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Corrupção 27/Set/2016 às 17:06 COMENTÁRIOS
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A Lava Jato precisa revelar quem é o "Santo" da propina em São Paulo

Publicado em 27 Set, 2016 às 17h06

Doze fases da Lava Jato se passaram entre a operação Acarajé e a Omertà, e a força-tarefa ainda não identificou quem é o "Santo" que aparece como receptor de propina da Odebrecht em duas obras que ocorreram durante as gestões do PSDB em São Paulo

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Sérgio Moro e planilha Odebrecht (Imagem: Pragmatismo Político)

Cíntia Alves, Jornal GGN

Doze fases da Lava Jato se passaram entre a operação Acarajé e a Omertà, e a força-tarefa ainda não identificou quem é o “Santo” que aparece como receptor de propina da Odebrecht em pelo menos duas obras que ocorreram durante as gestões do PSDB em São Paulo: a duplicação da rodovia Mogi-Dutra e a expansão de linhas do Metrô.

O codinome “Santo” consta na famosa planilha da Odebrecht que vazou em meados de março e, imediatamente, foi colocada sob sigilo pelo juiz federal Sergio Moro, que remeteu a parte que envolve repasses da companhia a políticos para o Supremo Tribunal Federal.

De acordo com o Estadão desta terça (27), se a Polícia Federal tivesse identificado quem é o Santo que aparece nas anotações apreendidas pela Lava Jato em posse de um dos diretores da Odebrecht, ele poderia ter sido indiciado na nova fase, chamada de Omertà – que, ao lado da fase Arquivo X, foi classificada pelo ex-presidente Lula como operação “Boca de Urna”, pois atingiram apenas o PT com os pedidos de prisão contra Antonio Palocci e Guido Mantega.

A publicação de hoje dá uma nova pista sobre Santo: ele aparece ligado a um pedido de pagamento de R$ 500 mil, em 2004, relacionado a uma “ajuda de campanha” com vistas aos “interesses locais” da Odebrecht em São Paulo.

A PF disse não ter identificado quem é Santo mesmo sabendo quem talvez poderia fazê-lo: o diretor da Odebrecht responsável pelo contrato da Linha 4 do Metrô, Marcio Pellegrini, que foi quem enviou a mensagem com o pedido de “doação” ao Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, conhecido como “departamento de propinas”.

Santo é apenas um entre vários potenciais receptores de propina sob as gestões do PSDB em São Paulo que figuram na lista da Odebrecht que está com a Lava Jato há pelo menos seis meses, a julgar pela data da primeira notícia sobre o assunto na imprensa.

Em 26 de março, a Folha de S. Paulo mostrou, com base nos documentos da Lava Jato apreendidos na fase Acarajé, que Santo era o destinatário de R$ 3,3 milhões em propina referentes a um contrato de R$ 68 milhões vencido pela Queiroz Galvão na licitação da duplicação da rodovia Mogi-Dutra.

A suspeita é de que houve cartel e favorecimento a empresas derrotadas no certame, entre elas a Odebrecht. “Padrão idêntico levou o Ministério Público Federal a apontar a formação de cartel das empreiteiras para lotear as obras da Petrobras, mediante pagamento de propina“, anotou a Folha. Mas diferentemente do que ocorreu com o caso da Petrobras, a denúncia envolvendo obras sob a gestão Alckmin não avançou.

No manuscrito apreendido pela PF, os R$ 3,3 milhões aparecem como “custos com Santo” em função da licitação. Há ainda outro trecho nos documentos, de acordo com a Folha, indicando que o pagamento a ele pela Odebrecht deveria ser de R$ 687 mil, em parcelas. A primeira parcela sairia no momento da homologação da licitação, em fevereiro de 2002. A segunda, na assinatura do contrato, e as demais, ao longo da execução da obra.

Como ainda não existe análise dos peritos sobre as anotações e o respectivo cruzamento com desembolsos do governo, não é possível afirmar se as projeções da anotação encontrada com o executivo se concretizaram.”

À época, o governo Alckmin disse que não iria tecer comentários pois se tratava de um problema da Queiroz Galvão. Hoje, com o indício de propina na obra do Metrô, diz que não mantém esse tipo de relação com empreiteiras.

Quando a planilha da Odebrecht vazou, Dilma Rousseff ainda não havia sido afastada da presidência em caráter definitivo. Somente quando a primeira decisão do Senado sobre o impeachment saiu, em maio passado, é que Michel Temer assumiu o cargo e indicou para o Ministério da Justiça o então secretário de segurança pública de São Paulo, Alexandre de Moraes.

Leia também:
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Uma das primeiras ações de Moraes foi visitar a Lava Jato em Curitiba. Essa semana, ele se envolveu em polêmica ao antecipar a prisão de Antonio Palocci pela Lava Jato. Quem fez o pedido de prisão foi a PF.

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