Redação Pragmatismo
Mundo 11/Mai/2018 às 14:02 COMENTÁRIOS
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O mundo de hoje é fruto do amor e do ódio a Karl Marx

Publicado em 11 Mai, 2018 às 14h02

É exatamente por ter dado certo que Karl Marx permanece assustando a todos os exploradores e rompendo as amarras de todos os explorados que aceitam o desafio de ler e pensar para além do idealismo

mundo de hoje é fruto do amor e do ódio a Karl Marx

Fernando Horta, Opera Mundi

Karl Marx nasceu no início do século XIX, mais precisamente em 1818. E não é injusto dizer que ele criou o mundo que conhecemos. Sem Marx o século XX não existiria da forma como o conhecemos, e mesmo o capitalismo, que no século XIX iniciaria sua expansão como sistema mundial, não teria sido nem parecido com o que temos hoje.

As ideias de Marx influenciaram desde a economia, história e ciência política, até a psicanálise ou a psicologia. Existem poucos nomes na história da humanidade que tenham sido tão debatidos, criticados, exaltados ou cujas ideias tenham tido tanta absorção e importância. O século XX é fruto do amor e do ódio à Marx como, talvez, somente o século V d.C. tenha alguma semelhança, em virtude da importância das ideias de um outro revolucionário, este nascido na Galileia.

É preciso que se diga, contudo, que Marx não chancelaria a afirmação inicial deste texto. A essência das explicações marxistas no campo da história é que todo homem é fruto das condições materiais em que ele é criado. Marx e seu materialismo histórico, lembrar-nos-ia que ele, Marx, é fruto do acirramento das contradições e disputas dentro do desenvolvimento capitalista e, provavelmente, caso o sujeito Karl Marx não tivesse existido, outro tomaria o seu lugar em demonstrar e criticar os mecanismos capitalistas. Esta linha estrutural que rege os acontecimentos humanos e que – de alguma forma – não se sujeita aos homens é característica de todos os pensadores do século XIX. Não apenas o estruturalismo marxista, mas também o evolucionismo, a que Marx agradece a Charles Darwin já na primeira edição d’O Capital, são, paradoxalmente, os pontos mais utilizados e mais criticados de pensamento marxista.

Não poderia ser diferente, mas Marx partilha da noção de superioridade do discurso científico para compreender a realidade. A diferença do pensamento de Marx, já no século XIX, é afirmar que a filosofia (e a ciência em geral) não podem se contentar apenas em explicar o mundo, mas devem também mudá-lo. E, enquanto quase todas as ciências foram se aninhando dentro das universidades e do discurso de “neutralidade” e “objetividade”, Marx, de 1818 até 1883, ano de sua morte, caminhou para dentro da sociedade e deixava clara a sua posição em defesa da transformação radical do mundo. Em defesa, pois, da revolução.

Ao contrário, entretanto, do que a maioria das pessoas pensam, Marx era um crítico voraz da violência. Em seus estudos sobre a França do século XIX, em diversas passagens ele condena as “barricadas” e o “enfrentamento de rua” sem que existam “meios materiais” que permitam a vitória. Karl Marx se impressionou com o nível de violência que o capital estava disposto a perpetrar para evitar qualquer mudança, e o resultado sangrento da chamada “Primavera dos Povos” (1848), na Europa, convenceu-lhe ainda mais sobre o acerto de sua postura contra a violência. Em suas discussões com Bakunin, no centro da primeira Internacional Comunista, fica evidente que Marx apenas aceitava a violência como parte da mudança e justa e precisamente na quantidade necessária para que a revolução acontecesse. Não mais.

Teórico e prático

Não deve existir diferença, segundo Marx, entre teoria e prática, assim como a força da filosofia marxista surge quando ela arremete contra Hegel afirmando que nenhuma ideia pode existir sem que tenha efeitos materiais na existência humana. E nenhuma ideia existe para além de seus efeitos concretos. Assim, se a obra escrita mais conhecida de Marx (O Capital) tem apenas o seu primeiro volume publicado por Marx em vida, em 1867, a sua prática política leva à criação da Associação Internacional dos Trabalhadores, conhecida como “Primeira Internacional,” já em 1862. A primeira organização internacional de trabalhadores que encarna a luta política do proletariado é tão importante quanto a teoria de Marx e seu parceiro Engels.

