São Paulo

João Doria está se revelando um gestor do passado, diz Kennedy Alencar

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Para Kennedy Alencar, João Doria revelou-se, em 25 dias, um gestor do passado. Muito marketing e pouco diálogo marcam ações do prefeito de São Paulo, diz o jornalista

João Agripino da Costa Doria Junior, Prefeito da cidade de São Paulo (reprodução)

Kennedy Alencar, em seu blog

No aniversário de 463 anos de São Paulo, dá para fazer uma avaliação do início da gestão do prefeito João Doria na maior cidade do país. Em pouco mais de três semanas, Doria produziu uma série de notícias que transmite uma boa ideia do tipo de administrador que ele é.

Na campanha eleitoral, Doria fez um discurso antipolítico, enfatizando a qualidade de gestor. Nesses 25 dias de governo, o prefeito teve atitudes que apontam que ele é um gestor do passado.

Um gestor moderno ouve, dialoga e descentraliza decisões. Mas ocorreu o contrário nesses 25 dias. Houve pouco diálogo, como mostrou o episódio recente em que o prefeito decidiu apagar grafites na avenida 23 de Maio sem consulta aos artistas urbanos. Ele confundiu grafite com pichação.

Diante da má repercussão, o secretário da Cultura, André Sturm, agora fala em reunir artistas para pintar novos murais exatamente onde foi gasto dinheiro com tinta cinza para apagar grafites. Além do desperdício de dinheiro público, o açodamento revela a falta de planejamento com que foi tomada essa decisão. Isso não é boa gestão.

Hoje, as velocidades nas Marginais foram elevadas. Mais uma vez, o prefeito se recusou a ouvir a maioria dos especialistas e não levou em conta os estudos que apontaram melhoria na segurança e no fluxo do trânsito. Doria implementou uma medida que é um retrocesso.

Na largada, fez faxina numa praça que havia sido limpa na véspera. Na semana passada, andou cerca de cem metros numa cadeira de rodas para, nas palavras dele, entender o que sofrem pessoas com dificuldade de locomoção. Essa imagem cobrará do prefeito medidas concretas e urgentes, sob pena de ter feito pura demagogia em relação aos cadeirantes.

Ações de zeladoria são importantes, como também atos simbólicos nas aparições públicas do prefeito. É prudente levar em conta que a administração está no começo, mas também é preciso cuidado com a dosagem da política de pão e circo -no caso, há muito mais circo do que pão. Doria tem um excessivo pendor marqueteiro, que ameaça fazer dele uma mistura de duas figuras do passado, Janio Quadros e Fernando Collor. São Paulo, que é uma cidade complexa, com suas qualidades e problemas, merece mais no seus 463 anos.

Houve ainda um episódio com clara confusão entre público e privado. O prefeito cancelou palestra num evento programado pelo Lide, empresa da qual é sócio e fundador. Nesse evento, havia cobrança de cota de patrocínio de 50 mil que dava direito ao empresário de almoçar na mesa do prefeito.

Doria cancelou a participação. A assessoria disse que não havia impedimento ético, mas que seria melhor assim e não se falou mais disso. Saiu barato para o prefeito.

A relação entre o gestor público e empresas privadas tem limites claros estabelecidos em lei. O uso do prefeito para atrair patrocínio para um evento privado não pode ser visto como algo menor -pior ainda se ele é sócio e fundador da empresa.

Esse episódio soou como achaque a empresários, porque pode causar medo de retaliação da administração pública às suas companhias no caso de recusa de patrocínio.

Tem havido, da parte de algumas empresas, doações para ações públicas do prefeito que lembram atos de campanha.

Há todo um regulamento que trata da ocupação de espaço público pela iniciativa privada. Isso tem de ser feito com transparência e respeito à lei. Não combina com telefonema da empresa do prefeito oferecendo almoço na mesa com ele em troca de cota de patrocínio de 50 mil reais.

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