Mulher anoréxica atinge 24kg e família pede ajuda
Mulher com anorexia nervosa chega a pesar 24kg e família pede ajuda. "Tinha vergonha do espelho", diz. Aos 34 anos, ex-gerente de restaurante sofre com grave crise de disfunção alimentar
A ex-gerente de restaurante Aline Alves da Silveira Costa, de 34 anos, diagnosticada com anorexia nervosa, luta pela segunda vez para vencer a doença e se afastar do iminente perigo da morte. O transtorno alimentar leva ao medo exagerado de engordar e à consequente perda excessiva de peso. Com apenas 24 kg, ela tem menos da metade do peso ideal para uma mulher com sua idade e altura – 1,56 m.
Aline está internada na Santa Casa de Piratininga, município vizinho a Bauru, no interior de São Paulo, onde ela mora com a filha. Ela e a família esperam ajuda para pagar uma clínica, onde ela possa se recuperar após a fase mais crítica do tratamento, e os remédios, que não são baratos.
Aline descobriu o transtorno aos 13 anos de idade, quando enfrentou a primeira crise. Acima do peso, ela sofria bulling por parte dos colegas de escola que a consideravam gorda para idade. Então na adolescência, ela deixou de comer e começou a perder peso de forma rápida. Sua mãe, Terezinha Alves da Silveira Costa, conta que na época o transtorno ainda era pouco conhecido, o tratamento foi bastante longo e a recuperação, complicada. “Foram quatro anos de sofrimento com a Aline naquele estado”, conta.
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A recaída da filha, anos mais tarde, a mãe credita à perda do emprego. “Dos 17 até os 31 anos, ela viveu bem, casou, teve uma filha, mas foi em 2010, quando o restaurante em que ela trabalhava fechou e ela foi dispensada, que os sintomas voltaram”, explica. Aline deixou de se alimentar e começou a perder peso. No último ano, passou a se alimentar apenas com água e isotônicos, o que agravou a situação.
A filha de Aline, que tem apenas 12 anos, foi quem passou a cuidar da mãe. “Diversas vezes desmaiei, tive crises e minha filha que, graças a Deus, tem uma cabeça muito boa, foi quem me salvou”, conta.
Se alimentando por sonda e ainda em pequenas porções, várias vezes ao dia, a recuperação de Aline é lenta, como conta sua médica, a psiquiatra Vanessa Romera Gimenes. Mas ela já começou a ganhar peso – no momento, está com 27 quilos.
A psiquiatra conta que tomou conhecimento do caso de Aline por meio de uma paciente, que é prima da jovem. “Ela me mostrou uma foto e naquele momento eu tive a certeza que o tratamento deveria ser imediato, já que ela corria risco de morte”, afirma.
A médica conseguiu um leito para Aline em Piratininga depois de a família ter tido vários pedidos de tratamento e internação negados em Bauru. Ao entrar no hospital, o IMC (Índice de Massa Corporal) de Aline era de apenas 11, bem abaixo do mínimo recomendado, que é de 18,5.
Apesar de estar bastante debilitada, Aline garante que quer vencer novamente o transtorno e espera que o tratamento seja o início uma vida nova. Sua mãe, que veio do interior do Rio de Janeiro para cuidar dela, acredita que foi o apoio da neta que fez com que ela resistisse até o momento. “Vou ser um exemplo de superação para a minha filha, para todos os outros que me julgavam como incapaz e para as pessoas sofrem do mesmo transtorno. Eu sei que se cheguei até aqui é porque vou conseguir”, desabafa.
Tratamento multidisciplinar
A psiquiatra explica que os primeiros exames de Aline mostram que o organismo dela está no limite. “Ao mesmo tempo em que decidi ajudá-la, busquei o apoio de outros profissionais que sei que serão necessários para a recuperação total da paciente”, conta. Ela conseguiu o apoio da nutricionista Marcela Gomes, especializada nesse tipo de atendimento, e da psicóloga Cristiane Lambertine, e ambas se prontificaram a cuidar da paciente sem cobrar nada pelo tratamento.
“Estamos numa fase complicada do transtorno, na qual os sintomas são agudos e precisam ser contornados, mas a Aline vai precisar ser perseverante no tratamento se quiser se recuperar de uma vez por todas”, avisa a nutricionista. Ela conta que tem outros pacientes em tratamento, alguns há seis ou sete anos, e que eles se mantêm vigilantes quanto ao retorno dos sintomas. “Eles comemoram quando conseguem ir a uma pizzaria ou a uma churrascaria, voltar pra casa e não buscar uma compensação como forçar o vômito do alimento consumido”, explica a nutricionista.
Aline diz que quando se recuperar vai voltar a estudar e se formar em nutrição. “Sei que vou ficar boa; meu medo era morrer e deixar minha filha. Eu estava no fundo do poço, mas se cheguei até aqui sei que tenho uma vida inteira pela frente e vou aproveitar”, afirma.
Nos últimos dias, Aline conta que chegou a ser confundida com uma pessoa com HIV, por estar muito magra, por isso andava sempre com agasalho para esconder o corpo mesmo sob o forte calor dos últimos meses registrados em Bauru.
Transtorno mortal
A anorexia nervosa é o transtorno psiquiátrico mais mortal de que se tem registro: 20% das pacientes não sobrevivem. Mas os números não assustam mais Aline, que quer se tornar um exemplo. Terezinha sabe que a filha não poderá ficar por muito tempo na Santa Casa já que o atendimento é pelo SUS. “Queria a internação dela numa clínica onde as médicas que se ofereceram para cuidar da minha filha pudessem assisti-la, e onde ela pudesse ter a filha por perto”, pede.
Para a psiquiatra, o principal obstáculo para a recuperação de Aline não será um leito de hospital – já que após o contorno da fase aguda do transtorno ela poderá ser assistida em casa – mas o custo dos remédios. “Infelizmente os medicamentos de uso psiquiátrico no Brasil ainda possuem um alto custo, e as vitaminas e os alimentos que ela vai precisar consumir também”, afirma.
Wagner Carvalho, UOL-Bauru