Teoria e prática iam formando uma dança dialética na história do pensamento marxista. A dialética que oferecia três princípios básicos para compreensão da ação humana: (1) a soma das partes nunca é igual ao todo, que também é conhecida pela lei da transformação da quantidade em qualidade; (2) a ideia de que todo ente ou ação traz consigo vetores e características da sua própria destruição e (3) a chamada “negação da negação” que afirma que humanidade incorpora as contradições em uma eterna mudança positiva, impossível de ser contida.

A prática política gera perguntas (reflexão teórica) que vão se acumulando e transformando a realidade de forma qualitativa, esta transformação (síntese) enseja ainda mais contradições dentro da realidade, que voltam a se acumular e a serem sintetizadas em uma nova realidade, que novamente acumula contradições… Marx acreditava, quando jovem, que este movimento era evolutivo. Que havia uma acumulação gradativa das contradições para então a síntese, em moto contínuo. Mais ao final de sua vida, Marx admitiria que a dialética pode trabalhar aos “saltos” e não por acumulação gradativa.

A dialética marxista, diferentemente da hegeliana, assumia que todas as suas etapas aconteciam dentro do substrato material de existência humana. A dualidade hegeliana entre a materialidade e seu par ideal é radicalmente transformada por Marx e Engels quando eles afirmam que (no primeiro capítulo de “A ideologia alemã”) a filosofia da época testemunhava o apodrecimento da noção de “espírito”. O termo “material” para Marx representava tudo o que tinha origem, funcionamento e existência na realidade empírica dos seres.

Assim, a ideia de “liberdade” não existe como tal e somente pode ser compreendida a partir da real liberdade que gozam os sujeitos dentro de determinado tempo e sociedade. A moral, os sentidos de valores, planos ideais ou religiosos (que eram todos agrupados na noção de “espírito”, da filosofia anterior ao século XIX) são arrastadas por Marx, sem nenhum remorso ou piedade, para a dentro da realidade humana. Todo o resto seria chamado pelo alemão de “filosofia do charlatanismo”. Aquelas ideias que existem como mera representação da vontade imaterializada e sem efeito no concreto.

Desde que os jovens [filósofos discípulos] de Hegel consideram conceitos, pensamentos e ideias como produtos da consciência, consciência esta a que eles atribuem uma existência independente [do homem] e que é sua verdadeira natureza, é evidente que estes discípulos precisam lutar [lidar, questionar e entender] apenas com estas ilusões. Contudo, desde que, de acordo com esta fantasia, a relação entre os homens, seus feitos, suas correntes, suas limitações são produtos APENAS de sua consciência eles colocam a humanidade dentro de uma prisão moral em que para a mudança real acontecer seria necessária apenas uma mudança na consciência presente dos homens que acabasse com suas limitações. (…) Eles [os novos filósofos hegelianos] esquecem, contudo, que estão apenas trocando argumentos e de maneira nenhuma estão combatendo [dialogando, criticando, pensando] o mundo real (Capítulo I de A Ideologia Alemã, 1845).

Para Marx, não existe uma “fome” descarnada, como uma ideia externa, mas a fome que o ser humano sente materialmente, advinda das suas necessidades básicas. É na condição real do sujeito que estão as “coisas” do mundo. A mesma ideia se aplica para todo e qualquer conceito que só se faz existir dentro das “condições materiais de vida” dos seres humanos. É ali, no meio dos sujeitos, que o mundo precisa ser compreendido. E compreendido para ser modificado.

De posse desta chave (o materialismo histórico) e do método dialético, Marx se coloca a compreender os fenômenos do mundo. Entre 1844 e 1867, ano da publicação do Capital, ele vai escrever sobre filosofia e política (Manuscritos Econômicos e filosóficos, A pobreza da Filosofia), vai se propor a fazer análises históricas nacionais e internacionais (A luta de classes na França 1848-1850, O dezoito Brumário de Napoleão Bonaparte, A diplomacia secreta do século XVIII), vai se debruçar sobre a economia política e os atritos e antagonismos no mundo (Uma contribuição para a crítica da economia política,Grundrisse) e vai desenvolver sua crítica às teorias econômicas da época (Valor, preço e lucro) até chegar n’O Capital. Este caminho é essencial para se compreender o pensamento de Marx porque ele explica tanto a noção de que a economia (a forma como o homem organiza-se para retirar da natureza o seu sustento) acaba sendo a base sobre a qual Marx argumenta, quanto também explica porque em Marx a noção do conflito (luta de classes) é essencialmente positiva. Ao afirmar que a história da humanidade é a história do conflito de classes, Marx não estava – como fazem alguns que desconhecem a sua obra – emprestando à noção de “conflito” um caráter negativo. Dentro da dialética marxista o conflito gerado pelas contradições é necessário para o moto-contínuo que alcança a síntese das realidades históricas e é a chave da mudança.

