Agredir a esposa é 'coisa de casal'?
Agredir a esposa é coisa de casal? Essa foi a justificativa do deputado licenciado Pedro Paulo Carvalho, Secretário de Governo do Município do Rio de Janeiro, após a divulgação de um laudo de exame de corpo delito que comprova que a sua esposa foi usada como saco de pancadas. Documento descreve que mulher foi jogada contra a parede e o chão, teve o pescoço agarrado e tomou socos e chutes
A Procuradoria-Geral da República (PGR) está analisando o caso do secretário executivo de Governo da prefeitura do Rio de Janeiro, Pedro Paulo Carvalho. Deputado federal licenciado pelo PMDB, ele é acusado de agredir sua ex-mulher Alexandra Marcondes, de acordo com duas ocorrências registradas por ela, em 2008 e 2010.
O Ministério Público do Rio já enviou para a PGR, em Brasília, os autos do inquérito sobre a briga envolvendo Pedro Paulo e a ex-mulher. Isso foi necessário porque Pedro Paulo é deputado e, portanto, tem foro privilegiado. Desse modo, só pode ser processado pelo Supremo Tribunal Federal a pedido da PGR.
Os investigadores estão com o caso em mãos. O objetivo é ter uma conclusão ainda no início de 2016. Com isso, a PGR solicitará a abertura de inquérito ou arquivamento ao STF. Como envolve a agressão a uma mulher, Pedro Paulo pode ser enquadrado na Lei Maria da Penha, cuja punição é de um a três anos de prisão.
Revelações
A história só veio à tona em 2015 após o lançamento da pré-candidatura de Pedro Paulo à sucessão do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). Foram reveladas duas ocorrências registradas pela ex-mulher Alexandra Marcondes. Em duas entrevistas coletivas, Pedro Paulo admitiu que bateu na mulher e mostrou não ter a menor dificuldade para justificar seus atos monstruosos.
“Quem é que não tem uma briga dentro de casa? Quem é que não tem um descontrole? Quem é que não exagera numa discussão? Nós somos um casal como qualquer outro. Às vezes exagera, fala coisas que não deve. Agora, não achar que isso possa ser uma coisa normal na nossa vida?”, disse Pedro Paulo.
As declarações foram feitas após a divulgação de um laudo de exame de corpo delito que comprova que Alexandra foi usada como saco de pancadas em 2010. O laudo descreve que Alexandra foi jogada contra a parede e o chão, teve o pescoço agarrado e tomou socos e chutes.
Quando tratou do assunto pela primeira vez, ele chegou a dizer que havia sido “um episódio isolado”. Dias depois, no entanto, foi revelada mais uma agressão, ocorrida em 2008, em São Paulo. Essa segunda agressão também foi registrada por Alexandra à Polícia. Em seguida, Pedro Paulo convocou mais uma entrevista coletiva para se explicar e levou a mulher para apoiá-lo.
Em um boletim de ocorrência há também o registro de que Pedro Paulo ameaçava sumir com a filha do casal, de apenas quatro anos de idade. “Diariamente liga para a declarante (Alexandra) e para a mãe da mesma, dizendo que vai tirar a guarda da criança e que vai sumir com ela”, diz o documento.
Violência contra a mulher
De acordo como Mapa da Violência 2015, 4.762 mulheres foram assassinadas no País em 2013. E 4 em cada 10 dessas mulheres foram assassinadas por companheiros ou ex-companheiros.
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal do Rio de Janeiro já pediu o afastamento de Pedro Paulo.
“Quando se comete um ato de violência contra a mulher, quando se agride uma criança ou quando se comete um crime de ódio, de racismo ou homofóbico, toda a sociedade é atingida. Somos todos vítimas! Nesse contexto, um homem público, um secretário de governo, um deputado federal, ao tratar dessa questão, precisa dar o exemplo. Não pode tratar como uma questão menor. Não pode particularizar o crime praticado. Não assumir sua responsabilidade é prestar um desserviço à democracia brasileira”, diz trecho de nota divulgada pela Comissão.
Eduardo Paes
Até então, Eduardo Paes mantém apoio ao nome de Pedro Paulo para sucedê-lo. Além de amigo, o secretário é seu principal braço direito na prefeitura carioca.
“Chance zero de ele não ser candidato! Pedro Paulo é candidato e vai vencer as eleições”, afirmou o prefeito em entrevista à revista Época no ano passado. “Nunca me importei com a vida pessoal e familiar de ninguém”, concluiu.
com informações da revista Época