Redação Pragmatismo
Homofobia 30/Ago/2018 às 21:46 COMENTÁRIOS
Homofobia

Menino de 9 anos é encontrado morto quatro dias após admitir ser gay

Publicado em 30 Ago, 2018 às 21h46

Homofobia e suicídio: menino de 9 anos contou aos colegas de classe que era gay e, quatro dias depois, foi encontrado morto em casa. Mãe faz apelo comovente

Jamel Myles menino gay
Jamel Myles cometeu suicídio aos 9 anos

Um menino de apenas 9 anos cometeu suicídio poucos dias após o início das aulas, vítima de um bullying constante por ser gay. O episódio aconteceu nos EUA, mas ganhou repercussão internacional.

“Quatro dias na escola foi o que bastou, só posso imaginar o que lhe disseram”, declarou a mãe de Jamel Myles, Leila Pierce, a meios de comunicação locais.

“Meu filho disse a minha filha mais velha que os meninos na escola falaram para ele se matar. Me dói tanto que não tenha vindo a mim”, continuou a mãe.

Pierce explicou que seu filho, que estava na escola fundamental Joe Shoemaker em Denver, Colorado (oeste dos Estados Unidos), lhe disse nas férias de verão que era gay e que queria se apresentar como tal a seus colegas quando começassem as aulas.

“Ele parecia tão assustado quando me contou. Ele disse: ‘Mamãe, eu sou gay’. Eu pensei que ele estava brincando, então olhei para trás, porque estava dirigindo, e ele estava tão assustado. E eu disse: ‘E eu continuo amando você’, contou Leia, acrescentando que o filho queria muito revelar para seus colegas da escola.

“Foi à escola e disse que ia contar às pessoas que era gay porque estava orgulhoso de si próprio”, disse Leila. O garoto passou a ser humilhado constantemente pelos colegas. As aulas começaram em uma segunda-feira. Quatro dias depois, Jamel foi encontrado morto em casa.

A escola pôs à disposição dos estudantes e professores terapeutas para quem quiser falar sobre o ocorrido, e mandou cartas às famílias sobre a tragédia.

“Tem que haver responsabilidade pelo bullying”, disse Pierce. “As crianças sabem que está errado, uma criança não gostaria que fizessem isso com ela”.

“Acredito que se deve responsabilizar os pais, porque claramente os pais estão ensinando-os a ser assim ou tratando-os assim”, acrescentou Pierce.

Homossexualidade

Psiquiatra infantil da Santa Casa de Misericórdia do Rio, Fabio Barbirato afirma que a primeira coisa que pais devem fazer nessa situação é procurar ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra.

“Homossexualidade é normal, não é doença. Mas o estranho é que o menino tenha tido a capacidade de se perceber homossexual ainda aos 9 anos. O que ocorre muitas vezes é uma sexualidade precoce estimulada por fatores externos. Acredito que, talvez, ele estivesse sofrendo transtornos de identidade de gênero ou depressão, e isso não tenha sido observado e tratado corretamente. Os pais precisam dispensar algum tempo em sua rotina diária para conversar com os filhos, jantar, passar um tempo livre com eles. Só assim conhecerão o que preocupa seus filhos”, disse Fabio.

A psicóloga Sally Carvalho, por sua vez, diz que a criança que assume a homossexualidade não precisa ter apoio apenas dentro de casa, mas também se sentir aceita pelos grupos sociais nos quais está inserida.

“No caso de Jamel, quando ele disse “mãe, eu sou gay”, ele estava dizendo ” mãe, eu sou gay, o que eu faço?”. Era um pedido de orientação, de ajuda. Ele teve como resposta que é amado pela família, o que é muito importante, mas não costuma bastar. Ele também tinha a necessidade de ser aceito pelo grupo, ainda mais em se tratando de uma criança. A mãe, por não ser orientada sobre como lidar com o assunto, não falou sobre essa questão com a escola e com os responsáveis por outros ambientes que o filho pudesse frequentar. Ela pode ter subestimado a situação. A família deveria, ao tomar conhecimento, ir à escola e, junto à coordenadora e ao psicólogo, falar para a turma. Isso contribuiria para que o menino fosse mais protegido contra o bullying”, afirmou.

“Ensinem seus filhos a amar”

A seguir, confira trechos do depoimento dado à BBC por Leila Pierce, mãe de Jamel:

“Você quer saber como é estar morto enquanto ainda está vivo? Perca um filho. É doloroso. Seu coração se parte a cada segundo, e você não sabe o que fazer. A vida deixa de ser justa. Estou acabada. Se não fosse por minha filha, não sei o que faria.

Ensinem seus filhos a amar. Que é tudo bem ser diferente, porque somos todos diferentes. Ninguém é igual, e se fossemos iguais esse mundo seria muito chato. Nossas diferenças nos tornam iguais. Ensinem compaixão aos seus filhos. Ensinem respeito. Ensinem a aceitarem mais uns aos outros.

Ensinem que, se você não gosta de algo ou alguém, que está tudo bem ficar quieto e se afastar, que não é necessário dizer sempre coisas ruins, que é bom chegar para alguém e dizer ‘Ei, você é especial, você é lindo’, porque todo mundo tem dor dentro de si e todo mundo precisa de palavras de apoio.

Meu filho disse que queria mudar o mundo e dar amor às pessoas. Ele não pode mais fazer isso agora, mas eu posso passar as palavras dele à frente, porque todo mundo precisa ouvir isso. Uma alma tão gentil deixou esse mundo por algo tão cruel, e quero que meu filho saiba que ele mudou o mundo para melhor por ser quem era”.

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