A questão da propriedade privada

O Capital é fruto, pois, de um longo caminho que começa pela crítica ao idealismo de Hegel, passa pelos estudos reais dos conflitos europeus da época e chega à investigação da causa essencial destes conflitos: a propriedade privada dos meios de produção. Outro erro comum aos opositores políticos de Marx, especialmente os jovens sem tempo ou interesse por leituras, é afirmar que Marx era contra a propriedade privada. Só há sentido na crítica de Marx para a propriedade DOS MEIOS DE PRODUÇÃO. Marx nunca propôs dividir as panelas, a cama ou o iPhone como forma de resolver o conflito do mundo. O sentido da argumentação em O Capital é diferenciar os objetos pela sua inserção no processo produtivo. Se alguém usa uma panela para cozinhar para si e para os seus, esta não é uma “propriedade privada” contra a qual Marx vai se insurgir. Agora, se alguém usa uma série de panelas para aproveitar-se do trabalho de uma série de cozinheiros e acumular riqueza, o sentido mudo: o mesmo objeto – a panela – tem funções econômicas distintas nos dois casos. E o segundo uso que questiona Marx, a panela que se torna um “meio de produção” e tem sua EXPLORAÇÃO privada.

Na transição dialética da análise do mundo real, Marx vai dizer que a base econômica de uma sociedade cria toda uma série de ideias, teorias, pensamentos, costumes, práticas individuais ou coletivas que têm não apenas uma ligação direta (de forma genética) com as formas econômicas de produção, como também JUSTIFICAM e REPRODUZEM o processo de acumulação de riqueza. Assim, a “ideologia” seria um grupo de noções cujo sentido emanaria das formas de produção econômicas e serviria para proteger estas formas e replicá-las, de tal forma que os homens não seriam capazes de compreender a realidade material senão pelos códigos, licenças e limites da ideologia. Em Marx, não há um único homem ou mulher e qualquer ação destes que não seja ideológica. Contudo, é apenas ao descobrir este mecanismo que os sujeitos seriam capazes de opor a ele um PENSAMENTO CRÍTICO, de questionamento da sua realidade. A este momento, Marx chamou de “consciência” que, quando atingir o nível do entendimento do seu espaço no processo produtivo, seria chamada de “consciência de classe”. A filosofia de Marx é, portanto, uma filosofia de emancipação. De compreensão do mundo pelos olhos críticos do sujeito que se percebe inserido dentro de sua realidade, como parte do processo produtivo.

Este caminho de denúncia vai atingir a todos os pensamentos e teorias (chamadas por Marx de superestruturas) que aprisionam o ser dentro de uma nuvem de sentidos que lhe causam confusão. Estado, religião, educação, o direito, a própria filosofia não crítica, os escritos econômicos nãomaterialistas, os valores mesquinhos de posse, amor-posse, individualismo são denunciados como formas de mascarar a realidade. Ninguém fica rico “por Deus quer”, mas por um processo longo de exploração do trabalho de uma série de pessoas. Não existe noção de “lei” ou “justiça” que não seja construída socialmente e que não sirva ao controle que uma minoria faz sobre a grande massa das pessoas. Não há educação que não seja uma educação para reprodução de certas noções e sentidos que servem à manutenção da realidade como está, e de suas relações econômicas de exploração.

Nem tudo é novo

Algumas destas ideias não são novas. A denúncia do papel de controle da educação e do Estado pode ser vista em Rousseau. A explicação do Estado como reprodutor e garantidor do modo econômico é uma premissa de Adam Smith. A crítica da desigualdade econômica humana como geradora de conflitos e violência aparece em diversos pensadores do século XVIII como Hobbes e o próprio Rousseau. Marx operacionaliza todas essas noções numa série de conceitos encadeados que formam uma teoria simples e elegante. Simples porque as mesmas categorias podem ser usadas para analisar diversos fenômenos, sem a necessidade de novos argumentos ou condicionantes, e elegante porque não recorre a rebuscadas formas de pensamento, geralmente obscuras demais para o entendimento da população em geral.

