Redação Pragmatismo
Mídia desonesta 24/Nov/2017 às 16:38 COMENTÁRIOS
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Estadão divulga manchete que esconde dados reveladores sobre as eleições de 2018

Publicado em 24 Nov, 2017 às 16h38

Tentativa de manipulação do 'Estadão' esconde dados reveladores. Jornal cria manchete que confunde popularidade com sondagem eleitoral

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Paulo Donizetti de Souza, RBA

Às favas a reputação. Ao tentar impor um fato novo no clima político-eleitoral a caminho de 2018, o Estadão aplicou em sua manchete uma das mais sórdidas máscaras de manipulação de sua história. A chamada “Aprovação a Huck dispara e atinge 60%, mostra pesquisa”, garrafal, induz o observador de manchetes a pensar que se trata de preferência eleitoral. A pergunta do pesquisador no entanto, vem em letras miúdas como as de uma bula: “Aprova ou desaprova a maneira como atuam no país?

1. Huck, portanto, não está sendo avaliado como potencial candidato, mas como apresentador de TV. Detalhe: ainda assim, 32% dos pesquisados o desaprovam. É possível que sua mulher, também apresentadora global, tenha desempenho melhor.

2. Lula, por sua vez, pré-candidato que já disse torcer para que a Globo tenha um candidato para carimbar-lhe a marca da emissora na testa, tem a menor taxa de desaprovação (56%) entre os políticos citados na pesquisa, e a maior taxa de aprovação (43%). Detalhe: Lula apanha todos os dias de todos os jornais, revistas e emissoras da imprensa comercial.

3. A forma de atuar no país do juiz Sérgio Moro é desaprovada por 45% dos entrevistados da Ipsos e aprovada por 50%. Detalhe: mesmo sendo elogiado e protegido todos os dias por todos os jornais, revistas e emissoras da imprensa comercial, Moro está longe de ser unanimidade e seus métodos dividem o país.

4. O banqueiro Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, candidato preferencial da Globo desde os primeiros dias de golpe e homem responsável pela delirante recuperação da economia, aparece com elevada taxa de reprovação, 70% rejeitam sua forma de atuar. Detalhe: todos os dias, todos os jornais, revistas e emissoras da imprensa comercial tentam descolar Meirelles do governo de corruptos instalado com o golpe de 2016.

5. O jeito Geraldo Alckmin (PSDB) de ser não fica muito atrás, com 67% de desaprovação. Detalhe: o governador do estado mais rico do país, governado pelas mesmas forças políticas desde 1983 e pelo mesmo partido desde 1995, é blindado todos os dias pelo Legislativo, pelo Judiciário e por todos os jornais, revistas e emissoras da imprensa comercial.

6. A segunda menor taxa de rejeição (56%), empatada com a de Lula, é de Marina Silva (Rede). Ainda assim, sua taxa de aceitação (35%) fica bem atrás. Detalhe: onde anda Marina, principalmente depois do impeachment, que apoiou?

7. O presidenciável mais atuante nas redes sociais, Jair Bolsonaro (PSC-RJ), tem 60% de reprovação e 24% de aprovação. Detalhe: sinal de que robôs e pessoas remuneradas para agir nas redes sociais ainda não respondem a pesquisas de opinião.

8. A menor taxa de aprovação (19%) é a do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), o mais exibicionista e marqueteiro dos políticos citados. Detalhe: João Doria ainda acredita que não é político, é gestor, e já está sendo forçado pelos jornais, revistas e emissoras da imprensa comercial a governar a cidade de São Paulo, algo que ainda não conseguiu em sua carreira de sucesso.

9. A “colunista” Eliane Cantanhêde, aquela que chama frequentadores de eventos do PSDB de “massa cheirosa” e que ri com intimidade ao se encontrar com Temer, diz a seus leitores que “Huck vira o novo com Doria fora”. Detalhe: embora a questão da sondagem não seja especificamente eleitoral, ela considera a “principal conclusão” da pesquisa que a sociedade busca um “nome de centro”.

10. A “colunista” Vera Magalhães assinala a assombrosa rejeição de Temer (95%) e de Aécio (93%). E atribui a boa taxa de Huck ao fato de ele se beneficiar da rejeição aos políticos. Detalhe: todos os dias, todos os jornais, revistas e emissoras operam sistematicamente para que as pessoas rejeitem a política.

Observação: O articulista José Roberto de Toledo pondera que uma melhora lenta, gradual e segura da economia pode provocar uma reviravolta nas pesquisas eleitorais quando o país estiver mais próximo das eleições. Ele está certo. Ainda que o cenário econômico seja de crise, queda na renda e na qualidade dos empregos, os indicadores tendem a melhorar. Embora bons números não sejam necessariamente sinônimo de que a vida melhorou, eles podem ajudar jornais, revistas e emissoras da imprensa comercial a criar um clima de otimismo. “Um aumento sustentável de cinco ou seis meses da confiança do consumidor teriam o potencial de diminuir o pessimismo e aumentar a esperança”, escreve Toledo. E a história, ele observa, mostra que o bolso elege e que sua memória é curta.

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