervir em uma discussão envolvendo sua sobrinha, que namora o tenente da PM-PA, e ficou com hematomas nos braços e pernas.

Segundo a versão de Jane de Avelar Cruz, ela estava em casa no dia 1º de agosto quando conhecidos a chamaram para resolver um desentendimento entre seu irmão, pai da garota de 18 anos, e o PM da ativa. Os dois debatiam sobre a propriedade da casa em que o casal mora, cujo terreno foi dado pelo pai da jovem e que o PM tenta vender.

A policial aposentada foi até o local, que fica uma rua atrás de onde ela mora e, de acordo com a cabo, uma pessoa que estava na casa abriu o portão para sua entrada. Neste momento, o tenente Elton Santos já partiu para a agressão, segundo Jane. “Praça não é nada!”, teria dito o oficial, durante as agressões, em referência a baixa patente de Jane.

O pai da menina, meu irmão, tinha saído correndo de lá porque ele estava irredutível em mudar. Foi quando cheguei e ele já veio me agredindo, falando para eu sair da terra dele, do terreno dele… Ele me empurrou no peito e cai em cima de uns pedregulhos, me chutou como se fosse uma vagabunda, não me respeitou como militar”, relata Jane, em entrevista para a Ponte.

A PM, com 25 anos de serviços prestados e 57 de idade, aponta que a sobrinha se relaciona com o tenente há mais ou menos dois anos, quando tinha 16. Hoje, é mãe de uma bebê de seis meses. A relação nunca foi apoiada pela família.

Ele disse que há muito tempo tinha vontade de fazer aquilo comigo. Que era para eu procurar meus direitos porque ele era a lei, não sofreria nada, e eu era uma praça vagabunda qualquer”, relembra a cabo aposentada.

Após as agressões, a policial registrou B.O. (Boletim de Ocorrência), mas disse que a Corregedoria da PM foi ao local apenas “para ajudar o tenente”. “A Corregedoria mandou uma viatura para tirar ele do flagrante. Nunca me deram apoio, não foram até minha casa. Estou morando refugiada com meu filho porque ele me ameaçou”, conta. “Antes saímos de casa por causa de vagabundo, agora é por causa de um oficial? Ele é mais bandido que um bandido”, continua.

Segundo apurado pela reportagem com pessoas ligadas à PM do Pará, a Corregedoria prestou apoio à cabo da reserva, que preferiu não prestar depoimento. Ela aceitou registrar o boletim de ocorrência apenas após um vereador de Belém, também militar, gravar um vídeo denunciando o caso – este vereador é candidato a deputado nestas eleições.

 

Essa fonte local explicou que há um atrito grande dentro da Polícia Militar do Pará entre praças (cabos, soldados e sargentos) e oficiais (tenentes, capitães, coronéis e majores). Os primeiros, de cargos mais baixos, reclamam de questões salariais discrepantes das quais os outros, superiores, teriam benefícios. Esta rixa é tratada como questão política.

A Ponte tentou entrar em contato com o tenente Santos, acusado das agressões. O pedido de entrevista feito à SSP-PA (Secretaria da Segurança Pública do Pará) não foi atendido e o oficial não foi localizado até a publicação desta reportagem.

A SSP-PA explicou que abriu investigação no dia 14 de agosto para apurar as circunstâncias da briga e das agressões, além de ter orientado a Corregedoria a adotar “as medidas necessárias”. “A Corregedoria aguarda a declaração da sargento [embora ela mesma diga que se aposentou na função de cabo], vítima, que ainda não compareceu à Corregedoria para formalizar o fato”, aponta.

A Polícia Militar não admite e muito menos tolera qualquer desvio de conduta militar, sobretudo de violência praticada contra mulheres, sejam militares ou civis. Em caso de comprovação de qualquer delito, os responsáveis serão tratados com os rigores previstos em lei”, diz a nota da pasta.

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