Redação Pragmatismo
Lula 15/Set/2016 às 14:02 COMENTÁRIOS
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Editorial da Folha reconhece fragilidade da denúncia do MPF contra Lula

Publicado em 15 Set, 2016 às 14h02

Sem provas, Ministério Público Federal do Paraná usou retórica contra Lula, diz editorial da Folha. No texto, o jornal questiona como o "comandante máximo" da "propinocracia" na última década teria levado apenas uns trocados dos desvios praticados numa estatal do porte da Petrobras

Dallagnon power point lula lava jato
(Imagem: Apresentação do ‘Power Point’ de Dallagnol

Jornal GGN

Dos três principais jornais impressos do País, a Folha de S. Paulo foi o único veículo a dedicar editorial apontando a fragilidade da denúncia que o Ministério Público Federal apresentou contra o ex-presidente Lula na quarta (14).

“Verdade que não se sabe que outras surpresas os procuradores trazem no bolso, mas, ao menos por ora, fica a impressão de que, sem conseguir apresentar evidências mais robustas contra Lula, o Ministério Público Federal tenta suprimir a lacuna com retórica”, apontou o jornal.

No texto, o jornal questiona como o “comandante máximo” da propinocracia na última década só levou uns trocados dos desvios praticados numa estatal do porte da Petrobras.

“Não que seja pouco ou perdoável, mas causa estranheza que, num esquema descrito com tantas hipérboles, a parte do comandante máximo se resuma a valores inferiores aos obtidos por figuras sem expressão política [pouco mais de R$ 3 milhões].”

Em outra passagem, o editorial diz que “a ninguém escapa, afinal, que Lula era o chefe político; daí a ser o chefe criminoso há uma distância que precisa ser superada com provas.”

Na mesma página, um artigo de Bernardo Mello Franco também critica a Lava Jato por falta de solidez na denúncia contra Lula. “(…) a força-tarefa parece não ter provas suficientes para sustentar que o ex-presidente era o líder de uma organização criminosa que usava as horas vagas para governar o País. Para bancar essa acusação, Dallagnol e seus colegas precisariam apresentar menos frases de efeito e mais evidências.” Leia abaixo:

por Bernardo Mello Franco
FOLHA DE S.PAULO

A força-tarefa de Curitiba elegeu Lula como o principal alvo da Lava Jato. A escolha já era conhecida, mas havia certo pudor em anunciá-la. Isso acabou nesta quarta (14), quando o procurador Deltan Dallagnol chamou o ex-presidente de “comandante máximo” do esquema de corrupção na Petrobras.

Em apresentação transmitida ao vivo pela TV, o procurador acusou Lula de estar no centro de uma organização criminosa destinada a “saquear os cofres públicos” e assegurar sua “perpetuação criminosa no poder”. Ele resumiu a tese com um diagrama em que todas as setas apontam para o ex-presidente.

Repetindo o nome do petista a cada frase, Dallagnol o acusou de instaurar uma “propinocracia” no país. Nas palavras dele, o ex-presidente seria o “grande general” ou o “maestro da orquestra criminosa” -as metáforas transitavam entre os campos de batalha e as salas de concerto.

Num arroubo retórico, o procurador chegou a comparar Lula a um homicida que “foge da cena do crime após matar a vítima e depois busca silenciar as testemunhas”.

Apesar da contundência verbal, a força-tarefa não denunciou o petista por organização criminosa. Ele foi acusado de receber vantagens de uma só empresa, a OAS, no total de R$ 3,7 milhões. A quantia é expressiva, mas não chega perto das somas desviadas por alguns funcionários de segundo escalão da Petrobras.

Por um lado, sobram indícios de que Lula manteve relações próximas demais com as empreiteiras do petrolão. Ele ainda não deu explicações convincentes para a generosidade das empresas, que não costumam agradar políticos por filantropia.

Por outro lado, a força-tarefa parece não ter provas suficientes para sustentar que o ex-presidente era o líder de uma organização criminosa que usava as horas vagas para governar o país. Para bancar essa acusação, Dallagnol e seus colegas precisariam apresentar menos frases de efeito e mais evidências.

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