O pensamento de Marx vai ser apropriado por quase todas as áreas do conhecimento humano, exatamente porque ele tem um método e uma epistemologia, além de teorias gerais e específicas. Conceitos como “mais-valia”, “alienação”, “exploração”, “ideologia”, “consciência de classe”, “classe”, “luta de classes” se tornaram parte do léxico científico e político do século XIX, XX e XXI. E, ainda que existam críticas muito bem formuladas a determinados pontos do pensamento marxista, ele é simplesmente muito grande para ser “refutado”. Toda uma escola de pensadores, com Horkheimer, Habermas, Adorno, Marcuse e etc. – chamada de “Escola de Frankfurt” –, se dizia “pós-marxista”. No entanto, todos reafirmavam que não haviam “derrubado” as teorias de Marx, mas apenas seguido para objetos e relações que o filósofo alemão do século XIX não poderia ter pensado e analisado. Portanto, mesmo os pós-marxistas não são “antimarxistas”, mas, nas palavras de Habermas, “avançam as noções centrais de Marx para objetos, tempos e relações que materialmente não lhe estariam disponíveis”. Emancipação, crítica (como oposição à reprodução simples da realidade), opressão, ideologia são conceitos e noções marxistas presentes no chamado “pós-modernismo”.

Marx e a política

Se do ponto de vista intelectual Marx continua vivo, do ponto de vista político sua necessidade é ainda mais premente. Marx predisse que o capitalismo levaria a um sistema de concentração de renda tão violento, desumano, desigual que colocaria em xeque a sua (do capitalismo) própria existência. Os dados do século XXI dão total razão a Marx. Thomas Piketty, em seu estudo sobre O Capital no século XXI, afirma, já na introdução, que de todas as teorias econômicas do século XIX e XX, a de Marx é a que chegou mais perto de descrever a realidade atual.

Marx afirmava que o capitalismo continha em si a semente da sua destruição. A desigualdade extrema não apenas implicaria na impossibilidade econômica da reprodução do capitalismo, como geraria um ambiente de violência social extremada e insuportável. O capitalismo, entretanto, teria uma forma de se curar: as guerras. Nas guerras o capital via seus lucros aumentarem e a massa de trabalhadoras (que formam 100% dos exércitos) ser diminuída em lutas fratricidas. Nas guerras também, o capital teria acesso a novos mercados e a novas matérias-primas.

Quando Marx e Engels postulam o seu famoso “Operários do mundo, uni-vos”, eles estão exatamente usando o brado da coletividade em favor da paz e não da guerra. Dentro do pensamento marxista, os proletários da França, do Equador, de Cingapura e da Austrália teriam mais coisas em comum do que os proletários franceses e os burgueses franceses, uma vez que o Estado seria uma forma de fazer reproduzir ideias (como, por exemplo, o nacionalismo) cuja função seria manter as relações de exploração e o controle sobre as massas empobrecidas. Existe, por exemplo, toda uma abordagem do direito penal e constitucional que nasce desta ideia. Na década de 70, Foucault vai pesquisar as formas de controle social em seu famoso Vigiar e Punir e, apesar de alguns argumentarem por uma oposição entre Marx e Foucault, é possível ver as categorias marxistas em trabalhos que avançam para noções que no século XIX não se poderiam ter pensado.

A parte mais criticável do pensamento de Marx é também sua maior fortaleza. A utopia comunista é muito pouco desenvolvida nos escritos de Marx e parece mesmo contraditória à sua teoria. Segundo o filósofo, no comunismo os conflitos de classe seriam suprimidos.

O problema é que, como vimos, o conflito é em Marx positivo. Sem conflito, como haverá dialética e como haverá o “progresso” (como noção evolutiva mesmo)? Marx não resolve estas questões e tampouco poderia. Se atentarmos para as premissas do pensamento de Marx, todo o homem é fruto de suas condições sociais, condições deixadas – na maioria das vezes – pelos seus antepassados.

Assim, como um homem nascido numa sociedade capitalista poderia antever uma sociedade comunista em sua completude e até mesmo explicá-la? Impossível. Exatamente por esta questão evolutiva que, entre o capitalismo e o comunismo, Marx colocou uma fase preparatória chamada de “ditadura do proletariado”. A ditadura do proletariado teria por função acabar com as amarras burguesas, as ideias de controle da propriedade privada, as democracias representativas de brancos, homens e ricos, a educação que visa a reprodução e não a emancipação etc.

