Redação Pragmatismo
Saúde 23/Jan/2018 às 17:47 COMENTÁRIOS
Saúde

Atriz explica por que parou de bater no filho de 5 anos e é elogiada por psicóloga

Publicado em 23 Jan, 2018 às 17h47

Atriz é elogiada por psicóloga após conseguir parar de usar a força física para "educar o seu filho" de 5 anos. Pesquisadores revelam as consequências das agressões na saúde da criança e apontam o que deve ser feito ao invés de bater

bater no filho certo errado

Em uma transmissão no YouTube, a atriz Luana Piovani explicou por que deixou de bater em seu filho, Dom, de 5 anos.

“Quando o Pedro, meu marido, não está aqui, ele [Dom] fica me testando demais para chamar a atenção. E eu já contei para vocês que dou uns tapas na bunda, puxo uma orelha, pego no braço mais forte”, falou Luana.

No entanto, a atriz disse que mudou de atitude recentemente.

Ele estava vindo e eu dando tapa na bunda, chamando a atenção, educando, brigando, falando: ‘Não faz isso’. Aí acho que, no terceiro tapa, tocou um sino na minha cabeça. Eu olhei para o Dom e falei: ‘Cansei. Cansei de te dar tapa, de puxar tua orelha e você me desobedecer. Não vou bater em você nunca mais’. Subi com ele para o quarto – e ele odeia ficar sozinho -, tranquei ele lá e o deixei ali duas horas de castigo. No final, ele já estava falando: ‘Mãe, me bate’. Então eu conversei com ele e disse que agora é esse o castigo. E posso dizer? Foi a melhor coisa que eu fiz. Não quero mais bater no meu filho, não estou mais batendo no meu filho, e o castigo surtiu muito mais efeito”, contou.

Luana ainda disse que contou sobre sua mudança de atitude para sua psicóloga, que a elogiou.

Ela disse: ‘Que bom, Luana, que você parou com a violência. Porque ele pode se viciar na violência, porque é uma maneira que ele sabe que te tem, então ele pode fazer disso uma arma. Mesmo sem você entender como alguém pode te chamar a atenção apanhando, isso existe. Ele também pode criar uma relação entre violência e mulher e isso pode causar danos nefastos para ele quando crescer’. E, logo eu, que sou uma mulher que levanta a bandeira da não violência, porque sofri violência doméstica. Não vou mais bater no meu filho”, concluiu Luana, referindo-se ao caso de 2014, quando Dado Dolabella, seu então namorado, foi condenado por agredi-la.

Saúde da criança

Diversos estudos já comprovaram que nenhum tipo de agressão ajuda na educação das crianças. Pelo contrário. Pode prejudicar a saúde do seu filho a longo prazo.

Uma das mais extensas pesquisas da área foi realizada pela Universidade de Manitoba, em Winnipeg, no Canadá, quando dados de saúde pública de 34 mil adultos foram analisados.

De acordo com os cientistas, aqueles que sofreram algum tipo de agressão na infância, como tapas ou empurrões, tiveram mais chance de desenvolver obesidade (31% contra 26%), artrite (22,5% contra 20%) e doenças cardíacas (9% contra 7%) do que aqueles que foram educados sem nenhum tipo de violência.

De acordo com o pesquisador Tracie Afifi, que liderou o estudo, o resultado mostra uma associação entre a agressão e o desenvolvimento de problemas de saúde.

Para a psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo (SP), a educação não passa, em nenhum momento, pela agressão física ou verbal. “O tapa intimida, dá medo, mostra quem é o mais forte. Bater reprime, não educa. Encurta a conversa – mata a possibilidade de que o diálogo exista. Bater cala a boca da discussão e desperta a mágoa”, reflete Rita.

Quando a criança é agredida, ela se sente humilhada e não consegue relacionar o motivo da violência ao que fez para provocar aquilo. Sente medo e isso pode gerar traumas no futuro.

“O estresse causado pela agressão pode, sim, provocar angústia, baixa autoestima, depressão. E quantos estudos nós já vimos que relacionam problemas emocionais à obesidade? Consequentemente, o excesso de peso pode causar outros problemas, como as doenças cardíacas e a artrite, que são relatadas no estudo”, explica a pediatra Teresa Uras, do Hospital Samaritano (SP).

Outras consequências

E essas não são as únicas consequências que a violência física e verbal pode trazer à vida do seu filho. A criança que apanha também pode ter dificuldades para respeitar e receber ordens, já que foi controlada pela força física.

Ou seja, ela aprendeu a obedecer para não apanhar ou somente depois de levar uns tapas. Assim, na ausência do castigo físico, perde as referências de até onde pode ir.

Não é só seu filho que perde ao ser agredido. Quando você parte para agressão está reconhecendo que ficou impotente diante da atitude da criança.

Mostra claramente que perdeu o controle de si mesmo e a agressão passa a ser a única maneira de manter a autoridade. Além disso, depois de bater muitos pais se arrependem. Essa atitude contraditória não é positiva para a criança.

Existe ‘jeito certo’ para educar?

Então, qual é o jeito certo de educar? Para o psicanalista Francisco Daudt da Veiga, os castigos, quando bem aplicados, atendem ao senso de justiça que todas as crianças têm, enquanto a falta de punição, pelo contrário, as desorienta.

Para aprender, seu filho precisa entender a relação entre o que fez e a consequência. A punição deve acontecer no mesmo momento, pois as crianças têm uma visão imediatista: ainda não aprenderam a pensar a longo prazo.

Na prática, isso significa que, assim que se o seu filho jogar o brinquedo no chão durante um ataque de birra, o melhor a ser feito é tirar o objeto do seu alcance por alguns minutos.

Com o passar do tempo, ele pode ficar sem TV, sem computador e sem outras coisas de que gosta e até o seu olhar sério e quieto vai ser suficiente para fazê-lo entender que aquilo que ele fez não foi legal. Isso, sim, é educar.

Mais razões para não bater

— Pais que adotam a palmada passam a mensagem de que os problemas podem ser resolvidos na base da força física.

— Se a criança já não responde da mesma forma às palmadas, castigos físicos cada vez mais severos podem ter início.

— Quem apanha tem mais chance de se tornar um agressor.

— Nos casos mais graves, a criança pode desenvolver dificuldade de aprendizagem, postura de medo em relação aos pais e sequelas físicas.

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