Justiça

A prisão de Mantega e o lamento sobre Marisa fazem parte do espetáculo

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Mais uma vez, é tudo em nome do show. Por que Guido Mantega não foi convocado para se apresentar ao invés de ser preso no hospital no momento em que a esposa enfrentava cirurgia contra o câncer? Que risco oferecia de fugir? A própria polícia admite que ele nunca se recusou a colaborar

Kiko Nogueira, DCM

O sadismo e a onipotência ajudam a explicar o fato de os agentes da PF irem até o hospital Albert Einstein, em São Paulo, para prender Guido Mantega na 34ª fase da Lava Jato.

O ex-ministro acompanha a mulher que se trata de câncer. A intenção era capturá-lo em casa, no bairro de Pinheiros. Lá só estava o filho dele, de 16 anos, e uma empregada. É de se imaginar o horror do qual esse rapaz jamais escapará: acordado por policiais no encalço do pai num momento já terrível.

Isso não é justiça. Isso é outra coisa. O procurador de barbicha que sempre aparece na TV disse na coletiva que, infelizmente, “coincidências como essas vão acontecer”.

Mais uma vez, é tudo em nome do show. Por que Mantega não foi convocado para se apresentar? Que risco oferecia de fugir? Nenhum. A própria polícia admite que ele nunca se recusou em colaborar quando requisitado.

É para causar impacto, também visando influir nas eleições municipais. Eike Batista, envolvido na operação, delator de Mantega, está livre e continuará livre.

O mal é um mistério. Em seu despacho acatando a denúncia contra Lula, Sérgio Moro dedicou algumas palavras a Maria Letícia, que teria contribuído para “a aparente ocultação do real proprietário do apartamento” do Edifício Solaris, no Guarujá.

“Lamenta o Juízo em especial a imputação realizada contra Marisa Letícia Lula da Silva, esposa do ex-Presidente. Muito embora haja dúvidas relevantes quanto ao seu envolvimento doloso, especificamente se sabia que os benefícios decorriam de acertos de propina no esquema criminoso da Petrobras, a sua participação específica nos fatos e a sua contribuição para a aparente ocultação do real proprietário do apartamento é suficiente por ora para justificar o recebimento da denúncia também contra ela e sem prejuízo de melhor reflexão no decorrer do processo.”

Diante da perseguição e da covardia escancaradas e crescentes, essa lamentação ganha uma falsidade épica e se transforma num bullying. Ele mesmo diz que há “dúvidas relevantes” quanto ao envolvimento doloso de Marisa. O que aconteceu com o conceito de “in dubio, pro reu”?

Em agosto, Moro devolveu a Cláudia Cruz seu passaporte, ignorando o parecer do Ministério Público Federal, que alertava para o “risco concreto” da esposa de Cunha e/ou familiares promoverem “eventual fuga e utilização de ativos secretos ainda não bloqueados”.

Cláudia e Cunha jantam diariamente nos melhores restaurantes do Rio de Janeiro e de Brasília.

Sérgio Moro foi alimentado pelas mãos que agora estão vendo que têm de lidar com o que criaram. Mesmo na GloboNews, onde ele é tratado como Jesus Cristo, estava sendo criticado. Agora é tarde e vai ser mais difícil terminar o que começou mal.

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