O que encontraram os gays quando saíram do armário?
Você já parou para pensar por que você acha que homem com homem é uma coisa meio esquisita? Que homem usando saia é pra lá de estranho? E de onde vem sua certeza de que homem tem que ter cabelo curto e mulher, cabelo comprido?
Comecei esse texto pensando em falar de homossexualidade, mas percebi o quanto nos cobramos e nos policiamos se estamos ou não adequados à uma normalidade que é comentadíssima em qualquer esquina, daí me perguntei: da onde vêm os valores que fazem com que nos culpemos tanto por aquilo que queremos ser?
Lembrei que a sociedade é formada por indivíduos e instituições sociais, e que, dentre as muitas instituições sociais existentes, nenhuma delas interfere tão fortemente na vida dos indivíduos quanto a religião. E não só na vida de quem escolheu ter uma, mas na vida de todo o resto da sociedade, em especial na vida de quem está bem tranquilo jogando fora as chaves do armário de que acabou de sair (e por “sair do armário” eu quero dizer todos aqueles que querem ser o que são de verdade).
Existem crenças diferentes, sotaques diferentes, pratos de comida diferentes, métodos de ensino diferentes, cores de esmalte diferentes, modos de governar diferentes, impostos e contas diferentes, profissões diferentes, formas de se ganhar dinheiro diferentes e formas de se gastar dinheiro diferentes. Existe o candidato que escolhemos por vontade da maioria, e existe o corte de cabelo que você escolheu porque achou melhor pra você. E isso é um problema só seu.
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As instituições sociais, no caso, são entidades que desempenham funções específicas dentro de uma sociedade, como a escola, a religião, a política. Cada uma com uma função distinta. E a da religião – ou das religiões, ou da Igreja, como você preferir – simplesmente não é governar. Se na Idade Média ela determinava os livros que você podia ler e os hábitos que você podia ter, no século em que estamos ela apenas sugere, àqueles que fizeram a opção de seguir os ensinamentos de um deus tal, uma conduta considerada adequada por ela.
Mas você já parou para pensar por que você acha que homem com homem é uma coisa meio esquisita? Que homem usando saia é pra lá de estranho? E mulher com mulher então? E de onde vem sua certeza de que homem tem que ter cabelo curto e mulher, cabelo comprido? Dava pra fazer uma lista de coisas que você acha estranho e não sabe por quê. Assim como dava pra entrar numa questão toda profunda sobre gênero e sexualidade mas podemos falar sobre essas questões em outra oportunidade.
Para Vicente Darde (2008), “a cultura enraizada em nossa sociedade está tão intimamente ligada aos ensinamentos da Igreja, que eleva-se a homossexualidade à categoria de ‘pecado’ e prática ‘anti-natural’.” Darde é mais radical ao dizer que “a influência dos católicos e dos protestantes na visão da sociedade determinou que esta desenvolvesse uma homofobia, ou seja, uma aversão à homossexualidade”.
Ainda que a temática venha sendo abordada mais frequentemente pela mídia, nem sempre o debate promovido foge do senso comum, ou da a heteronormatividade, visão na qual o gay ainda é apresentado como um elemento estranho a uma normalidade. E se eu gosto de outra mulher, eu faço o quê? Me sinto mal? Me sentir mal por quem? Pra quem eu devo pedir perdão por ser o que eu sou?
E os gays não são os únicos atores nesse palco do Santo Ofício, não. De uma lista toda de coisas que eu posso por em um livro de proibições, se você fuma maconha, você ainda é o melhorzinho. Por mais que a evolução da história do homem mostre que muitos preconceitos surgiram pelo próprio cenário cultural de cada época (como a escravidão e marginalização do negro lá atrás), a religião contribui e muito, desde seu surgimento, para definir o que é certo e o que é errado na sociedade.
Ao lado de assuntos polêmicos como aborto, maconha e feminismo, a homossexualidade já passou da hora de ser vista como uma questão intrínseca e indissociável do indivíduo. Assuntos como esse nada têm que ser submetidos ao aval das religiões, sequer de governos que impeçam cada um de ter direitos sobre si próprio.
Esses assuntos são olhados com tanto estranhamento por qualquer cidadão desavisado que está andando pela rua, que, quando reunidos com os outros assuntos “polêmicos”, parecem um monte de aberrações e que, na verdade, nada mais são do que as liberdades individuais. São direitos do indivíduo sobre ele mesmo. E, não sei dizer pra quem, mas deve ser muito perigoso que nós saibamos que temos liberdades como sobre nossa própria vida.
Liberdade de escolha, de pensamento, de expressão e de explosão.
Preste mais atenção e veja se você não está abrindo mão de algo que só diz respeito a você mesmo.