Redação Pragmatismo
Arte 09/Fev/2018 às 14:06 COMENTÁRIOS
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Desaparecida há 43 anos, "Mona Lisa Africana" é reencontrada em Londres

Publicado em 09 Fev, 2018 às 14h06

“Mona Lisa africana” é reencontrada em Londres após 43 anos desaparecida. Obra foi achada em apartamento no norte da capital inglesa e será leiloada no final do mês

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O achado foi descrito como “a descoberta mais significativa na arte africana contemporânea em mais de 50 anos” (reprodução)

Eu penso nela como a Mona Lisa africana“, refletiu o poeta Ben Okri enquanto olhava para o retrato de uma princesa nigeriana que recentemente apareceu em um apartamento de Londres. A obra pintada por Ben Enwonwu, em 1974, retrata Adetutu “Tutu” Ademiluyi, filha de um rei iorubá, assumiu um status quase mítico na Nigéria.

Havia sido vista pela última vez um anos depois de sua final, mas agora está à venda após sua redescoberta surpresa. “É uma pintura lendária há 40 anos, todos continuam falando sobre ela, perguntando ‘onde está Tutu?’“, disse o escritor vencedor do prêmio Booker.

Como figura cultural nigeriana proeminente no cenário mundial, Okri teve acesso à pintura na casa de leilões Bonhams, na capital inglesa, onde o trabalho será vendido em 28 de fevereiro. “Ele não estava apenas pintando a menina, ele estava pintando toda a tradição. É um símbolo de esperança e regeneração para a Nigéria, é um símbolo do surgimento da fênix. Passei horas olhando para ela, compensando o tempo que não a tínhamos visto. Tem sido um trabalho de rumor, mas aqui ela está, cristalizada“, celebrou.

O quadro foi descoberto por Giles Peppiatt, diretor de Arte Moderna Africana da Bonhams, depois que uma família do norte de Londres entrou em contato com ele após lucrativas vendas de obras de arte nigerianas. “Foi bastante notável quando entrei nesse apartamento e vi essa pintura pendurada na parede. Era a última coisa que eu esperava ver“, explicou. “Assim que eu a olhei, sabia que era autêntica, mas não podia dizer isso na época aos proprietários, porque você não pode simplesmente afirmar sem nenhum estudo“. Depois de confirmar que a procura de “Tutu” havia acabado, ele disse que a família “não ficou surpreendida“.

Símbolo da união étnica

O artista, que morreu em 1994, é considerado o pai do modernismo nigeriano. Ele criou três quadros de “Tutu“. A localização deles haviam sido um mistério até a recente descoberta. As obras se tornaram símbolos de paz após o choque de grupos étnicos no conflito Nigéria-Biafra do final da década de 1960. “A princesa era iorubá e Ben Enwonwu era ibo, então eles eram de diferentes tribos étnicas. Foi um símbolo importante da reconciliação“, disse Eliza Sawyer, especialista no departamento de arte africana de Bonhams.

Enwonwu era de uma família ibo politicamente ativa e seu pai era um escultor tradicional. O pintor encontrou sua musa mais famosa por acidente. “Ele caminhava pelas aldeias locais e esboçava cenas e figuras locais, e ele viu essa jovem que ele achava que estava apenas fascinante e pediu para pintá-la, sem saber quem ela era. Ela ficou um pouco retraída pelo pedido“, explicou Eliza. “É o ápice da carreira do artista. Tudo isso cria um enorme mistério“.

A pintura foi exibida pela última vez na embaixada italiana em Lagos, a capital nigeriana, em 1975 e foi comprada pelo pai da família do norte de Londres durante uma viagem de negócios. “Eu acho que ele estava secretamente apaixonado por Tutu, ela é uma dama muito bonita“, comentou Peppiatt. Analisando a obra, o historiador da arte afirmou que se trata de um trabalho “muito audacioso, com a luz sob o queixo, que coloca o foco na cabeça“. “Como uma pintura, ela se mantém sozinho de qualquer maneira, sem nenhuma das histórias fantásticas por trás de sua produção“, acrescentou.

A obra é estimada em 347 mil dólares (aproximadamente R$ 1,13 milhão), mas Okri argumentou que o valor era mais do que financeiro. “Isso nos dá um vislumbre de uma importante reconfiguração africana da arte do retrato“, disse. “Isso vai começar um incêndio, iniciar um debate. Pintores africanos, injustamente, nunca receberam o reconhecimento que merecem. Este é o trabalho perfeito para mudarmos isso” finalizou.

AFP

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