Nicolas Chernavsky
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Política 16/Fev/2016 às 16:42 COMENTÁRIOS
Política

Bernie mostra que política se faz nas urnas, não no Judiciário

Nicolas Chernavsky Nicolas Chernavsky
Publicado em 16 Fev, 2016 às 16h42

O exemplo de Bernie Sanders mostra que a democracia precisa de eleições livres, onde é o povo nas urnas, e não o Judiciário, que decide quem deve ter o poder político; a atuação das autoridades eleitorais deve ser apenas para manter a democracia, não para cerceá-la, como parece ser o objetivo do conservadorismo em relação a Lula

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Nicolas Chernavsky*

A emergência quase repentina de Bernie Sanders, um evidente progressista, com chances concretas e cada vez maiores de ser o próximo presidente do EUA através do voto popular, deixa clara a força da democracia. Devemos defendê-la com todas as forças, e lembrar que uma de suas bases é que haja a maior liberdade possível para que as pessoas se apresentem ao povo como candidatas. Senão, a entidade que decidiria quem pode ou não ser candidato(a) seria quem majoritariamente escolheria os(as) líderes políticos(as). Claro que autoridades eleitorais são necessárias, e é compreensível que por alguma razão algum(a) candidato(a) não possa levar adiante sua candidatura. Mas o que está acontecendo com Lula, em que todo mundo, diria quase sem exceção, sabe que há uma tentativa dos seus adversários políticos de impedir sua candidatura em 2018 através do Judiciário, é claramente um cerceamento da democracia brasileira.

Se as autoridades eleitorais brasileiras sucumbirem a esse enorme cerceamento da democracia brasileira que seria a retirada forçada de Lula das eleições de 2018 por uma condenação (ou prisão preventiva) sem provas, o Brasil estaria rumo a se tornar um país com uma democracia de baixíssima qualidade, e se isso se repetisse em larga escala, o Brasil, com todas as letras, deixaria de ser uma democracia, mesmo mantendo a realização de eleições.

Querem um exemplo? O Irã. Há eleições no Irã. Os votos parecem ser bem contados, sem fraude considerável, os candidatos podem fazer discursos públicos, em uma campanha semelhante a muitos países democráticos. Mas o Irã é uma democracia? Não. Por que não? Porque as autoridades eleitorais do Irã escolhem a dedo, entre umas 1000 pessoas que se inscrevem, algo entre 5 ou 10 pra disputar as tais eleições presidenciais. Então, não adianta o Irã fazer eleições com, vamos dizer, 8 candidatos, com debates, campanha aberta, competitiva, etc. e tal, se foram as autoridades eleitorais que pinçaram quem pode ou não concorrer. O exemplo mais evidente ocorreu nas últimas eleições presidenciais. O presidente Mahmoud Ahmadinejad, após dois mandatos seguidos e com considerável força política junto ao povo, apresentou um ministro seu, Esfandiar Rahim Mashaei, como o candidato presidencial que contava com seu apoio. Mashaei foi uma das cerca de 1000 pessoas que se inscreveram para serem candidatas a presidente. Ele não era um candidato qualquer, tinha o apoio do presidente! Como poderia não estar na cédula eleitoral? Pois bem. As autoridades eleitorais escolheram 8 candidatos, sendo que Mashaei não esteve entre eles. Assim, o Irã não é uma democracia porque as autoridades eleitorais têm demasiado poder sobre quem pode ou não ser candidato(a).

No Brasil, o conservadorismo resolveu trilhar por esse caminho, já que não consegue há quatro eleições vencer a presidência nas urnas e acha que provavelmente perderá para Lula mais uma ou duas eleições, e nem sabe se depois o Haddad vai suceder o Lula e talvez deixar o progressismo na presidência os mesmos 38 anos que o conservadorismo ficou antes de 2003 (1964-2002).

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Assim como nos EUA Bernie Sanders surgiu com a força do povo, temos que cuidar da nossa democracia para que possam surgir no Brasil candidatos(as) levados(as) pelo livre voto popular ao poder político. Defender Lula de perseguição política no Judiciário não significa votar em Lula, mas defender todos(as) os(as) futuros(as) candidatos(as) que chegarão ao poder com a força do voto popular livre. E nunca devemos esquecer: independentemente do que o Judiciário fizer com Lula, teremos as eleições de 2016 e 2018 para dar a resposta nas urnas, se for necessária. Não se esqueçam disso, pois de uma forma ou de outra, o progressismo pode fazer história nos próximos ciclos eleitorais. Depende do povo, que é infinitamente mais forte que Lula.

*Nicolas Chernavsky é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), editor do CulturaPolítica.info e colaborador do Pragmatismo Político

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