Redação Pragmatismo
Esporte 03/Ago/2017 às 22:46 COMENTÁRIOS
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Neymar, o PSG e o submundo do dinheiro e da política no esporte

Publicado em 03 Ago, 2017 às 22h46

A transferência de Neymar para o PSG revela mais uma vez que esporte e política são indissociáveis. O brasileiro nesse caso é somente mais uma marionete financeira do Catar

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Luis Henrique Rolim, Huffpost Brasil

Fim da novela. Foi confirmada a transferência de Neymar Jr. para o Paris Saint Germain (PSG) por um valor astronômico que gira em torno de R$ 820 milhões (222 milhões de euros). A ida do craque brasileiro para França é um novo recorde no mundo da bola, dobrando a antiga cifra pertencente aos ingleses do Manchester United na contratação do meio-campista francês Paul Pogba no passado.

Para aqueles que analisam o esporte dentro das quatro-linhas, os motivos da transferência seriam a predileção tática de Neymar para favorecer a estrela principal do Barcelona, o argentino Lionel Messi. Indo para Paris, o ex-jogador do Santos torna-se a principal estrela da equipe tal qual ele é na seleção brasileira. Com isso, Neymar teria mais possibilidades de ganhar a bola de ouro e se tornar protagonista na seleção de melhor do mundo da FIFA (FIFA Ballon d’Or) ao lado do português Cristiano Ronaldo e do próprio Messi.

Mas o principal sobre toda essa transação está fora dos gramados. A transferência de Neymar para o PSG revela mais uma vez que esporte e política são indissociáveis. O brasileiro nesse caso é somente mais uma marionete financeira do Catar.

Para quem não sabe, o PSG foi comprado em 2012 pela Qatar Sports Investments (QSI), uma empresa de caráter semiprivado, subsidiada pelo governo do Catar e liderada pelo ex-jogador de tênis do país, Nasser Al-Khelaifi. A aquisição do PSG é parte de uma estratégia do governo do país da região do Golfo Pérsico para exercer estratégias sutis de influência política (do inglês soft-power) no mundo e na sua região.

Para exemplificar outros casos em que o governo catari usou essa estratégia, podemos lembrar que o país foi escolhido para ser sede da Copa do Mundo de Futebol em 2022; levando o megaevento para o Oriente Médio pela primeira vez na história, apesar da chuva de críticas com relação à temperatura e questões de direitos humanos na relação com trabalhadores.

E também o próprio Barcelona já foi alvo da política de influência catari em 2010 quando as empresas semi-privadas Qatar Foundation (ramo da educação) e Qatar Airways (ramo da aviação) estamparam pela primeira vez na história do clube catalão suas marcas na camisa blaugrana – o que nos leva a pensar que a contratação de Neymar em 2013 pelo Barça já foi subsidiada pelos árabes.

O fato é que a QSI é um braço do governo árabe para investir no esporte e consolidar relações político-econômicas para o Catar, que desde junho, está diplomaticamente “bloqueado” por outros países da região do Golfo acusado de subsidiar o terrorismo – alegações não confirmadas e que na verdade estão servindo para escancarar que a política de influência do Catar é efetiva e incomoda os líderes dos países vizinhos.

Assim, a ida de Neymar ao PSG é mais uma tacada política do governo catari para se colocar no centro das atenções no mundo e reforçar a ideia de um país pacífico com intenções globais.

Certamente parte do acordo entre PSG e Neymar inclui exames médicos no centro de excelência médico-esportiva “Aspetar” e contratos comerciais com empresas do Catar. Lembrando que a empresa de telefonia catari Ooredoo e o Banco Nacional do Catar (QNB) patrocina o clube francês.

Em meio a tudo isso, está o milionário craque brasileiro que ao aceitar a proposta do PSG-Catar entra para a lista de desafetos do clube catalão por revelar mais uma vez que o clichê de “amor a camiseta” não faz parte do futebol do século 21 (principalmente quando há milhões de euros envolvidos).

Com o fim da novela nos resta esperar pelo o novo capítulo da minissérie “Neymar e o fisco espanhol“. O PSG já está sendo acusado de fazer doping financeiro e terá que justificar o injustificável: que o dinheiro para levar o camisa dez da seleção brasileira, não é fruto dos cofres do governo do Catar.

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