Neste momento, isto teria que ser feito por meio de ditadura, uma vez que a burguesia não destruiria de bom grado seu controle material e ideológico sobre as massas. É apenas dentro desse momento de transição, chamado de “socialismo”, que poderiam se formar as primeiras visões de uma sociedade mais justa, mais igualitária em que o fruto do trabalho social fosse socialmente dividido: uma sociedade comunista. “De cada qual segundo suas capacidades, para cada um segundo suas necessidades”, são as exatas palavras de Marx. O que não significa uma igualdade formal, mas sim tratar os desiguais desigualmente.

É somente neste momento que se pode falar em alguma noção de mérito como base da sociedade. Somente quando todos tiverem um começo igual puderem ter suas necessidades básicas atendidas é que se pode dizer que o produto do esforço pessoal é realmente mérito. Não é fazer uma prova “igual para todos” e colocar o estudante de periferia, que trabalha oito horas por dia antes de começar a estudar, a “lutar” por uma vaga com o filho de um juiz que recebe do Estado “auxílio” para pagar a sua escola.

Igualdade em primeiro lugar

A noção de igualdade marxista é dar aqueles que precisam mais, mais. O fim do sistema de exploração e concentração privada de riqueza faria com que todo o lucro (fruto do trabalho social) fosse canalizado para o Estado e para a coletividade. Com esta ideia, a URSS conseguiu sair de uma condição feudal em 1917 para uma potência nuclear em 1949. E isto tendo lutado duas guerras mundiais e uma guerra civil. A mesma noção fez Cuba ter o melhor sistema de saúde e educação da América (contando os EUA). A mesma ideia fez a China, que tinha na década de 60 o mesmo PIB do Brasil, ser hoje a segunda maior economia do mundo e certamente passará os EUA em dez anos, no máximo.

Como teoria e prática são indissociáveis para os marxistas, é possível dizer que o marxismo “deu certo” em tudo o que se propôs a fazer. Não somente Marx é o pensador mais importante dos últimos três séculos, como todos os que aprofundam suas ideias têm tido um impacto relevante na sociedade.

Contudo, assim como a física pode ser usada para construir uma bomba atômica ou para criar meios para salvar vidas, o marxismo pode ser usado para legitimar a opressão ou para promover a libertação. Neste ponto, as críticas aos modelos, conceitos e teorias marxistas ocorrem desde praticamente a sua gênese. Ninguém foi mais violenta na crítica às teorias revolucionárias de Marx do Rosa de Luxemburgo. Ninguém foi mais criativo na transposição das ideias marxistas para o século XX e XXI do que Habermas ou Adorno. Ninguém foi um melhor operador da mudança do que Lênin, e muitas vezes reinterpretando Marx. O pós-colonialismo e mesmo o pós-modernismo são tributários da noção marxista crítica de emancipação, de alienação e de ideologia, como formadoras dos sujeitos.

Marx está cada vez mais atual, mas é claro que não se poderia esperar que um filósofo do século XIX antecipasse todo o século XX e XXI. Marx antecipou muita coisa. Sua explicação do capitalismo continua vívida e pulsante. Suas considerações sobre as guerras e crises econômicas regenerativas estão na essência das argumentações hoje. Sua divisão do mundo entre exploradores e explorados, embora tenha ganho algumas tonalidades diferentes, se mantém.

O estruturalismo marxista caiu, como todos os estruturalismos do mundo. O evolucionismo marxista também já não se sustenta com a força de outrora, mas sua utopia permanece. Marx continua amedrontando a todos os que não conseguem compreender a sua realidade e a todos os que vivem explorando aqueles que não compreendem a sua realidade.

Marx “deu certo”

O fantasma que rondava a Europa, hoje, ronda todo o mundo e até mesmo no centro do capitalismo mundial um candidato que se diz “socialista” tem enorme apelo político e popular. Marx dizia que o medo da “abolição da propriedade privada” era irreal uma vez que para 9/10 da população já não existia propriedade alguma para defender. Hoje são 99 pessoas em cada 100 que nada possuem.

Marx “deu certo”. E é exatamente por ter dado certo que ele permanece assustando a todos os exploradores e rompendo as amarras de todos os explorados que aceitam o desafio de ler e pensar para além do idealismo. É nas condições históricas, econômicas e materiais que se encontram os problemas e as soluções para a humanidade. E é lá que você vai encontrar Marx.

Não se preocupe, você pode ler Marx usando seu iPhone. Ninguém quer toma-lo de você, até porque ele é seu, segundo as palavras do próprio Marx: “Se a classe trabalhadora a tudo produz, a ela tudo pertence”.

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