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Mídia desonesta 31/Mar/2015 às 11:33 COMENTÁRIOS
Mídia desonesta

G1 vê diferenças entre apanhados com drogas

Publicado em 31 Mar, 2015 às 11h33

G1 divide o universo dos apanhados com drogas. Por que jovens de classe média flagrados com 300 quilos de maconha não são considerados traficantes?

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Títulos do G1 para se referir a pessoas apanhadas com drogas (Imagem: JornalismoB)

Uma imagem divulgada no Facebook pela página JornalismoB retrata como a mídia tradicional reforça, cotidianamente, preconceitos e estereótipos através de suas abordagens pouco honestas.

Para o portal G1, site de notícias da Rede Globo, um grupo preso com 300 quilos de maconha no bairro da tijuca, Rio de Janeiro, no último dia 27, merece ser chamado de ‘jovens de classe média’. Uma semana antes, o mesmo portal identificou como ‘traficante’ um homem preso em um bairro periférico da cidade Fortaleza-CE com 10 quilos de maconha.

Na lógica do referido veículo de comunicação, portar 300 quilos de maconha não configura tráfico de drogas – ao menos no título da notícia – desde que você seja branco, rico ou de classe média. Foi assim que o caso do helicóptero dos Perrella, de Minas Gerais, flagrado com 450 quilos de pasta base de cocaína sumiu do noticiário e nunca foi encarado com a seriedade necessária.

Durante o incidente do Rio de Janeiro foram também apreendidos com os traficantes duas pistolas e quatro carregadores, mas a informação foi omitida da chamada da matéria e só é possível lê-la dentro do conteúdo. No caso de Fortaleza, por sua vez, o portal destacou que o traficante preso portava uma pistola 380.

Ao se deparar com as distintas abordagens do G1, a historiadora Conceição Oliveira questionou, em seu blog, o senso de justiça e de moralidade seletivos dos ‘defensores dos bons costumes’. “[a expressão] bandido bom é bandido morto vale pra ‘jovens de classe média carioca com 300 kg de maconha ou a pena de morte é apenas para o bandido pobre e possivelmente negro que carrega 30 vezes menos a quantidade de maconha que os ‘jovens de classe média’?”

Como disse a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, em texto publicado no The New York Times, o Brasil ainda vive um processo de negação que é reforçado pelos grandes veículos de imprensa. E assim continuaremos enquanto minimizarmos os preconceitos e isentarmos de responsabilidade uma mídia que, até em pequenos detalhes, dissemina segregação.

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